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Sessão de 22 de Fevereiro de 1924

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nome e foi esse o único motivo por que pedi a palavra.

Tenho de responder a S. Ex.a

Não estou aqui na qualidade de representante do Ministério Público nem S. Ex.a é o advogado de defesa da causa, posto que, se o fosse, não fizesse discurso mais brilhante do que fez.

Disse S. Ex.a, e ó verdade, que os Ministros se vêem às vezes numa situação embaraçosa e por serem procurados por indivíduos que estão mima situação precária.

Também tenho coração, Sr. Presidente.

O Sr. Gregório José da Cunha é uma pessoa que, pela família, me merece toda a estima pessoal.-

Tenho imensa pena de ter estado no porto do Lisboa tendo, sucedido esse percalço a este senhor. É sobrinho do Sr. Augusto José da Ganha, pessoa muito estimada. Mas, Sr. Presidente, os homens públicos não se fizer am^ para ter pena.

Eu já tive também a* desgraça de passar por essas cadeiras.

Estive nesse lugar quando uma lei cruel, à qual não estou ligado por responsabilidade alguma, tam cruel que mais tarde teve de ser revogada em algumas •das suas disposições, me obrigava a miíh, Ministro, a demitir um desgraçado, também cheio de família.

Fui por três ou quatro vezes como que intimado, por pessoa competente, a que cumprisse a lei. Não o "demiti, Sr. Presidente e Sr. Ministro; desobedeci à lei. E não me arrependo de o ter feito.

Também tenho coração, repito, e não tenho nenhuma espécie de má vontade contra as pessoas envolvidas no caso.

Outro envolvido é j>arente próximo duma pessoa que me era muito querida.

Tenho também grande pesar que outro nome envolvido seja ligado a uma das pessoas que mais estimo na vida. Vê, portanto, S. Ex.a que não entro neste debate por crueldade, antes entro muito a meu pesar. Mas, Sr. Presidente, há um facto que não pode negar-se: é que dos cofres do porto de Lisboa desapareceram 86 contos, segundo diz o processo.

Há neste caso dois criminosos que ainda não estão julgados.

O Orador: — Não é possivelmente. Eles confessaram.

O Sr. Herculano Galhardo:—É o porto de Lisboa uma mina inesgotável com casos interessantes.

Mas não insistamos.

Desde que o Supremo Tribunal glorifica um funcionário mesmo zeloso como o chefe da contabilidade, eu também o glorifico.

Eespeitemos essas decisões, porque sem respeito pelas leis e tribunais não há ordem.

Esses homens eram inimigos?

Não o disse, mas eram maus funcionários.

Não seriam eles que receberam dinheiro, o tesoureiro até o entregou.

V. Ex.a está muito longe da questão, assim como o Supremo Tribunal Administrativo.

Desapareceram 86 contos. Uma administração apanha os directos responsáveis.

Há uma sindicância.-

O sindicante instala-se a trabalhar numa completa independência e ouve-me a mim, como a outras pessoas.

E, se V. Ex.a leu o processo, notou com toda a certeza que o meu depoimento foi feito de forma a não enterrar a parte, como. se costuma dizer; pus nele todo o cuida'do para não ir além daquilo que é lícito a uma pessoa de bem afirmar, para que eles não fossem tocados na sua honorabilidade pessoal, afirmando contudo, e tinha esse direito, que eles eram maus empregados, não podiam servir bem a República, isto sem olhar a cores políticas, que para aqui não tinham nada que ver. •

Depois foi o processo com o parecer do conselho de administração", — que concordava inteiramente com as conclusões do juiz sindicante— para o Sr. Ministro.

Nessa cadeira estava também um republicano, tam republicano como V. Ex.a, tam republicano como nós, tam conhecedor das cousas públicas como V. Ex.a, e que julgou dever concordar com o que dizia o juiz sindicante.