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23 DE JANEIRO DE 1947 345

cão óptima. Algumas definições, de filósofos eminentes, não tem conteúdo prático.

Em regra, o sonso comam considera a cultura geral tendente a desenvolver a inteligência, a sensibilidade e a vontade, de modo que determinado indivíduo, no sen comportamento social, compreenda o que ele próprio faz e o que fazem os outros homens que não são da sua profissão; que saiba observar e comparar; que possua dignidade profissional; que tenha sua formação moral; que manifeste senso estético; que, em suma só apresente preparado para viver com aprumo, conscientemente, e não como peva de máquina.

Ora, se a cultura geral é necessária a todos, não deve perder só du vista que a uniformidade dos programas preparatórios liceais, técnicos, industriais, comerciais e agrícolas acarreta perigo para a mentalidade profissional, sobretudo do operário.

Tal programa, de um enciclopedismo que mesmo como enciclopedismo é deficiente, tem carácter demasiado genérico, teórico, e sem relação com qualquer oficio. La plume chanse l'outil.

Á consecução da cultura geral nas escolas técnicas realiza se de modo diferente dos liceus.

Assim, quanto às línguas, um futuro operário especializado precisa de conhecer uma língua estrangeira, pelo menos, para compreender catálogos, instruções, indicações de gravuras, quer por imposição de ofício, quer por mera curiosidade profissional. Não se torna necessário que fale a língua e conheça os mistérios da sua fonética.

Um curso desta natureza, adaptado especificamente para ente fim prático, não necessita de ultrapassar dois anos. Os alunos do liceu seguem outro rumo, são submetidos a outra orientação. Assim, no meu liceu há alunos de inglês do 4.º ano que consomem todo o 1.º trimestre com a fonética da língua inglesa. Não pode ser nunca este o caso no ensino técnico preparatório ou para determinados sectores do mesmo ensino (serralheiros mecânicos).

O ensino da Geografia nas escolas técnicas, demais a mais querendo dar lhe valor para orientação profissional, tem de ser basea-lo na sua parte económica, desprezando um pouco os outros capítulos.

Ao passo que no liceu o bom gosto se desenvolve sobretudo através de exercícios literários e de visitas de estudo, na escola técnica o senso estético apura-se com o desenho, com as artes plásticas e com os trabalhos de oficina.

O Sr. Marques de Carvalho: - É isso que a proposta quer.

O Orador: - É isso que ela não quer, e eu vou demonstrá-lo.

O Sr. Marques de Carvalho: - Bem; vejamos a demonstração.

O Orador: - O problema não se resolve com a simplicidade e desenvoltura com que o faz a proposta do Governo, aplaudida, ainda que ligeiramente modificada para melhor, pela douta Câmara Corporativa. Pode comprometer-se irremediavelmente o futuro moral e profissional do operário com a articulação rígida e uniforme que se pretende estabelecer, entre o ensino primário e o ensino profissional.

Eu vou-me servir das expressões de um engenheiro milanês que definiu no Congresso de Roma de 1936, com uma simplicidade inabalável, o que caracteriza o ensino técnico e o ensino clássico.

Também, nem o parecer da Camará Corporativa, nem a proposta do Governo nos esclarecem o que são, na realidade, o ensino técnico e o clássico.

É uma terceira lacuna que eu tenho de apontar.

Os ensinos clássico e científico, sobretudo o ensino clássico, aumentam o capital estático, isto é, o património cultural do indivíduo ou da colectividade. Esse património intelectual pode ser campo fértil de trabalho, mas não é o próprio trabalho.

O ensino técnico tende, pelo contrário, a constituir e a dirigir, inspirado na ciência, o próprio trabalho, com é fim de o tornar mais útil e mais produtivo.

Em resumo, não deve esquecer se que o verdadeiro espírito e o objectivo das escolas técnicas esta no papel de operários que os seus alunos devem, na sua enorme maioria, desempenhar na vida; não deve pretender se fazer do operário um estudantinho sem o real conceito da sua profissão.

Segundo a proposta, a criança será orientada no sentido de uma orientação profissional, mas pergunta-se se depois desse estudo a criança deve seguir a indicação profissional que lhe foi dada.

Gemelli, o grande psicólogo italiano, um grande entusiasta da orientação profissional desde a escola primária, incluindo o ciclo preparatório, até à entrada nos cursos profissionais, depois de confirmar a delicadeza e a instabilidade das questões da orientação profissional acentua:

Mesmo por volta dos 14 ou 15 anos, época na qual a orientação pode efectuar-se de uma maneira bastante segura, a personalidade física, intelectual e moral do indivíduo está em evolução, o que pode dar carácter de instabilidade às conclusões do investigador.

O nosso atraso é muito grande para que possam adoptar-se em Portugal os métodos de Gemelli.

Na prática, será a opinião dos alunos ou, melhor, dos pais que prevalecerá.

Antes assim, porque o homem, ser complexo, é capaz de muitas vocações e não pode confundir-se com os cães, mesmo que estes sejam de raça.

A este respeito o professor Chlensedebairgne, de Barcelona, afirma:

As manifestações dum rapaz de 14 anos acerca dos seus desejos (no caso em questão, a escolha da carreira que quer seguir) costumam ter pouco valor e até podemos afirmar, baseados na nossa prática, que uma pergunta concreta sobre eles deixa o rapaz atordoado, respondendo a primeira coisa que lhe vem à cabeça.

Todos os professores que se têm dado ao cuidado de seguir a carreira dos seus alunos, procurando indagar o que deram na vida prática, possuem a noção exacta de que o valor do homem como profissional se não mede tanto pela mais fácil compreensão de determinada matéria ou polo seu entusiasmo por determinado ramo, ou por qualquer aptidão mais vigorosa, mas sobretudo pelo amor à profissão, pela tenacidade, pelas qualidades de trabalho.

A tenacidade vence todas as barreiras, criando personalidades novas, fortes, originais, devotadas apaixonadamente ao seu mister.

Os ingleses, como gente prática, adoptam critério muito elástico.

Kennoth Lindsay oferece-nos dados típicos na sua obra sobre A Educação na Inglaterra:

Entre os 5 e 14 anos a instrução é obrigatória. Entre os 10 e 12 anos os alunos são submetidos a uma