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Diário das Sessões do Senado

bela camaradagem, afirmando-se um espírito lúcido, um carácter leal, um coração bondoso, não traindo nunca os deveres de lealdade e solidariedade que só impõem co:no o melhor brasão a. honrar por todos os académicos.

•ODo mesmo modo S. Ex.a t?m afirmado pela vida fora as nobres qualidades que revelou em estudante, entregando-se do alma e coração, com pertinácia e desvelado carinho, a uma obra que é iniciativa sua e que, sendo de incontestável utilidade para o país, ó extremamente simpática a todos os respeitos.

Refiro-me aos Jardins-Escclas João de Deus, modelos de graça, de 'delicadeza e de ternura pela educação infantil.

Ainda ia poucos dias, a propósito de um projecto apresentado ne3~a Câmara pelo Sr. Gaspar de Lemos, eu tive ocasião de me pronunciar sobre o assunto na reunião de secção e de me referir ao Sr. João de Deus Ramos corn palavras de admiração e respeito pelo seu esforço em prol dessa sua tam interessante iniciativa.

É assim, sob .esse ponto de vista, que eu aprecio a individualidade do Sr. João de Deus Ramos e muito o considero.

S. Ex.a já no nosso tempo de Coimbra se dedicava, com fervor a esse belo apostolado, ao mesmo tempo que se empenhava na difusão do método de leitura de João de Deus, em homenagem Aquele que muito respeito e muita baiidace merece ao seu coração de filho e que, sem dúvida nenhuma, jamais esquecerá também na memória de todos os portugua sés, porque foi um cos mais belos espíritos da uossa terra, e como grande poeta aquele que melhor soube encarnar o lirismo nacional e compreender a alma deste povo. cheia de sonho, de doçura, de simplicidade.

Aí ainda, na velha cidade universitária, o Dr. João de Deus' Ramos trocava os ócios e os prazeres da sua vida asaié-mica, a que naturalmente leve, o ardsr da mocidade, por um trabalho obstinado e profícuo de incontestável utilidade pública e de enternecedora homenagem à memória de seu Pai.

Procurava espalhar pelo País o uso do método de leitura criado e imaginado por João de Deus, explicando-o e praticai:.do-o sempre cue as circunstâncias lho permitiam, contribuindo assim para o desen-

volvimento da instrução, o que o torna credor da gratidão do País.

O método João de Deus é possível que não corresponda hoje às exigências da moderna sciência pedagógica. Ouço aos técnicos essa afirmação. Mas o que é certo é que não deixa por isso de ser um útil instrumento de combate ao analfabetismo e uma obra puramente nacional que precisaria de ser protegida e amparada, ao menos pelo muito respeito que devemos à memória do grande lírico.

O Dr. João de Deus Ramos, para a difusão do método de seu Pai, criou as escolas móveis e os jardins-escolas, tam graciosos, tam gentis, tam cheios de encanto, em toda a fresca e florida simplicidade da elegante arquitectura de Raul Lino, onde as criancinhas recebem os primeiros contactos com a luz do espírito e a sua alma desabrocha para os primeiros passos na vida.

Assisti à inauguração do primeiro desses jardins-escolas, eín Coimbra, e ali tive ocasião de ver o entusiasmo que inundava a alma de João de Deus Ramos. Muito poucos existem, desses jardins-escolas, no País, o que ó para lamentar, atenta a utilidade e a beleza desses interessantes estabelecimentos de instrução. O que representou de esforço,"de dedicação, de tenacidade, a fundação em Coimbra desse jardim-escola João de Deus ó fácil de avaliar num País de tam frouxa iniciativa como o nosso.

E RO nos lembrarmos de que João de Deus Ramos era um estudante, ainda bastante moço, mais é digno de realce e de louvor pelo empreendimento a que meteu hombros com ta.nto êxito.

Esses jardins-escolas deviam multiplicar-se ein Portugal, pois, representando uma iniciativa genuinamente portuguesa, são uma obra duplamente simpática e patriótica, pelo nome que evocam de João de Deus e pelos magníficos resultados práticos que podem dar. Mas de cousas mínimas não cura o pretor.. . O Estado esquece essas instituições, como esqueceu já também o próprio João de Deus. Sempre assim foi na nossa terra.