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752 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 97

proferidas no penúltimo conselho técnico dia secção das Ias da Junta Nacional dos Produtos Pecuários, a indispensabilidade do recurso aos prémios de exportação.
Não foi ainda a conveniência de provocar nesta altura a baixa da lá nacional, visto que isso seria faltar a compromissos formais do Estado, tomados durante a guerra, em que a lavoura abasteceu quase exclusivamente o País, vendendo as suas lãs por pouco mais de metade do preço por que outros compradores lha pagariam, e contribuindo ainda anualmente com cerca de meio milhão de contos de produtos essenciais à vida, provenientes do gado lanígero, para vencermos o isolamento económico em que a guerra nos lançou.
Também se não justificaria a baixa de preço das nossas lãs não só porque do livre jogo da oferta e da procura resultou a sua valorização, como também porque esta valorização proveio da evolução das cotações no estrangeiro e da margem de lucro de uma indústria que se acha trabalhando em cheio com as mesmas taxas de laboração do período em que trabalhava em regime deficitário.
Não se justificaria ainda pela simples comparação de custo de produção entre as lãs nacionais e as importadas, levando em linha de conta que a renda de um hectare de terra do tipo entregue à exploração ovina regula entre nós por 120$, ao passo que em países como a Argentina, a Austrália e a Nova Zelândia quase não pesa ainda nos custos de produção.
O custo de produção das lãs nacionais é posto em evidência no quadro seguinte;

Mapa dos resultados da exploração ovina na base de 100 cabeças de gado valendo

[Ver Tabela na Imagem]

Não foram finalmente as exigências de qualidade que determinaram decisivamente o excesso das importações.
De mistura com lãs finíssimas, importaram-se algumas outras de inferior qualidade, há muito retidas e, como tal, inferiorizadas, que, longe de elevar o nível médio da qualidade da lã utilizada pela nossa indústria, antes actuaram em sentido inverso. Este último aspecto é tanto mais impressionante quanto é certo que uma parte relativamente importante das lãs importadas acha-se, por insuficiência de acondicionamento e de armazenagem, se não total, pelo menos parcialmente avariada.
O que determinou tão avultada importação foi a febre, bem compreensível, de laboração que se apossou cia indústria, a conveniência de aproveitar um momento favorável às suas reivindicações e, finalmente, o propósito, que se justifica, de dividir quase as mesmas despesas gerais por um número de unidades fabricadas duas, três e mais vezes maior.
Desse programa de liberdade de movimentos, aliás enunciado na exposição da Federação Nacional dos Industriais de Lanifícios, se poderá dizer o mesmo que das liberdades individuais.
Uma e outras são normais a legítimas até ao limite em que não colidam com as liberdades alheias.
Ora a liberdade, ou, melhor, o direito de importar lã estrangeira, foi levada a um limite tal que prejudicou a economia nacional e colidiu com o direito que a lavoura tinha de vender a preço remunerador a sua lã, de a colocar adiante ou, que mais não fosse, em paralelo com a matéria-prima estrangeira e, finalmente, de a apresentar em condições da sua mais racional valorização como matéria-prima.
Como consequência do que se vem passando, não puderam as lãs nacionais ser consumidas, nem sequer valorizadas, pelo recurso à penteação, como o demonstram os seguintes elementos de laboração da fábrica de Alhandra:

Quilogramas
Lãs nacionais penteadas em 1946 da tosquia de 1945 .................... 586:737
Lãs nacionais penteadas em 1946 da tosquia de 1946 .................... 470:660
Lãs estrangeiras ................... 2.391:803

A divergência entre estes números e os da exposição provém do facto de a Federação Nacional dos Industriais de Lanifícios ter englobado num só ano as lãs nacionais provenientes de duas tosquias, o que altera o raciocínio quanto à apreciação do escoamento das nossas lãs.
Também a determinação que faz da percentagem de laboração das lãs nacionais e estrangeiras não está certa pelo mesmo motivo e ainda porque o que importa determinar não é a relação entre o que entrou e aquilo que se penteou, mas sim a relação entre a quantidade de lã nacional produzida e a quantidade penteada.
A baixíssima percentagem de lãs nacionais penteadas resulta da política seguida pela empresa de Alhandra, que, recusando a entrada das lãs portuguesas, deu decidida preferência às lãs estrangeiras, muitas das quais de sua própria importação.