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6 DE MARÇO DE 1947 753

Porque as importações continuam, e a somar às partidas de lã nacional por vender haverá muito brevemente uma nova colheita, não é difícil prever uma baixa, que atingirá não só a lã nacional, como o valor global dos ovinos, levando a amargura e a desilusão a milhares de produtores e baixando o nível de produtividade económica de cerca de 3.500:000 hectares do solo metropolitano, predominantemente explorados com esta espécie, ou seja cerca de 43,75 por cento da superfície do País.
Arguménta a Federação dos Lanifícios com o interesse de ordem social de 20:000 operários, a que junto, como é de justiça, alguns centos de patrões e de técnicos.
Também eu desejo ver acautelados os legítimos interesses desses industriais e operários e alargadas as possibilidades industriais do País até onde seja aconselhável, não só porque daí resultaria uma melhoria do nosso problema demográfico, como também porque da intensificação industrial bem compreendida, com a consequente redução dos custos de fabrico, só deveriam resultar melhores condições de venda e de produção, reflectindo-se no nível de vida de 264:000 ovinicultores e de uns 75:000 maiorais, entre adultos e adolescentes, não falando em guardas de pastagem, pessoal de tosquia, ganhões e outro pessoal empregado no cultivo das terras fertilizadas pelo gado lanígero e no pessoal adstrito às indústrias derivadas do leite, o que tudo somado perfaz no campo social muito mais de 35 milhões de jornais e no campo económico um valor global de salários que corresponde â cerca de 460:000 contos.
Se houvéssemos, pois, por errada concepção económica, de considerar antagónicos interesses que são afins, nenhuma dúvida restaria de que a balança por onde aferíssemos o interesse social de uma e outra destas actividades se inclinaria para o lado da produção.
Sr. Presidente: feita desapaixonadamente a crítica da orientação seguida e apontados alguns desvios, cumpre-me apresentar algumas sugestões, o que faço a título de modesto contributo.
Assim, no que respeita à necessidade, por todos reconhecida, da instalação de uma ou mais penteações, parece-me que o problema consiste em saber se a iniciativa compete à indústria, ao comércio das lãs ou à produção.
Tendo demonstrado já que no regime de liberdade de comércio de lãs em que actualmente vivemos só a produção carece do recurso da penteação, passo a demonstrar que isso é um axioma dentro e fora do País.
Assim, pelo que respeita a Portugal, não obstante existirem dispersas em poder dos industriais cerca de quarenta e quatro penteadeiras, não foi a indústria de lanifícios que montou a única unidade de penteação eficiente que entre nós existe, mais sim a produção e o comércio internacionais das lãs.
Basta citar que a actual Empresa de Penteação de Alhandra é constituída pelas três seguintes entidades:
Segard & C.ª - grandes produtores e comerciantes mundiais de lãs;
Motte & Cº - grandes penteadores de lãs, trabalhando em diversos países em regime de conta própria e à façon;
Carlos Farinha, Limitada - comerciantes de lãs.
Do que se passa, por exemplo, em Inglaterra é, entro outros, testemunho seguro o artigo publicado no Jornal do Comércio, no dia 12 de Fevereiro, pelo economista inglês G. C. Allen, do qual extraio a seguinte passagem:

O negociante tias lãs compra a matéria-prima em bruto, escolhe, mistura e transforma-a em artigos penteados por intermédio de uma indústria de penteação que trabalha normalmente à comissão. O proprietário de fiações compra, por seu turno, estes artigos penteados, transforma-os em fios e vende-os ao tecelão, que faz passar a mercadoria por diversos processos fabris.

Esta separação das actividades, verificada quase por toda a parte, não provém de mera casualidade, antes obedece a imperiosas razões económicas, como passo a demonstrar.
Escolho para o efeito uma partida de lã já bastante Seleccionada pertencente ao Sr. Ricardo Gião, de Reguengos, lavada e classificada na fábrica de Alhandra.
Considerados o seu rendimento e os preços da tabela de 1945, correspondiam-lhe na base de lã suja, lavada e penteada, respectivamente, os seguintes valores por arroba:

Preço em sujo:

Merino fino ............... 16,69% X 39$00 por quilograma 6$50,9
Merino corrente ........... 31,70% X 35$00 por quilograma 11$09,5
Cruzado fino .............. 43,69% X 28$00 por quilograma 12$23,3
Cruzado médio ............. 8,00% X 24$00 por quilograma 1$92,0
31$75,5 X 7,5 = 238$17 cada arroba.

Preço em lavado:

Merino fino ............... 16,69% X 49$30 por quilograma 8$22,8
Merino corrente ........... 31,70% X 44$90 por quilograma 14$23,3
Cruzado fino .............. 43,69% X 37$20 por quilograma 16$25,2
Cruzado médio ............. 8,00% X 32$80 por quilograma 2$62,4
41$33,7 X 7,5 = 310$02 cada arroba.

Preço em penteado:

Merino fino ................ 16,69% X 68$90 por quilograma 11$49,9
Merino corrente ............ 31,70% X 63$50 por quilograma 20$12,9
Cruzado fino ............... 43,69% X 54$20 por quilograma 23$67,9
Cruzado médio .............. 8,00% X 48$90 por quilograma 3$91,2
59$21,9 X 6,75=399$72

Valor das blousses ........................... 30$00
Preço por arroba .............................429$72