O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

21 DE FEVEREIRO DE 1941 231

O Sr. Braga da Cruz: - Actividade industrial hoje em grande crise.

O Orador: - Mas num grau muito inferior a Viana do Castelo.
Em Viana do Castelo é que se vêem as condições miseráveis a que chegou a lavoura e o lavrador.
Subi a esta tribuna porque tenho a obrigação moral de o fazer, depois da intervenção que na sessão legislativa de 1938-1939 a favor da lavoura minhota e dos lavradores minhotos tive a honra de fazer. Fiz nessa ocasião uma espécie de S. O. S.; clamei; chamei a atenção dos poderes públicos e cheguei a dizer que o Minho estava em péssimas condições. Julgo que cheguei a pedir a supressão do imposto sucessional. É uma lutuosa excessivamente pesada, que está ajudando a arruinar a propriedade minhota, ruína que cada vez mais manifesta características de gravidade.
Devo dizer que sinto um pouco de orgulho com as conclusões a que V. Ex.ª, Sr. Deputado Araújo Correia, chegou com a grande autoridade que tem nesta matéria, pois é um dos mais distintos economistas do País; e sinto orgulho por ver que V. Ex.ª chegou, no seu exame e sôbre documentos oficiais, às mesmas conclusões a que eu cheguei pela observação directa.
Antigamente o milho era valorizado em 500 réis por alqueire de 20 litros e era raro que sofresse uma desvalorização anual de 50 réis. E para sofrer o aumento de l tostão era preciso que o ano fôsse deficitário. Por essa ocasião o jornal operário masculino era de 12 vinténs e o feminino muito menos de 8. Hoje o milho está entre 12$, 15$ e 16$ o alqueire também de 20 litros. A situação melhorou um pouco, mas a amplitude da oscilação é maior que dantes devido ao encharcamento provocado pelo milho colonial, que foi e é o causador das perturbações e do desequilíbrio do mercado, obrigando a uma média que fica abaixo do preço do custo.

O Sr. Presidente: - Como a hora já vai muito adiantada e eu desejava que as contas públicas fôssem votadas na sessão de hoje, pedia a V. Ex.ª para resumir o mais possível as suas considerações.

O Orador: - Eu vou resumir.
Vinha eu dizendo que a interferência do milho colonial durante cinco anos foi de tal ordem que o preço do milho metropolitano nunca subiu de 11$ e chegou a atingir o preço vil de 7$50.
Isto durante cinco anos é o suficiente para acabar com quantas disponibilidades possa haver. Gastaram-se as disponibilidades.
Atrás dessas disponibilidades foi o ouro, que saiu para o pagamento dos encargos, e, acabadas aã disponibilidades e o ouro, entrou-se no empréstimo. E esta a razão por que os números que V. Ex.ª encontra são negativos.
O milho colonial foi um facto desagradável, porque as colónias, além do mais, servem para a expansão económica da metrópole, e não é a metrópole que deve servir para a expansão económica das colónias.

O Sr. António Augusto Aires: - Segundo as estatísticas, Portugal necessita em média de 65:000 toneladas de milho todos os anos, porque o milho que produz não basta para o seu consumo. Esta é a quantidade de milho exportado principalmente de Angola para Portugal.

O Orador: - Eu não sei de estatísticas, nem preciso de saber disso. O que é certo é que o mercado do milho estava equilibrado e deixou de o estar em consequência da entrada do milho colonial. Ora «onde falam factos ralam barbas».
Como é que entrou o milho colonial? Entrou protegido pelos grandes cotidianos, manobrados não sei por quem.

O Sr. António Augusto Aires: - Já disse a V. Ex.ª que êle entrou por não se produzir no País o milho necessário ao seu consumo.

O Orador: - Chamam, até só milho colonial «o milho português». Eu não sei se o é ou não. Pode até acontecer que seja mais português do que o outro.
Ainda hoje li nos jornais que o galo de prata de Monsanto estava inclinado e que parecia querer emigrar do respectivo poleiro. Aquele galo porque é que cantou? Cantou porque uma comissão, a que chamam por aí a nossa «Academia Goncourt», entendeu que Monsanto era a aldeia mais portuguesa de Portugal.
Ora já havia Portugal e o Estado Português e Monsanto estava ainda nas faixas da moirama. Porém, um dia essa «Academia» proclamou Monsanto como sendo a mais portuguesa de todas as aldeias, e deu-se o que há pouco referi a V. Ex.ªs Até me parece que Monsanto, em vez de aldeia, é uma vila ; mas isso, se põe, não tira.
Desta forma já não me admira que digam que o milho colonial é mais português do que o milho do Minho. Estou já acostumado a esta e a outras cousas. É claro que não podemos aguentar o dumping americano, que se acrescentou com a facécia da farinha de pau, que é qualquer cousa de respeito.
Não tenho tempo para fazer a página contemporânea relativa ao milho colonial e, sobretudo, relativa à farinha de pau. O que eu queria era relegar à benemerência pública todos aqueles cavalheiros que têm contribuído para a desgraça da minha província, e para fazer com que o lavrador ande descalço e rôto e não possa sequer prover às despesas de conservação, não possa, por exemplo, erguer os telhados das suas casas quando êles abatem. Isto marca o início da desgraça duma região.
Não há dúvida de que a vinda do milho colonial fez baixar o preço do milho metropolitano, e só depois de o Sr. Dr. Albino dos Reis, eu e outros termos feito uma reclamação nesta tribuna é que o preço do milho deixou de baixar àqueles limites vis, a que tinha baixado, de 7$50, quantia que não chega para pagar o jornal de uma mulher.
Na minha região o vinho, que chegou a vender-se pelo preço médio de 30$, ou sejam 600$, passou a qualquer cousa de menor valia.
Ainda não nos podemos queixar ...

O Sr. António Augusto Aires: - Sobretudo das colónias, que, felizmente para a metrópole, lhe consomem mais de 50 por cento do vinho de pasto que produz.

O Orador: - Já que V. Ex.ª tam amàvelmente me interrompe, eu devo dizer ainda o seguinte:
Com relação ao milho colonial, afirmo que muitas vezes êsse milho não é colonial; é africano, mas não é colonial.
Ainda há dias, a propósito de casamentos, nós não quisemos mestiçagens; pois também com o milho não devemos aceitar mestiçagens.
Devo dizer a V. Ex.ªs que no Minho as indústrias auxiliares, como a criação e engorda de gado, por exemplo, não dão nada. Quere dizer: o lavrador do Minho, hoje, nem mesmo tira para as despesas de conservação, e é por isso que telhado que cai já se não levanta.

O Sr. Álvaro Morna: - V. Ex.ª dá-me licença? V. Ex.ª fala na lavoura do Minho.
Ora nós não podemos atender apenas à lavoura do Minho, mas temos de atender à lavoura do País e das