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Diário das Sessões do Senado

Este ofício foi entregue em minha casa em 28, de manhã, e à tarde rerpondi nos

seguintes termos :

«Ex.mo Sr. Presidente da Associação Comercial de Lisboa—Palácio do Comércio, Rua Eugênio dos Santos, n.° 89 — Lisboa.—Acuso a recepção do ofício de V. Ex.a, n.° 337, e agradeço, maito reconhecido, o amável convite, não me permitindo os meus afazeres a comparência. • Com a mais subida consideração, de V. Ex.a at.p obrig.a, J. Carlos da Costa».

Creio que satisfiz aos elementares deveres de cortesia e de correcção. Recebi um convite, agradeci e declarei que não podia comparecer.

Não compreendo, pois, de onde vem esta insistência .teimosa da Companhia em me censurar por eu não ter comparecido, como se eu fosse obrigado a comparecer à conferência, ou fosse o tema dela; de resto, a Companhia nada tinha que ver com uru convite que me foi. dirigido pela Associação Comercial.

Para o Senado, porém, é que podia ter algum significado a minha presença na tal conferência, visto que dias antes eu tinha apresentado a está Câmara um projecto de lei conhecido pelo «projecto dos poços artesianos».

A Companhia é que não compreendeu o alcance do meu projecto de lei. O que eu pretendi com ele não foi resolver o abastecimento das águas à cidade de Lisboa, em situações normais, mas simplesmente colocar a capital do país ao abrigo duma interrupção acidental ou propositada do canal do Alviela..

E já que falei no meu projecto de lei, convém dizer que não há ..maneira de o desencalhar do Ministério do Trabalho,,

O que era conveniente era que ele íos-se para o Ministério da Guer(ra.; mas, em-fim, talvez que^ se vier uma .ditadura ou-algum novo sidonismo, o:mèu projecto de lei saia de lá.

O Sr. Bulhão Pato: — j Longe vá o seu agoiro!" .' , -

O Orador: — V. Ex.a sabe beri a inten^ cão irónica das minhas- palavras.

Mas voltando .ao folheto publicado pela Companhia das Aguas', com que ela irri-

sòriamente pretende dês agravar-se da suposta ofensa que eu lhe dirigi, vê-se que o Sr. Ministro do Comércio de então é muito mal tratado, e desse mau 'tratamento cabe a responsabilidade a todos os membros da direcção da Companhia das Aguas de Lisboa, a qual declara ser toda ela solidária no que ali se 'diz.

Além da ofensa dirigida ao Sr. Ministro, há a ofensa dirigida ao Estado, porque a Companhia permite-so dizer que lhe dá lições de honestidade :

«A Companhia, que tem prestado, com os maiores sacrifícios, os mais relevantes serviços no abastecimento de água ao município de Lisboa, à população da capital e também ao Estado, a cuja administração a nossa poderá servir de modelo no exemplo-, na probidade, no zelo, etc.».

,; E sabe V. Ex.a quem assina esta peça de literatura ?

É a direcção, da qual faz parte o Sr. general Oliveira Simões, que é ao mesmo tempo director da secção de comércio è indústria do Ministério do Comércio."

Ora é isto que não pode continuar as-' si:n : Floridor quando está na repartição, e Borromeu quando está na Companhia, isso é que não pode ser, ou uma cousa ou outra.

Eu reconheço a delicadeza do Sr. Pires Monteiro, não querendo proceder contra este senhor, por ser o Ministro visado, mas isso não quere dizer que V. Ex.a, Sr. Ministro, militar brioso, disciplinadsr e disciplinado, não chame esse senhor e lhe diga: eOu a Companhia das Aguas ou o Ministério do Comércio».

É necessário introduzir á moralidade na administração republicana para que a' Companhia não diga «que dos republicanos se faz tudo quanto se quiser».

Estas situações imorais hão-de acabar, a bem ou a mal; mas é preferível que acabem a bem, e que as cousas entrem" no seu respectivo lugar.

Eis a razão, 'Sr. Presidente, por que eu. fi.z referGuciás a este folheto. • '

Quanto à apreciação que fiz às amabilidades , que me dirigem, eu devolvo á Companhia todas essas expressões incon-V2nientes e grosseiras. ' • i