800 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 100
Assim, tomando por base os números do arrolamento de 1940, verifica-se que, considerado o valor das diferentes espécies pecuárias e o capital nelas investido, só para os suínos se encontra um rendimento superior ao dos ovinos.
Nestas condições, (para mais observando-se que em 1940 ainda não havia a considerar efeitos de medidas fomentadoras da produção de lã nacional (com motivo nas circunstâncias da guerra), havia de entender que ou o rendimento dos ovinos era bastante compensador, como resultava já das minhas anteriores considerações, ou a pecuária nacional estava toda, sem excepção, a dar avultados (prejuízos (mas não consta a existência de queixumes).
O Sr. Figueiroa Rego:-Se os proprietários de ovinos se não queixaram, lá virá a sua altura; está aqui a ouvir-me quem o poderá dizer.
O Orador: - Anoto a observação de V. Ex.ª, que não deixa de ser curiosa.
Surgiu entretanto, Sr. Presidente, uma dificuldade aparentemente grave: um dos ilustres oradores precedentes, que não pude chegar a ter o prazer de ouvir, dignou-se chamar a minha atenção para um mapa com os números, que iria ler a esta Assembleia, referentes ao rendimento normal da exploração de um grupo de 100 ovelhas, números constantes do Diário das Sessões. Neles figuram apenas 476$50 como rendimento líquido total, ou seja a insignificância de 4$76(5) por cada ovelha!
Fiquei naturalmente impressionado. Cheguei a afirmar que não teria nada a dizer nesta tribuna se um exame atento do mapa me convencesse de que estava em erro.
Mas pus desde logo duas objecções, aquelas precisamente que me levavam ao exame atento do mapa: a primeira é que os resultados apontados estavam inteiramente contra tudo quanto acabei de expor e fora maduramente reflectido; a segunda é que, a ser verdadeira a conclusão do mapa, mão compreendia que a lavoura alentejana, como tenho ouvido a alguns dos mais ilustres ornamentos, sacrifique a cultura do trigo ao alargamento das pastagens.
Examinado atentamente, o mapa não me convenceu. Adiante voltarei a este caso. Por agora limito-me às observações seguintes:
Sem discutir a área adstrita ao rebanho e o valor da respectiva pastagem, há alguns- comentários a fazer.
O preço da lã é de 19$ por quilograma, ou seja 285$ por arroba, quantia muito inferior à tabela de 1945, que a lavoura parece desejar ver restabelecida.
O valor atribuído ao estrume creio-o bastante baixo: 7$90 por ovelha, quando deveriam ser 25$ a 30$. Como um rebanho normal é de 300 cabeças e a hipótese se refere apenas a 100, há que multiplicar por 3 os encargos do pastor, equivalendo isto a dizer que um pastor alente j ano ganha 11.321 $50 anuais. Não discuto o número, apenas registo que os salários, pagos numa exploração dita pobre, são altos em relação à média normal dos salários agrícolas.
Os carneiros aparecem como dando apenas despesa (36$ cada um, a título de juro do capital de 1.800$ nele investido), quando só o valor da lã é superior a esta quantia dentro do próprio preço convencionado no mapa.
Aparece como sendo despesa o juro do capital investido aio rebanho. Compreendo que se calcule um juro a este capitai, para se avaliar das vantagens de ser colocado na aquisição de um rebanho ou em qualquer outra coisa. Mas Só para isto. Uma vez investido na compra de ovelhas, estas é que são o capital. Se não vem do capital-ovelhas o lucro líquido apurado no mapa, de onde vem? De facto, o Norte não deve saber fazer contas tão bem feitas, porque é capaz de considerar rendimento a «limpo» do rebanho tudo isto: o juro que o Sr. Deputado atribuiu ao capital investido, somado com o lucro líquido apurado no mapa, ou seja 1.601$50, em vez de 476$50.
Por estas e outras razões a exemplificação não logrou convencer-me.
Mantive, portanto, as minhas anteriores conclusões e prosseguiu no estudo do problema, agora com vista a averiguar da percentagem da lã no rendimento total da ovelha.
Qual é, Sr. Presidente, essa percentagem? Absorverá a maior parte do rendimento do animal, considerado no seu conjunto, de tal modo que tenhamos de regressar ao princípio, isto é, de concluir pela necessidade de uma forte protecção às lãs nacionais?
Eis alguns elementos de apreciação para se dar uma resposta a esta pergunta:
1.° Numa revista de carácter técnico encontro um caso exemplificativo. Trata-se de um rebanho de 323 cabeças, explorado para a produção de lã e carne, não se aproveitando o leite. Excluído o valor do estrume e sem considerar também o valor de 42 cabeças apartadas para renovação, as percentagens com que os produtos entraram no rendimento total foram: carne, 66,6 por cento; lã, 31,9 por cento; peles, 1,5 por cento;
2.° Colho outro exemplo na mesma revista. Trata-se agora de um rebanho pequeno (apenas 37 cabeças), mas explorado sobretudo, não em ordem à lã e à carne, mas em ordem ao leite e à carne. Exclui-se também o valor do estrume e de 39 cabeças para renovação e ampliação. As percentagens com que os produtos entraram no rendimento total foram outras, a saber: leite, 80,5 por cento; carne, 14,7 por cento; lã, 4,3 por cento; peles, 0,5 por cento;
3.° Mais uma experiência registada na aludida revista. Desta vez o rebanho é de 50 cabeças. Também se destina essencialmente à produção de leite e de carne, sendo a lã considerada coisa de segundo plano. Como nos casos anteriores, não se toma em conta nem o valor do estrume nem o das cabeças apartadas para renovação. As percentagens aparecem-nos assim: leite, 75,28 por cento; carne, 17,39 por cento; lã, 8,13 por cento.
Devo esclarecer que estes exemplos são da vizinha Espanha. Não são portugueses, embora não sejam dos antípodas. . . Trata-se de casos de ao pé da porta e de regiões semelhantes a regiões portuguesas (ignoro se também com. . . o mesmo índice pluviométrico, porque não desci a essa particularidade);
4.° Quis, em todo o caso, conhecer alguma coisa directamente do País. À falta de melhor, observei na minha região, onde se cuida em primeiro lugar do leite, alguns casos. Em média, cheguei a estes resultados relativamente às percentagens com que os diferentes produtos ovinícolas, excluído o estrume e as peles, 'entram no rendimento dos rebanhos: leite, 75,28 por cento; carne, 17,39 por cento; lã, 8,13 por cento;
5.° No rebanho idealizado pelo Sr. Deputado Nunes Mexia, porque se faz uma exploração em ordem fundamental à carne e à lã, as percentagens são estas, se bem fiz as contas: carne, 54,12 por cento; leite, 26,12 por cento; lã, 18,24 por cento; estrume, 1,52 por cento.
De todos os exemplos acabados de citar ressalta esta conclusão: o rendimento dos rebanhos aumentou quando se exploram menos em vista da lã e da carne do que em ordem à obtenção do leite e da carne.
Direi aqui, entre parênteses, que esta conclusão explica por que motivo afirmei há pouco, não sem escândalo do ilustre Deputado Sr. Nunes Mexia, que consi-