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Diário das Sessões do Senado

Estamos a continuar assim, transformando o templo dos Jerónimos num panteão nacional, e isso não foi ainda imposto por lei.

Há uma lei que determina que o panteão nacional seja noutra parte.

Se ate hoje não se conseguiu realizar •essa obra, a culpa é de todos aqueles que deviam contribuir com um pouco -do seu esforço e interesse para acabar esse monumento, trasladando-se então para lá os restos mortais desses portugueses ilustres.

Guerra Junqueiro está nos Jerónirnos ilegalmente, mas não indevidamente.

Foi um tremendo fnndibulário contra a igreja, também, mas morreu arrependendo-se do mal que fizera.

Levando o seu corpo para o formoso templo do Belém não sentiu repugnância alguma o meu espírito de católico, porque Guerra Jnnqueiro, antes de para lá ir e antes de vir para o Congresso da República, esteve num templo de Lisboa.

Com Teófilo Braga não sucedeu outro tanto.

Manteve-se sempre até ao fim inalterà-velmente o mesmo, sem crenças religiosas e, pelo conirário, afirmando-me sempre contrário a elas.

Nestas condiçSes, Sr. Presidente, Teófilo Braga não está bem no templo dos Jerónimos.

Isso é uma falta de respeito pela sua memória, e uma ofensa à consciência católica do país.

Sr. Presidente: £ porque é que ainda até hoje não se edificou esse Panteão Nacional.

Diz-se a cada passo que as obras de Santa Engrácia são intermináveis, e até a propósito de qualquer cousa que não tenha fim já se costuma dizer: é como as obras de Santa Engrácia.

Pois, Sr. Presidente, permita-me V. Ex.a esta divagação: é lamentável que não se consiga realizar essa obra, e que onde deve erguer-se o panteão nacional esteja uma oficina de sapateiro, prejudicando e amesquinhando um lugar que drvia ser respeitado, justamente por haver sido escolhido para receber de futuro as glórias nacionais.

Eu não sei que circunstâncias de favor permitam um tal estado de cousas f não levem o Governo a retirar dali essa oficina

e contribuir com um pequeno esforço para encetar essas obras do panteão.

; Tanto dinheiro que se tem mal gasto neste país, tanto desperdício, e até hoje, em 13 anos de República, não se conseguiram colocar os primeiros alicerces desse edifício!

Se tal se tivesse feito, não havia estes protestos, e não estava o país inteiro assistindo ao espectáculo doloroso de estarmos neste momento discutindo tal assento com o corpo de Teófilo Braga, em câmara ardente, nesta casa.

Sr. Presidente: curvo-me respeitosamente perante a memória de Teófilo Braga, curvo-me respeitosamente perante o seu espírito, 6 desejaria que fosse escolhido um lugar condigno do seu alto valor e da sua mentalidade, que não o templo dos Jerónimos, para onde o levaram, arrumando-o a um canto, como já se fez a Junqueiro, profanando-se assim aquele lugar e profanando-se também a memória respeitável do homenageado.

Como disse o Sr. Herculano Galhardo, colocam-se a um canto da Casa do Capítulo esses homens para que os estrangeiros, ao visitarem a formosa capela e ao verem aí aqueles caixões, preguntem quem são e lhe respondam: «esses homens são os grandes portugueses Guerra Junqueiro e Teófilo Braga».

Francamente, Sr. Presidente, isto ó desolador e vergonhoso para nós.

Associo-me, pois, a todos estes protestos e 'faço votos porque haja por parte do Governo uma feliz inspiração que o leve a resolver o problema e a evitar da melhor maneira situações críticas.

A proposta que -apresentou o Sr. Augusto de Vasconcelos é aceitável, que em-quanto se não erigir um panteão nacional., os restos mortais dos nossos grandes homens fiquem nos claustros dos Jerónimos.

É um lugar condigno e não se ofenderá ninguém com isso.

Tenho dito.

O orador não reviu,

O Sr. Ramos da Cosia:—À proposta que o Governo apresenta dou o meu voto, porque na situação actual não lho posso negar.