O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

22

Diário das Sessões do Senado

E o que ó certo é que, depois de praticado um acto dessa natureza, é muito difícil remediá-lo.

£ i Quantas vezes se movem altas influências políticas para que um acto atrabiliário fique de pé?!

Não deixo de prestar a minha homenagem ao carácter e independência das pessoas que compõem o Conselho Adminis--trativo, mas admito a possibilidade der num dado momento, um funcionário hesitar entre um voto que não representa uma grande responsabilidade, especialmente sendo dividida por muitos, e correr o risco de cair na desgraça.

V. Ex.a* sabem, pela História, o que -«rã dantes cair na desgraça dum rei. Era qualquer cousa de grave, e raramente .-aparecia um homem que fosse capaz de se pôr de mal com o rei por amor dos homens, ou mal com os homens por ainor do rei.

Mas, Sr. Presidente, todos sabem como .se fazem as eleições nas colónias. Estes elementos podem muitas vezes não ter a .competência técnica necessária para apreciar assuntos duma determinada ordem. .Assuntos financeiros, por exemplo, não podem ser apreciados por qualquer pessoa, mormente quando haja que tratar -com estrangeiros.

Eu conto à Câmara um episódio que .sucedeu na minha vida política.

Era Ministro.

Por desgraça minha, já fui duas vezes .Ministro..

Tratava-se da publicação dum decreto à ..sombra da lei de 8 de Agosto de 1914, que interessava a Portugal e a negociantes ingleses.

Recorrendo às repartições técnicas competentes, mandei redigir o referido decreto.

Li-o, reconhecendo que em dois artigos finais estavam completamente resguardados os interesses do Estado.

Vieram da província dois delegados ingleses tratar comigo do assunto.

Dei-lhes o projecto do decreto a ler.

Eles leram com muita atenção e no fim -disseram: Sr. Ministro, está-muito bem se V. Ex.* eliminar estes dois artigos _ finais.

Eram os tais que salvaguardavam os -interesses de Portugal.

Eu virei-me para eles e disse-lhes:

<_0s p='p' com='com' que='que' de='de' senhores='senhores' ministro='ministro' portugal='portugal' estão='estão' um='um' falando='falando' sabem='sabem'>

Não tenho mais nada a tratar com V. Ex.a8

Os cavalheiros retiraram- se em seguida e já à porta ainda me cumprimentaram.

É que com certos cavalheiros estrangeiros é preciso falar-se como deve falar um português.

E, se não tivermos a vista bem clara e a inteligência bastante aguda, podemos ser vítimas de erros gravíssimos.

Sabemos o que foi a questão de Am-baca, e a dos açúcares de Moçambique; o que ó a questão dos Tabacos.

&Ei não foram portugueses de boa lei que trataram destes assuntos?

Foram, mas foram vítimas; e eu tenho receio de que sejam vítimas também os patriotas e homens de valor da nossa época.

Por isso é mais fácil enganar uma pessoa do que o Congresso da Eepública.

Terminando, eu direi que devemos limitar a nossa autorizaçõo ao estritamente necessário, prometendo ao Sr. Ministro das Colónias conceder-lhe nova autorização quando dela necessitar.

O orador não reviu.

O Sr. Ministro das Colónias (Mariano Martins): — Sr. Presidente: ouvi com muita atenção e, sobretudo, com muito interesse o discurso que acaba de proferir o Sr. Herculano Galhardo.

Eu já me pronunciei sobre a generalidade do projecto e por isso não vou repetir os mesmos argumentos; em todo o caso julgo do meu- dever fazer algumas considerações.

O Sr Herculano Galhardo fez duas espécies de considerações:

Umas de ordem técnica e outras de ordem económica.

Assim sobre a questão dos encargos anuais, S. Ex.a ficon assustado com os que vão pesar sobre a província de Moçambique, se esta operação realmente tiver o êxito que é de esperar.

Realmente eu não posso neste momento perder de vista negociações que se fizeram em Inglaterra e sobre as quais se baseia este projecto. .