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Sessão de 29 de Julho de 1924

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foi pelo motivo dessa declaração ser pequena que eu fiz tal afirmação.

Ela poderia ser ainda mais pequena e dizer muito.

Eu disse que a declaração'ministerial não dizia nada, porque, na realidade, do que lá está escrito .não se conclui qual a orientação do Governo, o que tenciona fazer, os seus planos, etc.

O Sr. Presidente do Ministério podia ter escrito ainda menos, mas dizer alguma cousa.

Eu fiz uma pregunta à qual S. Ex.a se não dignou responder.

Era o que pensava o Governo acerca do reconhecimento do regime político da Rússia, que como V. Ex.a sabe já foi reconhecido por algumas nações, reconhecimento esse que nos traria algumas vantagens económicas.

Pelo que S. Ex.a acentuou, acerca da sua orientação, parece me que é —digamos assim — incolor.

S. Ex.a não se manifestou claramente, se a sua orientação seria no sentido das esquerdas ou no sentido das direitas, porque isto não são palavras vãs, há na realidade maneiras de xproceder diversas, conforme a orientação seguida.

Sr. Presidente: como V. Ex.a sabe, há muitas reivindicações sociais a satisfazer.

Falou S. Ex.a,' o Sr. Presidente do Ministério, em justiça social.

Eu garanto que não compreendo bem o que S. Ex.a quere dizer com essas palavras, o que talvez seja por acanhamento da minha inteligência.

Gostava que S. Ex.a explicasse claramente o que entende por justiça social; o Sr. Presidente do Ministério, por certo, não se quis manifestar bem claramente no sentido das esquerdas que é de facto aquele em que a corrente corre neste momento, e eu digo a S. Ex.a que com a sua orientação não lhe dou muitos dias AG vida ao seu Ministério, porque, em virtude da acção do Partido Republicano Radical, começa a manifestar-se dentro do seu Partido uma facção nesse sentido, supondo que pode antepor-se à acção do verdadeiro Partido Republicano Radical.

Essa facção há-de causar sérios embaraços à vida do Governo, mas nada prejudicará o Partido Republicano Radical.

O Partido Republicano Radical já con-

seguiu pelo menos que no Parlamento se fale em esquerdismo, em radicalismo.

Eu também gostava que o Sr. Presidente do Ministério me dissesse alguma cousa do que pensa sobre o modo de proceder para atalhar o constante aumento da carestia da vida, que faz com que não haja funcionário público absolutamente nenhum que com o seu simples vencimento possa atender a ela.

Eu referi-me também à' necessidade da remodelação •> dos berviços públicos, de modo a que os funcionários possam ter os seus vencimentos em harmonia com a desvalorização da moeda.

A este respeito nada disse o Sr. Presidente do Ministério.

S. Ex.a, referindo-se à questão religiosa, deixou habilmente de responder às preguntas que lhe foram feitas.

Essas preguntas suponho eu que eram relativamente a um projecto de lei apresentado na outra Câmara pelo Ministro da Justiça, do Ministério passado, Sr. José Domingues dos Santos, que segundo me parece pretende impedir que os padres andem livremente de batina pela rua.

Aí está, Sr. Presidente, uma manifestação de esquerdismo da facção esquerdista do Partido Democrático.

Entendo que a questão religiosa é uma questão absolutamente morta, desde que a Igreja se mantenha no seu lugar, alheia às questões políticas.

A mim tanto me importa que os padres andem de batina como não, e assim é que eu compreendo a verdadeira liberdade.

Tenho dito.

O Sr. Pereira Osório:—Requeiro que a sessão seja prorrogada até terminar o debate político.

Submetido à votação o requerimento, é aprovado.

O Sr. Augusto de Vasconcelos : — Se fosse necessário demonstrar que o Sr. Rodrigues Gaspar era um ilustre parlamentar, bastaria o seu discurso de hoje, que foi brilhante na forma como largo de vistas, para o evidenciar.