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378 DIÁRIO DAS SESSÕES — N.º79

Não é meu intento vir discutir os pontos de vista gerais expostos pelo Sr. Dr. Pinto Coelho, com os quais concordo inteiramente, sobretudo no que respeita à imperiosa necessidade de se substituir o indesejável sistema de transportar bois vivos, que só Portugal ainda utiliza, pelo recomendável processo de transportar carcaças frigorificadas, que todos os países do Mundo adoptam, substituição que o Sr. Dr. Pinto Coelho apresentou e defendeu com uma larga série de argumentos e razões absolutamente indiscutíveis.

Desejo, porém, e para isso é que pedi a palavra, fazer algumas considerações sobre determinadas passagens do seu discurso, por me parecer que carecem de ser esclarecidas, para melhor entendimento do assunto e para que não possa ser mal ajuizada a acção das pessoas e serviços que em Angola tom cuidado da exportação dos bois para Lisboa, se bem que eu não tenha a menor dúvida de que não foi sua intenção atingir essas pessoas e esses serviços, e ainda, se me permitem, para repor com um pouco mais de crédito a triste posição do inofensivo e pachorrento boi de Angola, que tantas vezes tem sido tratado na metrópole injustamente.

É o que vou fazer, e serei breve.

Em defesa da sna tese, que, repito, considero verdadeira, o ilustre Deputado Sr. Dr. Pinto Coelho disse que os bois vindos de Angola para o abastecimento da capital eram em número insignificante, pouco ou nada aliviando as vicissitudes do consumo, que ordinariamente chegavam e chegam muito depreciados, tanto em quantidade como em qualidade de carne, e que, segundo informa, coes merecedoras do crédito que lhe tinham fornecido os bois de Angola eram portadores de doenças conta giosas, que punham em perigo o armentio metropolitano"

À primeira observação do Sr. Dr. Pinto Coelho direi* que não tem sido da mesma opinião o Ministério da Economia e o público de Lisboa.

Embora o gado de Angola não viesse resolver o grave problema do abastecimento, veio em parte diminuir a escassez de carne, que ein algumas oportunidades seria total sem o seu concurso. -,

Efectivamente, de Junho de 1942, que foi quando começou a exportação de gado de Angola coordenada pelo Ministério da Economia na metrópole e pelos serviços de veterinária e indústria animal em Angola, até Junho de 1946, que é a data mais recente a que posso reportar-me, isto é, durante quatro anos, Angola exportou para Lisboa 10:229 bois, coin o peso vivo, médio, de 406 quilogramas na ocasião do embarque, que renderam no matadouro de Lisboa 193kg,400, peso limpo médio, o que representa, para um cômputo de rendimento de 50 por cento, uma perda de 9kg,600. áe carne por boi, perda que não podemos considerar muito grande tendo em conta as circunstâncias também médias, mas sempre desfavoráveis, da estadia e da viagem a bordo, cheia de contingências de toda a ordem, muitas delas imprevisíveis—o boi que enjoa e não come; o tratador que enjoa e não dá de comer e beber aos bois; maior duração, não prevista, da viiigem; temporais; o abaixamento de temperatura à aproximação de Lisboa; a maior ou menor estadia em Lisboa aguardando matança, etc.

Assim, nos mesmos navios e com as mesmas exigôn-cias de embarque, há viagens óptimas, viagens razoáveis e viagens péssimas. São as contingências que resultam da própria natureza da carga.

Ainda relativamente ao pequeno número de bois fornecidos, não tem Angola culpa alguma disso. Forneceu 10:000, como podia ter fornecido o dobro, se tivessem ido navios carregá-los.

Devo ainda informar que, a par deste fornecimento à metrópole, Angola forneceu também cerca de 1:000 bois para consumo das tropas expedicionárias de Cabo Verde

e abasteceu totalmente as necessidades da navegação, que durante todo o período da guerra só coutou com Angola.

Quanto à segunda observação do Sr. Dr. Pinto Coelho, isto é, quanto à qualidade da carne, reportar-me-ei ao que está escrito num artigo do Noticias Agrícola a propósito de um relatório entregue à Câmara Municipal de Lisboa pelo técnico que especialmente estudou o rendimento do gado angolano naquele matadouro.

Nesse artigo se diz:

Tivemos agora ocasião de estudar esse relatório, e convém que se diga, em defesa dos bovinos africanos, que tudo quanto supúnhamos era verdadeiro: o gado bovino de Angola rende para os talhos sempre niais do que o da metrópole. Logo, o desconto que durante tantos anos era feito pela Câmara de Lisboa, em prejuízo do gado angolano, era injusto.

Nesse relatório, que é o resultado de estudo consciencioso de um técnico competente, se prova ainda que, comparativamente ao gado mirandês e alentejano, o gado de Angola é mais rico em carne o em sebo e menos rico em osso, abonando sobretudo esta melhoria na chamada carne do l.a

E para que V. Ex.ª8 melhor se certifiquem do que a exportação tem sempre melhorado em qualidade vou referir alguns números relativos às classificações obtidas no matadouro de Lisboa nestes últimos anos.

Assim:

[ver imagem na tabela]

À terceira observação do Sr. Dr. Pinto Coelho tenho a dizer:

Não é do meu conhecimento particular nem nunca foi comunicado à colónia de Angola pelas instâncias veterinárias oficiais da metrópole que o gado de Angola fosse portador de qualquer moléstia contagiosa que viesse pôr em perigo o capital-gados da metrópole e não admito que, a ter-se dado o facto, ele pudesse ter ficado oculto nas repartições responsáveis.

Algumas vezes, é certo, tem havido a- tal respeito vagos receios, que os factos, felizmente, não confirmaram.

Ainda há poucos dias a imprensa deu notícia de duas partidas de bois que chegaram a Lisboa em más condições. O que sucedeu?

Um navio chegou a Lisboa, tendo morrido bastante gado em viagem e com o restante excessivamente magro, que as autoridades veterinárias não deixaram abater.

Posto em lazareto e em regime de engorda, apesar de a época ser muito má, estou informado de que os bois estão engordando e que se não verificaram mais baixas após o desembarque, sendo normal o seu estado sanitário.

Outro navio chegou também a Lisboa com bastantes baixas durante a viagem e o restante gado gordo, que foi abatido imediatamente, tendo sido classificado quase na totalidade de 1.ª categoria. Como se vê, também o seu estado sanitário era bom, pois é essa condição a que primeiro influi na classificação.

Como complemento destes dois casos: ainda mais recentemente chegou outro carregamento de gado — o do vapor Saudades —, que me dizem ser dos melhores que têm chegado a Lisboa.