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7 DE MARÇO DE 1947 765

veja V. Ex.ª que não houve quádruplo do preço, apenas o dobro.

O Orador: - Não há paridade, há diferenciais que tinham sido fixados pela concorrência de 1939, e, como tenho de partir de uma base, parto dos preços livremente estabelecidos em 1939.
Temos, assim, em 1939: lãs nacionais, 17$; lãs estrangeiras, 27$; e em 1946: lãs nacionais, 60$; lãs estrangeiras, 43$.
Se isto não ó especulação por parte dos produtores nacionais, não sei o que significa esta palavra.
Ora, quem tem sido o grande prejudicado, o verdadeiro tosquiado? Tem sido o consumidor e, principalmente, o consumidor pobre.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Melo Machado: - V. Ex.ª não tem o direito de acusar a lavoura, porque, em todo o caso, essa vítima podo vestir-se graças à lã nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Soares da Fonseca: - O que não é motivo para a despir agora...

O Orador: - A lavoura não fez nenhuma África em vender a lã... cara.
Ora dizia eu que o grande tosquiado foi o consumidor pobre, e posso fàcilmente fazer a demonstração disto: o preço de um metro de casimira de estambre em 1939 era de 81$ e actualmente é de 131$, tendo subido portanto 70 por cento; um metro de flanela fina custava em 1939 68$, custa agora 90$, sendo, pois, a subida de 30 por cento.
Pois um metro de surrobeco de l.ª, que em 1939 custava 33$, custa neste momento 89$92 e o de 2.ª, que custava 21$, custa agora 55$. Quási triplicou de preço.
Nestes simples exemplos se patenteiam os belos efeitos do facto de a lã nacional ter ficado sozinha em campo e do não ter sofrido a concorrência da lã estrangeira.

O Sr. Melo Machado: - Mas o surrobeco dantes fazia-se só com lã estrangeira?

O Orador: - Não; fazia-se e faz-se com lã nacional. Simplesmente, como havia um diferencial apreciável entre os preços da lã estrangeira e da lã nacional, a diferença entre tecidos finos e tecidos grosseiros era e devia ser grande.

O Sr. João do Amaral: - A demonstração só ficará completa quando V. Ex.ª nos disser que esta importação de lã estrangeira vai fazer descer estes preços.
Além disso, é preciso também demonstrar em que percentagens as lãs entram na confecção dos tecidos.

O Orador: - O preço da lã nacional quase quadruplicou. Esse aumento representa uma verdadeira especulação. Ora, desde que se importou lã estrangeira em quantidade apreciável e por preço mais baixo, a lã nacional tem de descer e os tecidos que com uma e outra se farão têm de ser infalìvelmente mais baratos. Só nos podemos defender dos produtores de lã com abundância de lã; só nos podemos defender dos industriais e dos comerciantes com abundância de tecidos.
O Sr. Deputado Figueiroa Rego disse que já estão a vender-se tecidos abaixo da tabela. Óptimo. Isto demonstra que a concorrência da lã estrangeira já fez baixar os tecidos.

O Sr. Cincinato da Costa: - Durante a guerra não teria havido stocks internacionais?

O Orador: - O que é que V. Ex.ª adianta com isso?

O Sr. Cincinato da Costa: - Se antes da guerra a lã nacional estava a 17$ e a lã estrangeira a 27$ e agora se dá o contrário, podia ter sido uma habilidade do mercado externo ...

O Orador: - Já se sabe que nos últimos leilões realizados na Austrália a lã subiu 20 a 30 por cento.
Além disso, se nos pomos aqui com «ses», não chegamos a conclusão nenhuma.

O Sr. Figueiroa Rego: - V. Ex.ª dá-me licença?
Vou informar V. Ex.ª com outros elementos. O último número de Wool Record dá as seguintes subidas para as lãs da Austrália: sujas, 44,5 por cento; lavadas, 59 por conto.

O Orador: - Isso só demonstra que foi vantajosíssima a importação feita, que não foi nem maciça nem intempestiva, e que dela resultaram tecidos melhores e mais baratos e a consequente descida do preço de especulação da lã nacional.

O Sr. Nunes Mexia: - V. Ex.ª falou em preços do especulação. Porque não fala das taxas de fabrico? Quer dar-se ao incómodo de ler o que aqui está?

O Orador: - Eu não posso ler esta enorme partitura. Se as taxas são de especulação, corrijam-se. Metam-se na ordem os industriais, se eles estiverem fora dela.

O Sr. Figueiroa Rego: - Apoiado. Foi o que eu defendi.

O Orador: - Mas V. Ex.ª defendo os altos preços das lãs nacionais.
E vir dizer que a protecção às lãs nacionais também defende o consumidor acho que é uma afirmação que não está certa.

O Sr. Figueiroa Rego: - Mal interpretada.

O Sr. Melo Machado: - O que V. Ex.ª ainda não pediu foi a importação de tecidos mais baratos.

O Orador: - Venham eles; a importação é livre.
Sr. Presidente: proclamar a liberdade de preços, como o fizeram os produtores em 1945, não acatando as tabelas do Governo, e vir agora reclamar contra a concorrência da lã estrangeira, quando os nossos mercados estão exaustos, parece-me que não está certo.

O Sr. Melo Machado: - Posso esclarecer V. Ex.ª de que houve leilões oficiais de lãs que tiveram de ser anulados porque os industriais trataram de fazer subir o preço dessas lãs acima do limite da tabela. Então quem é que fez a especulação?

O Orador: - Especulação onde?

O Sr. Melo Machado: - Nos leilões. V. Ex.ª está sempre a dizer que a lavoura é que faz a especulação.

O Orador: - Evidentemente; especularam os que venderam, porque provocaram a rarefacção do mercado.
Sr. Presidente: o valor da produção nacional de lãs é insuficiente para as necessidades do nosso consumo.