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700 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 94

jamais o engenheiro. O negociante, o industrial e o banqueiro, por mais que labutem nas suas profissões, jamais chegarão a economistas, a não ser que o cavador, o mecânico, o comerciante e o banqueiro completem o conhecimento vulgar que lhes dá o exercício das suas profissões com os estudos necessários para subirem ao conhecimento científico.
Pelo contrário, ao homem culto bastará uma vivência mínima das coisas para chegar ao seu conhecimento científico.
O prestígio que entre nós têm os chamados práticos é filho quase sempre da ignorância; e o desprestígio dos chamados teóricos vem as mais das vezes de uma confusão proveniente da mesma fonte.
Sejamos homens do nosso tempo e lembremo-nos de que na Inglaterra, nação essencialmente prática, se está reorganizando o ensino público com o objectivo de que, dentro de trinta anos, a décima parte da população tenha tirado um curso universitário.
Na Inglaterra pensa-se que a formação teórica tem de ser levada até às camadas mais profundas da população.
Também se bacorejou, cá dentro e lá fora, que no ano passado anunciei catástrofes iminentes, que... felizmente se não deram. O que eu disse no ano passado está arquivado no Diário das Sessões, e é fácil de verificar que eu não anunciei catástrofes iminentes. O que ou disse foi que havia grande semelhança entre a situação monetária de 1910 o a de 1940 e até entre o estado de espirito das duas épocas. Fiz a comparação ponto por ponto entre as circulações monetárias, os números-índices dos preços e dos câmbios e concluí textualmente

Seja qual for o rumo que as coisas venham a tomar no futuro próximo, a verdade é que estamos em presença dum problema monetário gravo em que é preciso pensar a sério antes que ele se complique, como sucedeu em 1919.

E acrescentei:

É verdade que, tal como sucedia em 1919, há também hoje quem penso que este problema se resolverá por si logo que a nossa balança comercial se torne negativa. E não digo que isso fosse de todo impossível, mas é muito pouco provável, porque exige a concorrência de circunstâncias que não são do prover no actual momento.

Como V. Ex.ªs vêem, eu não anunciei catástrofes iminentes, apenas disse que estávamos em presença de um problema monetário, cuja gravidade então ninguém queria ver e que hoje, volvido um ano, ninguém se atreve a negar. Todos a reconhecem.
Acrescentei que tal problema se não resolveria de seu, como muitos julgavam, e pelo menos até hoje é evidente que acertei.
Em seguida passei a fazer a comparação entre os valores reais das receitas e despesas orçamentais em 1919 o em 1945, mostrando que em ambos os períodos em que se deram as duas grandes guerras tanto as despesas como as receitas baixaram em valor real, e concluí:

Quais foram, depois da outra guerra, os efeitos desta situação monetária e orçamental sobre grandes sectores da população portuguesa e sobre os serviços públicos está ainda na memória de muitos. Todos aqueles que viviam de rendimentos fixos foram altamente prejudicados e muitos lançados na pior das misérias, que é a dos que tiveram e deixaram de ter. Foram prejudicados aqueles que trabalhavam por conta de outrem, que ó a imensa maioria dos cidadãos. Foram prejudicados todos os credores, designadamente os do Estado, entre os quais se encontravam as Misericórdias e muitas casas de caridade, muitos velhos, milhares de órfãos e viúvas, que só desses juros viviam. Foram prejudicados os serviços públicos pela miséria a que foram reduzidos os vencimentos e as verbas reais para material.
A situação miserável que a desvalorização da moeda criou aos funcionários foi tal que muitos deles, e os melhores, debandaram para as empresas particulares, onde os seus serviços eram mais apreciados e mais bem pagos. Outros passaram a repartir a sua actividade entre o Estado e os particulares para poderem arranjar por fora aquilo que o Estado lhes não dava. Outros deixaram-se corromper, porque a necessidade é inimiga da virtude. Não menores e mais visíveis foram os estragos causados nos serviços públicos pela insuficiência das verbas para compra de material. O caso típico foi o das estradas, por estar mais à mostra, etc.

E terminávamos:

Pois, Sr. Presidente, estamos já caminhando para um estado de coisas semelhante a este. Os vencimentos do funcionalismo são de verdadeira miséria e o seu descontentamento é grande e justificado. As verbas para material começam a não chegar e os serviços públicos não podem deixar de sofrer com isso. A debandada do funcionalismo tenho a impressão de que está para começar, senão começou já, e o resto não tardará em vir.

Isto disse eu no ano passado.
Foi ou não o que sucedeu ? O que disse aqui há um ano, na discussão da lei de meios, foi isto, e saiu certo. Se tais sucessos se podem chamar catástrofes (e alguns o são), importa pouco. O que importa para o caso ó a justeza de visão; nada mais.
Antes de passar adiante permita-mo V. Ex.ª, Sr. Presidente, que faça aqui o meu primeiro reparo ao relatório que S. Ex.ª o Sr. Ministro das Finanças se dignou enviar à Assembleia Nacional. Também S. Ex.ª faz uma comparação entre as duas épocas, mas, salvo o devido respeito, S. Ex.ª comparou datas que não são comparáveis, porque tomou para pontos de partida o ano da nossa intervenção na primeira Grande Guerra (1916) e o começo da segunda (1939).
No meu discurso do ano passado tomei para pontos de partida as datas em que começaram e terminaram as hostilidades na Europa. Estas datas creio que são homólogas. As que tomou o Sr. Ministro das Finanças, salvo o devido respeito, parece-me que o não são.
Em seguida tomei tempos iguais e relativamente curtos e fiz a comparação nas datas correspondentes. Mas a experiência do tempo decorrido de então para cá veio mostrar que a marcha para a normalidade no Mundo se está fazendo muito mais lentamente agora do que no fim da primeira guerra mundial.
Se a velocidade destas duas marchas fosso a mesma, o momento presente teria por homólogo os meados de 1920. Mas, como agora se está andando muito mais devagar, para sermos razoáveis teremos de fazer a comparação com uma data anterior. Ora o Sr. Ministro das Finanças fez a comparação com o fim de 1922! Claro que os resultados a que chega nesta parte do seu relatório ficam sem base.
Sr. Presidente: vejamos agora o que disse no passado mês de Dezembro na discussão da lei de meios. A quem ler o meu discurso com a devida atenção tornar-se-á evidente que a pedra angular em que todo ele se apoia é constituída pelos seguintes períodos:

O problema básico de qualquer orçamento é o monetário, porque a moeda é a medida comum dos