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Sessão de 29 de Julho de 1924

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Não nasceu da propaganda, também não é do tempo em que criança comecei a balbuciar papá e mama.

Nasci pobre; tenho o pergaminho de ser filho de um marceneiro que me deixou a riqueza de um uome honrado. Segui sempre os seus conselhos do respeito por todos, e amando a liberdade.

Vim para Lisboa para poder concluir o meu curso, e tive de dar lições para me sustentar, independente de todos.

O ter de aproveitar as minhas horas de repouso, para angariar pélas lições que dava o necessário para me manter, foi condição propícia para reflectir na vida e ver que -uns gastavam à larga e não conheciam senão .o gozo, ao passo .que a outros custava lhes ter o indispensável.

Observei, pois, estas injustiças várias, e já depois homem, como consequência da revolta contra tamanhas desigualdades, um ideal tive: o ideal republicano.

Vem isto a propósito daqueles que não sendo meus correligionários tiveram palavras amáveis, e que eu disse que recebia como sendo sinceras, porque durante a nrnha vida militar me mantive sempre dentro da disciplina, que me prezo ser sempre disciplinado e discipiinador; nunca fui revolucionário senão uma vez, não como militar, mas como homem público e político, quando foi necessário entrar no Parlamento ; então tomei o compromisso com outros, tendo de reagir de forma que a ditadura acabou, e então lui revolucionário.

Mas, Sr. Presidente, fui também amigo dum camarada, por quem ainda hoje tenho saudades, que foi republicano como eu, e como em certa ocasião, que V. Ex.as se recordam muito bem, diversos republicanos julgavam que ã. República ainda vinha muito longe, foram para o partido regenerador liberal, salvo erro.

Sr. Presidente: tive muitos amigos que me disseram que os acompanhasse; nun-ca^s acompanhei, nunca estive filiado em partido algum da monarquia, mas notavam-se os camaradas como Baptista Ferreira, que, apesar de não seguirmos a mesma idea política, no emtanto, no íim da discussão larga que levávamos muitas noites até de madrugada, ficávamos cada vez mais amigos.

E porquô?' Porque reconhecia a boa fé como estava tratando para o ressurgimento do país, e, como tratássemos de

boa fé, poderíamos ser adversários políticos, mas nunca deixámos de ser amigos.

ji por isso, Sr. Presidente, que, tendo eu na minha vida este facto, em que um, amigo íntimo, discutindo como políticos, nunca duvidámos um do outro, agradeço a sinceridade com que os ilustres Senadores que não pertencem ao meu partido manifestaram a sua simpatia.

Sr. Presidente: agradeço o apoio abertamente 'dado pelo ilustre leader do Partido Democrático, bem como o apontado pela Acção Republicana e o dos independentes agrupados.

Ouvi falar que este' Governo era inconstitucional; eu direi ao Senado em que condições aqui me encontro.

É bom que nos putendamos num meio tam atrabiliário da política, e ó bom que nos entendamos porque não é só o povo que ainda está num .tal atraso de educação que toma como verdadeiro aquilo que dizem os jornais em letra redonda.

Sr. Presidente*, eu tive ocasião de ver. que nas altas camadas sociais se acredita muito no que dizem os jornais; é triste dizer que chegámos a esta conclusão, sabendo nós como se faz o jornalismo. - ,? Em que está a inconstitucionalidade deste Governo?

Havia um bloco que estava dando o apoio ao Ministério presidido pelo Sr. Álvaro de Castro; em certa altura foi votada uma moção na Câmara dos Deputados, em que se entendia que o Governo não estava constituído para as necessidades de momento. Quere dizer, havia que atender para as necessidades da Câmara.

O Sr. Presidente do Ministério é ainda indicado por aqueles que tinham votado essa moção a que formasse novamente Gabinete, dando-lhe, por consequência, o apoio. S. Ex.a não''formou então Gabinete.

Foi indicado o Sr. Afonso Costa, que iião aceitou. Indicado novamente o Sr. Álvaro de Castro, vê-se claramente o apoio sincero que estava dando o Partido Republicano Português..