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Sessão de 30 de Janeiro de 1924

por ocasião do funeral do grande poeta Guerra Junqueiro,. em que toda a assistência foi obrigada a esperar largo tempo que se decidisse onde é que haviam de ser colocados os gloriosos restos mortais.

Isto é que não pode repetir-se amanhã.

Sr. Presidente: para obviar a esse inr conveniente tinha apresentado um projecto de lei que estava pendente da Secção e que se hoje fosse votado daria excelente remédio a todas as objecções apresentadas, porque sem sair do templo dos Jerónimos temos meio de dar jazida condigna aos restos mortais de Teófilo Braga. Kefiro-me ao claustro do convento. Ficando ali ficam muito bem, porque ó um monumento arquitectónico dos mais belos que há no mundo e as objecções muito justificadas que foram apresentadas pelos Srs. Herculano Galhardo e Dias de Andrade desaparecem, o mesmo se podia fazer a Guerra Junqueiro.

Se algum dos grandes homens que ali sejam enterrados tiver sentimentos católicos nada se opõe que se lhe juntem as insígnias, os emblemas que representam essa crença que todos nós devemos respeitar.

Portanto, parece-me que esta solução prevê, dá remédio aos inconvenientes apresentados, mas o que é preciso é que uma decisão firme esteja tomada, para que amanhã'se saiba para .onde vão os restos mortais de Teófilo Braga.

O Sr. Querubim Guimarães:—Sr. Presidente: tenho também de intervir no assunto em nome deste lado da Câmara e fáço-o com muita prudência, com muito cuidado, visto o melindre da minha situação.

Trata-s e de um homem que foi alguém nesta terra, de um homem que se notabilizou numa determinada, época do país.

Trabalhador infatigável e espírito invulgar, Teófilo Braga legou à Nação uma obra notável. .. • :

Isso me faz curvar respeitosamente perante o seu cadáver.' .

Devo também por coerência associar-me aos protestos que aqui já foram apresentados pelos vários lados da Câmara, e dt-go por coerência, por que fui eu quem primeiramente levantou a voz nesta casa do Parlamento e ergueu o seu protesto contra o facto de se depositarem os res-

tos mortais de Guerra Junqueira — gran de glória nacional, não só da raça portuguesa, como até da raça latina— na Casa do Capítulo, junto do túmulo de Herculano, quando . por disposição da lei, cm face de um pacto contratual, firmado entre o Governo e a comissão encarregada de erigir esse monumento, só os despojos materiais do grande historiador ali podem repousar.

Infringiu-se a lei e nem por isso se deu a Guerra Junqueiro aquele condigno lugar, para repouso dos seus restos mortais, que ele merece, atendendo ao seu extraordinário espírito.

Não pode,ser. .

Sr. Presidente: além disso tenho também o dever como católico, dever de consciência, respeitável portanto, de protestar contra esse facto> visto não ser um templo o melhor lugar para última morada de um livre.pensador e ateu.

Esse meu dever alia-se àquele que me impõe o respeitar as convicções alheias ou a falta de crença dos outros.

Eespeitamos melhor a memória de Teófilo Braga não :o levando .para os Jerónimos.

• Disse há pouco o Sr..Dias de Andrade, e muito bem, que se porventura fosse interrogado em vida Teófilo Braga, sobre a .circunstância de um dia poderem ir os •seus restos mortais para o templo dos Jerónimos, certamente as duas qualidades preponderantes no espírito de Teófilo Braga se ergueriam protestando . veementemente: a sua consciência de livre pensador (porque isso ó sem dúvida nenhuma uma ofensa às suas convicções), e a sua •modéstia, a grandíssima modéstia que ele revelou sempre. em toda a sua vida (mas essa tínhamos que a pôr de parte porque os homens quando atingem certas culmi-•nâncias não pertencem a si próprios) pertencem à Nação.- .

Nós todos temos obrigação de respeitar a sua consciência e não o devemos levar para um templo católico, não tendo sido ele nunca um católico, e, pelo contrário, .tendo feito apontar sempre as suas críticas, por vezes muito severas e injustas e sempre muito lamentáveis, contra a igreja.