30 DE JANEIRO DE 1947 433
inovação. Actualmente só existem cursos de mestres de obras, nada havendo equivalente para a indústria, se equivalente se lhe pode chamar, dado o carácter especial destes cursos, como já notei. Mantendo a preparação do mostres de obras, que presta bons serviços, quer-se agora fazer muito mais. Só quem viver muito longe da indústria não compreenderá a vantagem da ideia que se vai pôr em prática; só quem não andou por fábricas, a lidar com esses homens providos de maravilhoso senso das coisas técnicas, mas quantas vexes sem saber ler, com excepcionais qualidades de comando, de domínio o prestígio sobro os seus companheiros de trabalho, mas sem qualquer conhecimento ou base cientifica nem preparação intelectual, não sentirá o maior interesse pela solução que se vai tentar.
Se se conseguir dar a estes operários chefes conhecimentos que os valorizem o para a apreensão dos quais eles têm particular receptividade, em virtude do seu extraordinário valor, prestar-se-á à indústria enorme serviço. Naturalmente desta valiosa inovação não se tirará o efeito máximo sem o auxílio dos industriais, que devem enviar os seus, homens mais aptos às escolas, que os aperfeiçoarão. É evidente que estes cursos terão pouca frequência, pois raras são as qualidades de comando, mas esse facto não constitui razão para se abandonar a ideia.
4.º Relativamente à falta de educação doméstica nos cursos femininos, soluciona-se a deficiência com ensino da puericultura e economia doméstica, de grande importância para as futuras donas de casa. Assim se pretende preparar as raparigas para a missão mais nobre, de maior valor moral e social, que lhes está reservada, lembrando-lhes cada dia que para ser mães e esposas estão destinadas e dando-lhes conselhos e incutindo-lhes hábitos criadores de vida sã.
5.º No que diz respeito à educação dos trabalhadores rurais, é notória a sua ausência por todo o País.
A ignorância do nosso camponês é bem conhecida e, se em relação ao aperfeiçoamento dos métodos de cultura alguma coisa tem feito o Ministério da Economia, a verdade é que o da Educação ainda não procurou educar as massas rurais. A tarefa é vastíssima e as condições de vida do trabalhador agrícola dificultam extraordinariamente a solução.
Não nos cabe diminuir o valor da proposta no anseio que exprime de educar o camponês, elevando-lhe o nível de conhecimentos, mas, dado o número de trabalhadores da terra que não tem instrução primária, parece aconselhável, embora só nos primeiros tempos, tolerar a admissão àqueles que tenham menos luzes do que o mínimo admitido na proposta.
Procura-se uma solução pela qual não se abandone o rural à saída da escola primária, como actualmente se faz, e de que resulta, muitas vezes, dentro de poucos anos ele já não saber ler. Pretende-se, ao mesmo tempo que se levam ensinamentos práticos ao camponês, não lhe deixar esquecer o que aprendeu nos cursos primários e dar-lhe mais luzes à inteligência, base indispensável para melhor agricultor se fazer.
Quer-se aperfeiçoar o técnico e elevar o homem? Mantenham-se e espalhem-se o mais possível os cursos de aperfeiçoamento técnico do Ministério da Economia, mas faça mais alguma coisa o da Educação.
Visto como a proposta soluciona algumas deficiências notadas na organização do nosso ensino técnico, passemos a apreciar outros pontos.
Algumas palavras sobre a maneira como se pretende educar e instruir os aprendizes e que constitui um dos aspectos mais interessantes da proposta. Será o ensino, organizado em regime de colaboração com os industriais, diurno e incluído no horário normal dos jovens trabalhadores. Este sistema permitirá que a aprendizagem se faça de forma compatível com as condições de resistência dos alunos, visto que pouco esforço lhes exige a mais e por isso não perturbará o crescimento e desenvolvimento próprio da idade. Por estas razões está-lhe certamente reservado um rendimento muito superior àquele que se observa actualmente e tem um carácter de humanitarismo são que o torna eminentemente simpático.
Levantaram-se dúvidas sobre a eficiência do sistema preconizado na proposta, julgando-se que os patrões se negarão a autorizar a saída dos aprendizes para ar escola, levantando-lhes toda a espécie de dificuldades. E possível que isso com alguns pequenos industriais e proprietários «lê pequenas oficinas, mas há já grandes indústrias e importantíssimas empresas que aceitaram a ideia com satisfação, prestando-se da melhor vontade a colaborar. A própria Câmara Corporativa, com o seu apoio, trava aprovação da indústria, nela largamento representada. É natural que aqueles industriais que por incultura ou má orientação não compreendem nem sentem as obrigações que lhes cabem em cruzada de tão Ingrata, projecção na vida do País vejam cedo as suas oficinas o fábricas abandonadas pelos aprendizes, que acorrerão aos locais de trabalho onde lhes facultem possibilidades de acesso.
Terá aspecto violento II base IV? Não o creio, e pároco prová-lo a forma como a ideia já foi recebida pela indústria. Os Governos Inglês e Francês, quando, há cerca do trinta anos, em pleno período de política e economia liberal, legislaram no mesmo sentido, não tinham certamente intuitos subversivos, como o não tem a Suíça, onde desde 1930 se usa o sistema que se deve pôr em prática em Portugal agora.
Os contratos de trabalho obrigando os patrões a deixar sair os aprendizes para a escola muito poderão auxiliar esta modalidade.
Aos cursos de formação também quero dedicar algumas palavras. Volto a insistir no ensino do desenho como meio de educação artística que deveria acompanhar sempre a formação do futuro operário.
Nesta fase deve fazer-se o desenho de ornato o figura, em regime de frequência livre quando se lhe não possa dar forma obrigatória.
Merece também algumas considerações o medo. que se encontra espalhado, de que a orientação a dar aos cursos na sua futura organização se espraio em disciplinas do cultura geral e leve os rapazes à convicção de que são doutores, concorrendo assim para o abandono das profissões manuais. Parece que em algumas escolas só tem notado esse abandono, mas a verdade é que a fuga é menos acentuada do que em geral se julga.
Assim apresenta-se o facto de embora muito frequentadas as escolas, serem poucos os diplomados por elas, e desses poucos ainda alguns não seguirem a profissão como prova, de desinteresse dos diplomados pela carreira que escolheram. Os números aqui apresentados pelo Sr. Deputado Teófilo Duarte, para não induzirem em erro. precisam de ser devidamente interpretados. Convém pôr em destaque que esses números não querem dizer que de 900- alunos só 14 é que terminaram, porque esses 900 matriculados na escola o estão nos cinco anos que constituem o curso e que, deles, todos os anos sairão alguns.
Permita-se-me uma imagem puramente técnica: «O rendimento de uma fábrica não se obtém em relação à matéria-prima. que está em laboração dentro dela, mas em relação à que entrou». Ter-se-ia uma noção mais exacta do rendimento notando o número dos que saem do último ano em relação ao dos que entram no primeiro.
A fraca percentagem de alunos que saem em relação aos que entram ou que frequentam uma escola é comum a todas elas. quer primárias, quer médias, quer superiores. Todos nós sabemos quantos dos nossos companheiros dos primeiros tempos chegaram ao fim da jornada