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6 DE MARÇO DE 1947 745

anos? Quais as consequências ruinosas para ela e para a produção se as tendências altistas momentâneas do mercado internacional da lã mudarem de sinal?!
Todos V. Ex.ªs prevêem, como eu, a acção depressiva na economia nacional dessa montanha de lã Todos V. Ex.ªs concordarão comigo que é um tremendo desfalque no mercado monetário e na reserva de divisas. Todos V. Ex.ªs concedem que é um capital empatado a vencer juros e a depreciar-se. A lã avaria-se, tanto mais que entraram 4.851:440 quilogramas de lã em rama suja que as nossas penteadeiras e fiações não poderão trabalhar em curto prazo, circunstância adversa à sua conservação.

O Sr. Melo Machado: - Algumas lãs estão nos cais a apodrecer e sobre a lama.

O Orador: - E outras marcharam em grande velocidade dos cais para Alhandra, porque estavam quase em condições de combustão espontânea.
Sr. Presidente: a salutar política de fomento lanar ruiu mercê da insubmissão e imponderação da indústria.
Tudo aconselhava a que se prosseguisse e animasse o aumento da produtividade unitária do nosso armentio, se melhorasse o quilate do velo, pela sua selecção, classificação e penteação, indo-se até ao abastecimento quase integral da indústria com matéria-prima nacional, diminuindo-se os encargos em ouro e retribuindo-se melhor a produção, fazendo-a participar dos lucros exagerados dos industriais, enriquecidos à sombra da protecção pautal.
Mas a perspectiva para eles, num futuro próximo, também não é risonha. São fáceis de deduzir as graves consequências do superaprovisionamento, das dificuldades de exportação de tecidos quanto a preços e da limitada capacidade de consumo do mercado interno.
Oxalá que 1947 não seja o limiar de uma nova e mais grave crise para a produção lanar e para a indústria dos lanifícios, como aquela de que saíram em 1939.
Mas o mais doloroso é verificar-se que os 363:339 contos, valor da nossa exportação de vinho do Porto em 1946, não cobrem a imoderada importação de lãs, que não hesito em classificar de delito de lesa-economia.
E para atermar este capítulo, um conceito genérico, à guisa de aviso:
Não se promovam importações, embora de subsistências, com o intuito de normalizar o mercado e combater a especulação dos preços, sem prévio, judicioso e ponderado estudo e só na medida do indispensável. Doutro modo caminhamos para um desequilíbrio financeiro, provocando-se o êxodo de cambiais e o esgotamento dos capitais amealhados, sem contrapartida no fomento e defesa da produção e de trabalho nacionais.
Sr. Presidente: não s descabida aqui a apreciação, fugindo a pormenores, das características das lãs nacionais, para se destruir a lenda do seu baixo quilate.
Não convém à indústria que a sua colheita, selecção, classificação e penteação se pratiquem consoante a técnica e o critério seguido pelos países mais adiantados, do que resultaria a justa valorização do têxtil e o estímulo para o fomento da nossa ovinicultura no sentido patriótico, senão de auto-suficiência, pelo menos da redução dos nossos tradicionais deficits.
Em 1930 tive a iniciativa do estudo zootécnico das lãs, montando para isso um laboratório devidamente apetrechado, no que se prosseguiu e frutificou. Hoje, graças a competentíssimos veterinários especializados, conhece-se bem o valor da nossa produção lanar.
Mais tarde tentei comprar unia equipe de lavagem e penteação para determinar experimentalmente o seu rendimento industrial, mas, por respeito pelas normas
da contabilidade, malogrou-se o empreendimento. Pensei depois efectivá-lo junto do Sindicato Agrícola de Serpa, com a colaboração do meu saudoso amigo Dr. Fernandes de Oliveira, ilustre primeiro Ministro da Agricultura, mas a míngua de fundos não o consentiu.
O que tinha em mira com isto?
Estudar e classificar as lãs nacionais pelas suas características zootécnicas e industriais, de modo a determinar o seu rendimento e valor reais.
Queria que os lavradores mandassem analisar a esse ou esses centros as suas lãs, como mandam determinar o peso específico dos seus trigos; enfim, procurava a sua defesa perante a indústria dos lanifícios, como a têm em relação à da moagem.
Em tempos, como diz o meu ilustre correspondente, para esta só havia trigo, como para aquela só há lã.
Hoje há trigos moles e rijos, que se pagam segundo a tabela oficial, consoante o seu peso por hectolitro.
É preciso que as lãs se paguem segundo uma escala oficial, conforme os seus tipos e a sua cor e pelos respectivos rendimentos na lavagem.
Para isso a Junta Nacional dos Produtos Pecuários colheu os necessários elementos quando seguiu o trabalho de lavagem, de penteação e de classificação das lãs adquiridas à lavoura durante as campanhas lanares de 1943, 1944 e 1945.
A escala de classificação das lãs nacionais existe; foi proposta e aprovada oficialmente.
Pode fazer-se o confronto das classes referidas naquela escala com idênticos tipos das escalas estrangeiras; assim:
1.º Os merinos finos correspondem aos merinos 110/105 da escala francesa e aos 64's da inglesa;
2.º Os merinos correntes equivalem aos merinos 100 da escala francesa e aos 60's da inglesa;
3.º As lãs primas correspondem às 58's da escala inglesa e às primes dos franceses;
4.º As lãs cruzadas equivalem aos n.08 46's a 56's dos ingleses e às cruzadas I a IV da escala francesa.
As lãs nacionais dos tipos merinos e cruzados são apreciadas para tecidos menos macios, mais pesados e resistentes, e portanto mais duráveis.
As da Austrália, pela sua finura, toque e brancura, estão naturalmente indicadas para o fabrico de tecidos mais finos, leves e maleáveis.
Para aqui respigo, dando-lhes relevo, como oportunas, as opiniões dos abalizados e competentes industriais citados na representação da lavoura: «... o aspecto fundamental da indústria dos lanifícios é o aproveitamento integral das lãs nacionais; ... não se curou o seu estudo e não se protegeram os esforços para o conseguir».
A indústria de penteação autónoma «conseguiu já, de resto, magníficos penteados com as lãs portuguesas...».
Para conseguir «de modo completo o seu melhor aproveitamento, falta a essas empresas competência técnica para corresponder às exigências da tecelagem e do comércio de lanifícios; falta-lhes também capacidade produtora qualificada, porque na aquisição da sua maquinaria o único critério dominante foi produzir muito e utilizando penteados finos ... e porque o fabrico está bem protegido pela pauta e pelo regime de quase exclusivo».
«... em todas as instalações existentes conta-se apenas com as lãs finas e seleccionadas que os estrangeiros nos fornecem ... e nem se previu que um dia quiséssemos deixar de mandar para o estrangeiro o quase meio milhão de libras com que pagamos as lãs e os fios».
Para que V. Ex.ªs fiquem melhor elucidados, recomendo a leitura daquele documento.