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Sessão de 2 de Abril de 1924

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plica & qualidade dos materiais nem dos vigamentos, não se explica como essa construção vai ser feita.

Acontece que sendo esses desenhos elaborados por simples desenhadores, sem outra competência técnica, firmados por qualquer construtor civil habilitado, que, podendo ter realmente habilitações e a necessária preparação técnica, pode também não estar habilitado a escolher os bons operários de que necessita para seus colaboradores.

Assim dá se o facto normal e corrente em Lisboa na generalidade de provir o construtor civil diplomado, por ter sido submetido a um exame, ou ter sido apoiado por um certificado qualquer dum engenheiro civil reconhecendo-lhe uma certa competência, de um dos dois grandes grupos de construção :—pedreiros ou cífr-pinteiros.

Posso dizer, sem receio de errar: quando o mestre de obras sai dos carpinteiros, são em geral admiráveis os operários desse ofício que emprega embora os dos outros ofícioi utilizados na construção deixem a desejar. E não é menos verdade que quando o mestre de obras — assim chamam aos construtores civis— sai da classe dos pedreiros, o pessoal de pedreiros é óptimo, mas os carpinteiros não prestam, os estucadores deixam a desejar, e não há comparação na competência nem com os de outros ofícios, nem mesmo entre operários do mesmo ofício.

A Câmara pela sua repartição técnica analisa o projecto, e verifica se a altura total do prédio está em função da largura da rua, se as distâncias entre os pavimentos sãos as da tabela, se as retretes estão sobre os saguões, o que dá à cidade o lindo aspecto, horrible détail, que todos nós conhecemos quando vista por detrás.

Dá-se também este facto curioso: estando nós num país de pedra abundante, que se poderia chamar o país da pedra, são raras as escadas de pedra nos prédios e quási não existem.

A Câmara deveria impor que as escadas fossem construídas de materiais incombustíveis e isoladas nos prédios de inquilinos, pelo menos, em caixas incombustíveis, alvenaria ou tejolo.

Mas há mais. Se nós jaão vivêssemos num país de gente adorável — que o é, e

ainda os 14 anos de República não conseguiram espatifá-la por completo — se nesta cidade à beira-mar plantada o ratoneiro e o gatuno não fossem absolutamente inábeis, não havia com certeza um prédio de inquilinos em Lisboa que não fosse violado; e isto porque a Câmara Municipal nunca exige o menor cuidado de precaução nas casas de aluguer, para inquilinos em grande número, em que a escada é o prolongamento da rua, sem a menor precaução em segurança nas insuficientes portas dos patamares.

O mesmo sucede quanto á incombustibilidade das escadas que não ó devidamente observada pondo assim em grave e constante risco a vida dos cidadãos.

Mas há mais ainda.

O piso ou lanço das escadas é em geral de tal maneira defeituoso que num sítio já de si acidentado como são a maior parte dos de Lisboa, torna quási inacessível, principalmente para pessoas que já passaram da idade normal que é lícito viver, como eu, e já njio tem aquele vigor necessário para subir facilmente uma escada de mau passo e de mau piso.

Ainda há dias tive ocasião de chamar para o facto a atenção da Câmara a propósito dum exame sumário que fiz dum prédio — e fi-lo na melhor das intenções para ver se tranquilizava gente alarmada por notícias publicadas de ir o prédio ser despejado por ameaçar ruína — para uma escada que dá serventia a um passadiço, cujo traçado de coustrução era de tal maneira defeituoso que nunca deveria ter sido consentido e tive receio de. utilizar.

Esse escadote tinha, como tem aliás muitas outras escadas, uma inclinação próxima de 45° e deviam orçar por 20 centímetros as dimensões exactas de cada degrau.

Não devia andar longe disto.

Em 20 centímetros de piso não cabe -um pó normal, e 20 centímetros de pé representam para toda a gente considerável esforço quando repetido.

De lamentar é que nas posturas das Câmaras Municipais não se determinem os limites razoáveis a que devem obedecer o compasso duma escada, e a relação entre o pé e o cobertor de cada degrau.