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DIÁRIO DAS SESSÕES — N.º 188
o nivel espiritual e moral — que é, para nós, o que em primeiro lugar importa.
Entre muitos equívocos desta espécie, e muitas quimeras bem ou mal intencionadas, e muitas ficções, e meras ambições legítimas, é possível — admito mesmo provável — que algumas reais conquistas venham melhorar a sorte dos homens e dar-lhes, no conjunto social, maior amplitude, maiores possibilidades e maiores compensações. Essas, serão com certeza aproveitadas, introduzidas na nossa orgânica constitucional — e entrarão no património do homem português. Mas sempre à nossa maneira, dentro do nosso quadro de valores e daquilo que seja viável para nós.
Vozes: — Muito bem!
O Orador: — Reafirmemo-lo, uma vez ainda, perante o Mundo inquieto, que busca, na confusão e no tumulto, as suas estradas de amanhã. E submeto à meditação dos que se deixam enfeitiçar pelo sortilégio empolgante de vagas palavras mágicas ou de imprecisas fórmulas tentadoras, aquela passagem lucidíssima de um dos nossos melhores doutrinadores do último século, José da Gama e Castro:
É tempo de que os homens se persuadam que a bondade não está nos nomes, está nas cousas; que formas não são essências; e que, se a cousa é ou pode fazer-se boa, importa pouco ou nada o nome que se lhe dá...
Estas palavras escreveu-as o autor há mais de cem anos. Parecem de hoje. Como parece de hoje a sua sintese do século XIX que, por desgraça, se adapta ainda mais perfeitamente ao nosso: — «século presumido, que se gaba de ter resolvido o problema do optimismo político, sem que na realidade tenha feito mais do que aumentar a massa (já enorme) das calamidades humanas...».
Vozes: — Muito bem!
O Orador: — Sr. Presidente: receio ter sido demasiado longo; receio também que a maioria dos que generosamente quiseram ouvir-me se queixe de que não falei quási da proposta de revisão constitucional.
Quero esperar, no entanto, que alguns, pelo menos, tenham a bondade de reconhecer que, no fundo, através de tudo quanto disse — não falei, afinal, de outra cousa.
Receio, por fim, que me acusem de repetir apenas o que já todos perfeitamente sabiam e disseram muito melhor. Se assim foi, a razão já a dei atrás: interessam-me menos as emendas à Constituïção do que o que não precisou nem precisa de ser emendado. A minha tendência irresistível é mais para admirar o que dura do que para festejar o que muda — para me prender ao que significa permanência do que ao que significa novidade. E, aqui, o novo é muito pouco — e o permanente é quási tudo.
Aproveitei pois o ensejo para fazer, outra vez, uma afirmação de fé nos princípios e nos métodos que nos valeram poder ser como somos, e continuar a sê-lo, quando tantas coisas são abaladas ou destruídas no Mundo.
Tenho dito.
Vozes: — Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Presidente: — Está ainda inscrito para tomar parte na discussão na generalidade o Sr. Deputado Mendes de Matos, que falará na sessão de amanhã.
Com a sua intervenção ficará encerrado o debate na generalidade, seguindo-se imediatamente o debate na especialidade.
Está encerrada a sessão.
Eram 18 horas e 5 minutos.
Srs. Deputados que entraram durante a sessão:
Alberto Cruz.
Alexandre de Quental Calheiros Veloso.
António de Almeida.
Artur de Oliveira Ramos.
João de Espregueira da Rocha Páris.
João Mendes da Costa Amaral.
José Alçada Guimarãis.
José Nosolini Pinto Osório da Silva Leão.
José Pereira dos Santos Cabral.
Manuel Maria Múrias Júnior.
Mário Correia Teles de Araújo e Albuquerque.
Rui Pereira da Cunha.
Sebastião Garcia Ramires.
Srs. Deputados que faltaram à sessão:
Acácio Mendes de Magalhãis Ramalho.
Amândio Rebêlo de Figueiredo.
Ângelo César Machado.
Jorge Viterbo Ferreira.
José Dias de Araújo Correia.
José Gualberto de Sá Carneiro.
José Ranito Baltasar.
O Redactor — Luiz de Avillez.
Imfbbxia Nacional de Lisboa