O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

12 DE MARÇO DE 1947 805

Vi noutro dia uma lista oficial de preços de lãs estrangeiras importadas, na qual há de facto preços inferiores aos das nossas lãs melhores, mas onde as lãs boas têm às vezes preços que chegam a 600$ a arroba, ou seja a 40:5 o quilograma, preços que não me consta tenham sido atingidos por qualquer lã portuguesa.
É um facto que em geral as boas lãs estrangeiras são melhores que as lãs de tipo médio, ou mesmo bom, nacional, mas estas saíram mais caras do que as nossas, na maior parte; temos, porém, de admitir que temos já em Portugal lãs que podem competir com as melhores da importação, se bem que ainda não em grande quantidade.
Poderia alongar-me em considerações técnicas comparativas, mas não é agora a questão que se discute e o tempo urge, e por isso me não alongo sobre as razões técnicas que levam a indústria a preferir as lãs estrangeiras, mas direi que a razão principal desta preferência está em que elas permitem fazer tecidos de preços mais elevados, tecidos de luxo, tecidos para vestidos de senhoras, tecidos leves e quentes, de alto valor comercial. Por consequência, o comércio prefere essas lãs porque lhe dão um maior lucro.
Para poder fazer uma ideia da diferença entre os preços das lãs na origem e o preço por que o produto acabado se vende ao público, lembrei-me de mandar comprar algumas amostras de lãs no mercado de Lisboa hoje mesmo. São uns novelos de lã nacional para croché e também um de lã estrangeira.
Cada novelo de 50 gramas custou, respectivamente, 6$60, 8$95, 11$35, 13$10 e a estrangeira 17$.
Os cálculos que se vão seguir não são exactos, porque desconheço os pormenores contabilistas das operações, e por isso os dou só como aproximativos. Partindo do principio que duas arrobas de lã suja dão aproximadamente uma arroba de lã lavada, temos que os preços que podemos aplicar a este exemplo são os seguintes:

[Ver tabela na imagem]

(a) Estrangeira.

Se aplicássemos estos preços às lãs nacionais de preços entre 250$ e 400$ a arroba e calculássemos que a industrialização destas lãs custava tanto quanto o preço de uma lã média, teríamos que, com lãs dos preços que seguem, por arroba, obteríamos:

[Ver tabela na imagem]

Não sei quanto custa a industrialização até à venda ao público de uma lã para croché, que é o caso que apresento, mas sei de um amigo meu que comprou um lote grande de lãs, que não vendeu por terem baixado os preços. Procurando fugir a um prejuízo certo, mandou com essa lã fabricar, em Teixoso, uma fazenda, que lhe ficou por 12$ cada metro. Encarregou um comerciante amigo da sua venda, tendo obtido a sua colocação a 24$ cada metro.
Esta foi a base que me levou a calcular em 100 por cento do preço de uma lã média a sua preparação em lã de croché - indústria muito mais simples.
Mas, como disse, este exemplo é baseado sobre cálculos e não sobre contas exactas, porque a indústria e o comércio não no-los fornecem de confiança. Trouxe o exemplo para salientar duas coisas:
1.° Que temos lãs que equivalem às lãs estrangeiras de l.a qualidade, conforme se poderá verificar comparando dois dos novelos que aqui tenho. Quer dizer que temos algumas lãs que podem fazer concorrência às lãs estrangeiras;
2.° Que a indústria recorre a lãs estrangeiras porque estas lhe permitem fazer tecidos que lhe deixam mais lucro.
E este emprego de lãs estrangeiras caras nas fazendas mais finas é tão elevado que não deve ser exagerado afirmar-se que as nossas lãs entram nestas fazendas em não mais de 5 a 10 por cento, porque não temos mais do que essa percentagem de lãs de alta qualidade.
Quando uma fazenda é cara não quer dizer que as nossas lãs tenham sido vendidas a preços altos, mas sim que essa fazenda é feita quase que exclusivamente com lã estrangeira cara.
E então a acusação de que nós somos os culpados da carestia das fazendas não está certa.
Mas voltemos ao princípio: a importância que a lã tem para a agricultura nacional e a defesa desta produção, dentro da justiça.
Sabe-se que o armentio ovino, tão importante, é o mealheiro da lavoura.
A venda dos borregos e da lã, que tem lugar na Primavera, dá os recursos para acudir nessa época às despesas das mondas e das ceifas. Quando se atrasa a liquidação destas verbas ou desaparecem com a protelação das vendas ou com a suspensão das compras, como aconteceu em 1946 e se teme, com fundamento, aconteça na próxima campanha, este mecanismo complica-se e o lavrador tem de recorrer ao crédito.
Com redobrado receio se, como agora, se vislumbra a impossibilidade das vendas.
E não se julgue que esta questão impressiona o grande lavrador; quem é o mais atingido ó o pequeno. O grande tem maneira de se defender, porque tem um mais largo crédito.
E como de 264:000 produtores só são considerados grandes cerca de 300, os outros 263:700, que são pequenos, é que sofrem. Por isso, este não é assunto de ricos, mas assunto de agricultores pequenos e pobres. A média de cabeças lanares, por lavrador, é de 14,7.
Para estes o não vender a Ia é um grande prejuízo.
E, afinal, o que pede a lavoura ? Que lhe seja garantido vender a sua Ia. E por que preço? Pelo que for justo.
Não julgo esta uma pretensão excessiva.
Eu faço parte, como representante do distrito de Portalegre, da secção do lãs da Junta Nacional dos Produtos Pecuários.
Em Março do ano passado, em sessões da Junta, previu-se que, sendo de supor que os preços externos baixariam, porque as reservas de lãs do Império Inglês eram enormes e nos disseram que seria autorizada a importação de lãs estrangeiras em grandes quantidades, tivemos de considerar a eventualidade da baixa dos preços das lãs nacionais.
Falou-se de uma baixa de 10 por cento, mas, se fosse necessário, poder-se-ia ir até 20 por cento mesmo, tanto mais que, previdentemente, já se tinha criado um fundo de compensação bastante importante, conseguido à custa de taxas de importação sobre as lãs estrangeiras, fundo esse que está hoje em 12:000.000$.
Propusemos então que as importações se não fizessem sem controle, mas fossem antes condicionadas às neces-