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Sessão de 10 de Dezembro de 1924

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merecer .a consideração, não só do Governo, como também do Parlamento.

Peia pasta da Marinha, promete o Governo pouco.

E eu desejaria, sob este ponto de vista, e caso não houvesse nisso inconveniente, saber se do plano traçado pelo ex-Minis-tro d.i Marinha, Sr. Pereira da Silva, o novo . Governo desejava aproveitar alguma cousa.

Passando à pasta da Guerra, onde vejo o meu velho amigo, Sr. tíelder Ribeiro, a cujas qualidades já, por mais de uma vez, tenho tido ocasião, aliás justamente, de lazer as mais elogiosas referências, noto que.a declaração ministerial nos promete a reorganização geral da força pública. -

Acerca deste assunto apenas devo dizer que a actual organização do nosso exército necessita de ser modificada, e tem de o ser pelo lado do pessoal, porque infelizmente para nós o. exército está de mais burocratizado. Necessário é também modificá-lo e muito debaixo do ponto de vista material.

Sobre esto assunto, encontra o Sr. Ministro da Guerra pendentes da discussão da Câmara dos Deputados duas propostas, para as quais chamo em especial a atenção de S. Ex.a

Uma delas foi presente pelo major Sr. Ribeiro de Carvalho, quando Ministro da Guerra, e diz respeito à organização dum fundo para a aquisição de material, de forma que essa aquisição pudesse ser feita independentemente das flutuações e influências políticas; a outra proposta, que foi apresentada pelo general Sr. Vieira da Rocha quando titular nessa mes: ma pasta, diz respeito à industrialização dos estabecimentos fabris do Ministério da Guerra.

É este um ponto para o qual chamo a particular atenção do Sr. Ministro da Guerra, porque nós não podemos continuar como temos vivido até agora, isto é, vendo os orçamentos das fábricas com uma dotação para pessoal muito superior • à das matérias primas.

Em qualquer indústria particular, isso seria o bastante para a considerar -falida. E, sem desdouro para ninguém-, como mais que falidos poderiam ser considerados alguns desses estabelecimentos, em que chegou a pagar-se as férias aos ope-

rários, sem que eles produzissem cousa alguma, porque não foram pagos os duodécimos relativos a material.

V. Ex.a, Sr. Presidente, que é também ilustre director do Arsenal do Exército, sabe perfeitamente que eu tenho plena razão no que acabei de dizer.

Sr. Presidente: vou terminar as minhas considerações e resumindo-as direi: encarando a declaração ministerial no seu conjunto, eu julgo tam vasto o problema que o Governo se propõe realizar, que não confio em que ele efective essa obra, mas se ele entrar afoitamente nesse caminho, se muito especialmente procurar restaurar o nosso crédito, sanear a nossa administração pública, acabando com todos os esbanjamentos e punindo todos os criminosos, sejam eles de que categoria forem, pode contar com o meu apoio sincero, desinteressado e leal.

Se o Governo quere acabar de vez com o regime da impunidade em que temos vivido, impunidade essa qne constitui um incentivo ao crime e representa um desprestígio do Poder, pode também contar com o meu decidido apoio.,

E, Sr. Presidente, a propósito, permita--me V. Ex.a uma pequena digressão.

A República Francesa passou, há anos, por uma grande crise de ordem moral, e salvou-se.

Porquê, Sr. Presidente?

Porque teve a força, a energia e a hombridade precisas para castigar, sem contemplações, mas com justiça, todos aqueles que tinham prevaricado, por mais alto que estivessem colocados.

Muitos apoiados. .

E recentemente ainda, Sr. Presidente, em plena guerra, foi a energia do velho Clemenceau que muito concorreu para elevar o prestígio da República Francesa, fortalecendo a justiça na sua acção implacável, mas serena, exemplar e frutificante. Foram punidos indíviduos de elevada condição social, sem que houvesse a menor contemplação para com eles.

E assim, Sr. Presidente, se prestigiou a República e mais se dignificou essa gloriosa Nação.

Termino as minhas considerações reiterando os meus cumprimentos ao novo Governo.

Tenho dito.