O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

12

Diário das Sessões do Senado

inscrevendo no «passivo» toda a responsabilidade das grandes realizações económicas e financeiras que o Ministério se propõe fazer — estradas, caminhos de ferro, irrigação, aproveitamentos hidráulicos, divisão da propriedade inculta, planos coloniais, tratados de comércio, etc., etc., ©te. ... e anotando apenas no «activo». . . a pcesia do Sr. Ministro dos Estrangeiros.

Realmente o Sr. Galhardo tem razão. Aquela peça literária, que a declaração ministerial, invulgar sem dúvida neste género de literatura, é com certeza obra de poeta.

Ali, vé-se logo, anda o dedo de Sr. João de Barros, que já nos maus tempos de Coimbra se entregava, e com êxito, ao convívio das musas.

Para de tal se ficar convencido, basta ler aquele «luminoso» trecho de entrada da famosa declaração, quando se fak. em. restabelecer o equilíbrio:

«O das classes, melhorando as condições de vida às medianas e pobres; o das profissões, devendo crescer as produtivas e deminuir as onerosas ou especuladoras; o das terras aráveis, corrigindo-se os extremos da propriedade excessiva e insuficiente; o das próprias ideas, devendo triunfar as de coesão, de solidariedade e de moral superior, decorrentes da períei-ta compreensão duma finalidade comum».

i Que belo cântico de harmonia celestial!

j E digam lá que os poetas se se não entendem com a política!

O Governo vai longe com a ajuda do Sr. João de Barros e o apoio do Sr. Her-culano Galhardo. Sobretudo com a apoio deste ilustre Senador.

A amizade do Sr. Galhardo ao Governo faz-me lembrar aquela desinteressada e sincera amizade que serviu de tema a uma popular peça de teatro, onde o nosso Chaby tem um dos seus mais notáveis trabalhos de interpretação.

A peça tem um título sugestivo que não reproduzo para não melindrar o Sr. Galhardo.

O principal personagem, que o CLaby soberbameníe encarnava, era duma pequena terra da província muito conhecida pela tradicional manufactura das suas

rendas e pelo monopólio de certa classe de «amigos» . . . que tanto a têm celebri-zado.

Tinha ele aqui em Lisboa um compadre e amigo a quem queria muito e tanto que lhe propôs um negócio da China — dar-lhe marcos, de que estava cheio, e que estando baixos de valor tinham de subir, e receber em ^troca libras, de que estava falto, e que, estando altas de valor v teriam de baixar.

E- claro, dizia o tal amigo de. . . que em tal negócio só ele perdia e mais ninguém, porque, desfazendo-se de moeda que devia valorizar-se, ficava em troca com outra, cuja desvalorização tinha de ser um facto, de futuro.

Pois o Sr. Galhardo é tam amigo do Governo comp o tal amigo e era do compadre de Lisboa.

Sr. Presidente: analisando-se a declaração ministerial fica-se com a impressão de que o Sr. José Domingues dos Santos já não ó bem aquele fogoso esquerdista que tomou sobre si o encargo de reformar a sociedade política e económica, como prometeu lazer à ala extremista dos correligionários de que se proclamou o chefe.

Vê-se que as responsabilidades do Poder já atenuaram bastante os primeiros impulsos do seu radicalismo e que as lições dos outros povos, da Inglaterra cmn a queda do trabalhista Macdonald e da França com a nova atitude de Herriot perante as ameaças bolchevistas, não deixaram de lhe ser úteis.

Há pontos da sua declaração ein que se acena, sem dúvida, à fácil popularidade das massas incultas e revolucionárias, mas outros aí se encontram que não repugnam inteiramente à consciência e ao modo de pensar dos conservadores.

No género mqyonnaise nada há que dizer à declaração. É completa.

O que eu gostava de saber é com o que conta o Sr. José Domingues dos Santos para dar execução a esse seu mirabolante programa, pois, para o mesmo se realizar, será preciso, como muito bem aqui diijse o Sr. D. Tomás de Vilhena, um bom quarto de século pelo menos,.