1322 Actas da Câmara Corporativa N.º 126
à disposição do director do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras.
Todas estas verbas são já tradicionais, com pequenas variantes, no Orçamento Geral do Estado, e nada têm que ver com os subsídios que o mesmo orçamento concede para as actividades desportivas e sociais, já acima apontadas (cfr. n.01 6, 11 e 20), que constam de rubricas orçamentais diferentes. Se não totalmente, são verbas aproveitadas, pelo menos em grande parte, em actividades culturais dos organismos contemplados.
Também a Mocidade Portuguesa e a Mocidade Portuguesa Feminina despendem avultadas somas com as actividades culturais dos respectivos Centros Universitários. No ano económico findo foram de 749.1599 as despesas totais dos Centros Universitários da Mocidade Portuguesa, em actividades não relacionadas com o desporto e as obras sociais. E as dos Centros Universitários da Mocidade Portuguesa Feminina, em igual período, foram de 207.642840. Há que descontar, nestas verbas, as despesas com o pessoal e com o expediente, dizendo respeito o restante - que é a maior parte - às despesas com actividades culturais.
33. Como se vê, orça por mais de um milhar de contos o que o Estado gasta anualmente com as actividades culturais das organizações circum-escolares dos estudantes universitários. E se atendermos a que algumas dessas organizações exercem a sua actividade cultural inteiramente à margem de subsídios estaduais - movimentando, apesar de tudo, centenas de contos-, poderemos fazer uma ideia aproximada do volume e importância dos esforços e boas vontades que neste sector se movimentam.
Outro é o problema de saber se os resultados obtidos correspondem plenamente a este esforço e a este dispêndio de energias e de dinheiro. Em grande parte pode dizer-se que sim, embora neste domínio os resultados não sejam imediatos e, sobretudo, não sejam fáceis de medir. Mas deve reconhecer-se que se pode conseguir mesmo sem redobrar de esforços e de despesas - muito maior eficiência. Há iniciativas paralelas que, por falta de coordenação, se prejudicam mutuamente, em vez de se completarem; há iniciativas que, por falta de persistência, não produzem os resultados que poderiam produzir; e há empreendimentos que, por falta de orientação sensata, redundam em pura perda de energias e de dinheiros. Se a nova Comissão Permanente das Obras Circum-Escolares conseguir dar a estas actividades culturais a coordenação, a persistência e a orientação sensata que tantas vezes lhes falta e tanto as prejudica, terá realizado, só com isso, uma obra altamente meritória. Não precisa, para o efeito, de ir muito mais longe do que se tem ido até hoje na mobilização de energias e de capitais. Basta que saiba aproveitar o que já existe e que saiba coordenar e orientar superiormente as iniciativas e boas vontades que neste campo abundam.
34. Duas palavras, finalmente, sobre os problemas do emprego e da escolhia de carneira. Já acima se manifestou um certo cepticismo quanto às possibilidades que a nova Comissão Permanente terá de os resolver de forma satisfatória (cfr. n.º 4). São problemas demasiado complexos e demasiado dependentes duma infinidade de factores externos, para que a Comissão possa dominá-los com os simples meios de que conseguirá dispor.
O problema da escolha de carreira sempre esteve e sempre há-de estar condicionado pelo problema do emprego: primum vivere, deinde philosophari. O diplomado por uma escola superior tem de considerar-se, em princípio, habilitado para o exercício de todas as profissões de que a sua licenciatura é condição
básica. A necessidade de ganhar a vida obriga-o, muitas vezes, a apegar-se àquela profissão que, de momento, lhe é mais acessível e que nem sempre é a mais consentânea com as suas predilecções e a sua vocação. Mas dificilmente poderá deixar de ser assim. Os quadros das empresas, dos serviços públicos e das profissões liberais não podem alargar-se e reduzir-se ao sabor das predilecções dos candidatos. Pode abrir-se uma ou outra excepção para os muito aptos -para aqueles que têm preparação ou qualidades excepcionais para uma profissão especializada e que seria esbanjamento desprezar-; mas para o comum dos diplomados a escolha de carreira há-de ser sempre condicionada pela necessidade imediata de ganhar a vida. Alguns hão-de conseguir, mais tarde, desviar-se da carreira que as necessidades lhe impuseram para a carreira das suas predilecções ou vocação; outros ficarão agarrados para sempre a um modo de vida que nunca ambicionaram, mas com o qual acabaram por conformar-se. E é tudo. Mais grave é o próprio problema do emprego. Não se trata já de encontrar fechadas as portas da profissão que mais se ambicionava; trata-se do caso doloroso, e tão frequente, de se encontrarem fechadas as portas de todas as profissões para que habilita a licenciatura alcançada à custa de tanto esforço. Mas o problema transcende em muito as forcas de que a nova Comissão Permanente poderá dispor, pois está condicionado por uma série de circunstâncias que totalmente escapam ao seu comando.
Não temos, em Portugal, excesso de diplomados, não sendo desse facto, portanto, que deriva à dificuldade da sua colocação. O que temos é uma má distribuição e uma deficiente remuneração dos diplomados pelas escolas superiores. Paga-se mal e exige-se muito: pagando-se mal, obriga-se a generalidade de entre eles a buscar em duas ou três ocupações simultâneas o suficiente para viver em decente mediania; exigindo-se muito, obrigara-se muitos deles a fazer por si o serviço que devia pertencer a dois ou três. Há lugares que deviam pertencer aos novos e que estão ocupados, em regime de acumulação, por outros diplomados, que dificilmente se disporão a largar mão deles; e há cargos que precisariam de ser desdobrados, mas a que a necessidade de comprimir despesas obriga a manter unificados, exigindo-se dos respectivos serventuários mais do que as suas forças lhes permitem e do que os seus minguados vencimentos justificam. Duma forma ou doutra, estabelece-se um lamentável desequilíbrio entre a produção de diplomados e a sua absorção pelas profissões, dando-se a falsa ideia de uma crise de abundância que verdadeiramente não existe.
Pode a Comissão Permanente das Obras Circum-Escolares, só por si, modificar este condicionalismo? E evidente que não. Só a progressiva melhoria do nível médio de vida e o progressivo desafogo da nossa situação económica, em que o Governo por tantas vias se encontra empenhado, hão-de permitir, a pouco e pouco, modificar esse estado de coisas, fazendo-nos caminhar para um quadro de profissões suficientemente largo e remunerado, capaz de absorver uma produção anual de diplomados que está longe, já hoje, de ser excessiva para as nossas efectivas necessidades.
35. De tudo o que deixamos dito pode concluir-se que há já uma obra importante realizada no domínio dos actividades circum-escolares e que a Comissão Permanente instituída pelo Decreto-Lei n.º 40 900 está longe de ter diante de si um terreno virgem a desbravar.
Isto não quer dizer, evidentemente, que deixe de justificar-se a criação da Comissão referida ou que seja despicienda a tarefa de que vai ter de incumbir-se. Pretendeu-se tão-sòmente salientar que os problemas