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ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 126 1320

«chamada cultura geral científica», nos planos dos cursos superiores, sem favor da criação de cadeiras de cultura»; a criação de «cadeiras de síntese, em especial nos anos mais adiantados dos vários cursos»; o desenvolvimento, nos programas - de cada cadeira, dos capítulos «com maiores implicações culturais (designadamente a história, a metodologia e a filosofia de cada ciência)»; «a criação, nas diversas Faculdades, de pequenos cursos da respectiva especialidade sobre temas de ressonância cultural, de feição vincadamente formativa, que seriam frequentados pelos estudantes mais adiantados das restantes escolas superiores»; etc.
O difícil, neste domínio, está apenas em concretizar e, sobretudo, em realizar. Não é simples, na verdade, dizer até que ponto concretamente se pode ir, nesta tarefa -que se impõe- de aliviar a Universidade do seu exagerado tecnicismo, sem risco de cair no defeito oposto, fazendo dela uma escola de cultura geral incapaz de ministrar a cultura especializada que as profissões superiores nos nossos dias exigem. E menos simples é, depois de concretizar, conseguir dar eficiente realização das medidas preconizadas, por virtude da deficiência dos quadros do pessoal docente e da própria falta de cultura geral de não poucos professores.
Não pertence a esta Câmara embrenhar-se no estudo deste tema; nem mesmo tal pertencerá à nova Comissão Permanente, que o Decreto-Lei n.º 40 900 criou. Trata-se de uma matéria que, pela sua delicadeza, só aos vários conselhos escolares e senados universitários compete estudar, com vista a futuras reformas dos planos de estudos das diversas Faculdades e escolas superiores.

28. O problema que está em causa neste momento é, pois, tão-sòmente, o da cultura geral que a escola não pode ministrar, sob pena de se desviar dos seus fins, e que tem de ser procurada pelo estudante nas organizações circum-escolares, como sejam, por exemplo, a cultura literária, a cultura musical, a cultura artística, a cultura política, etc.
Trata-se de um sector em que pode, sem dúvida, fazer-se mais do que se tem feito e em que, sobretudo, pode fazer-se melhor. Mas, quando se compara o que hoje há de actividades culturais circum-escolares com o que havia há vinte ou trinta anos, não pode deixar de registar-se com agrado que se progrediu intensamente e que se têm proporcionado aos estudantes, fora da escola, meios de cultura geral que as gerações anteriores estiveram longe de desfrutar.
E impossível, a este propósito, fazer uma descrição completa da actividade desenvolvida pelas diversas organizações circum-escolares nos últimos tempos, tão vasta e multiforme essa actividade tem sido. Os empreendimentos de maior vulto são, de resto, sobejamente conhecidos do público interessado, pela repercussão exterior que costumam ter. Aqui não pode passar-se de uma simples e rápida enumeração de actividades.
Cumpre distinguir, nesta enumeração, os organismos que se dedicam a uma actividade cultural específica e os que, consagrando-se a actividades indiferenciadas, sustentam regular ou esporadicamente iniciativas culturais.

29. Entre os organismos consagrados a uma actividade cultural específica alguns há que contam já muitas dezenas de anos de existência e que se orgulham legitimamente da sua brilhante folha de serviços, onde encontram o melhor incentivo para não esmorecer no ritmo dos seus empreendimentos.
É de obrigação citar à cabeça, de entre eles, o velho Orfeão Académico de Coimbra, fundado em 1880, sob a regência de João Arroio, e em cuja direcção artística se distinguiram posteriormente António Jóice, Elias de Aguiar e Raposo Marques. Para só citar alguns dos seus êxitos mais recentes, recordem-se as suas viagens à Galiza (em 1945), a Salamanca e a Madrid (em 1949), a Angola e Moçambique (em 1949), a Marrocos (em 1953) e ao Brasil (em 1954). A par da importante acção cultural desenvolvida junto dos seus participantes, o Orfeão Académico tem sido, ao longo de várias gerações, um embaixador itinerante do espírito universitário coimbrão, contribuindo permanentemente para avivar os laços espirituais que prendem à alma mater os antigos estudantes de Coimbra dispersos pelo País e pelo Mundo.
Também a Tuna Académica de Coimbra conta já largas dezenas de anos de vida. Embora não tenha a mesma projecção do Orfeão Académico -não por menor valor artístico, mas apenas por ser mais reduzido o número dos seus participantes-, tem atrás de si um passado brilhante, com exibições em todo o País e várias saídas ao estrangeiro, designadamente ao Brasil. A Tuna Académica se deve uma importante acção cultural junto de várias gerações de estudantes, que seria injustiça esquecer.
De origem mais recente, dois outros organismos culturais, ligados à Universidade de Coimbra, granjearam já merecida reputação em Portugal e no estrangeiro: O Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, fundado e dirigido pelo Prof. Paulo Quintela, e o Coral dos Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, fundado e dirigido pelo estudante de Direito, e hoje assistente da mesma Faculdade, Francisco Ferreira de Faria. O Teatro dos Estudantes -que se especializou na recitação de teatro clássico português e, mais recentemente, em teatro clássico grego- tem tido uma carreira brilhante dentro e fora do País, tendo já visitado o Brasil e o ultramar português e participado mais de uma vez na Delfíada Internacional, com os mais assinalados êxitos. E o jovem Coral da Faculdade de Letras, que conquistou rapidamente a admiração do público, teve já um primeiro grande êxito internacional na visita que, por convite, recentemente fez a vários centros universitários holandeses.
Também no Porto existem dois organismos universitários de actividade especificamente cultural com reputação plenamente confirmada: o Orfeão Universitário o Porto e o Teatro Clássico Universitário do Porto. O primeiro, com numerosos êxitos artísticos no País e na vizinha Espanha, realizou nas passadas férias grandes uma viagem a Angola, que foi coroada de grande sucesso: e o segundo tem contribuído largamente para o desenvolvimento da cultura artística dos estudantes, contando já numerosos êxitos na sua ainda breve existência.
Em Lisboa, onde o sentimento de coesão universitária é menor do que em Coimbra e no Porto, as organizações especificamente culturais com âmbito generalizado a toda a Universidade têm menos relevo que as já indicadas. A parte o Cine clube Universitário de Lisboa, as organizações culturais que existem de âmbito universitário estão dependentes do respectivo Centro da Mocidade Portuguesa e serão, por isso mesmo, referidas mais adiante, a propósito das actividades culturais dos organismos indiferenciados.
Não pode passar, finalmente, sem uma elogiosa referência a acção exercida em favor da cultura musical dos estudantes universitários por duas importantes organizações: o Círculo de Cultura Musical e a Sociedade de Concertos Pró-Arte. Desenvolvendo embora a sua actividade fora do campo universitário, estas duas sociedades de concertos têm posto ao alcance dos estudantes bilhetes de assinatura a preços reduzidos -