O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

798 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 100

continuou a influenciar decisivamente a exploração do solo.
Com novo dobar dos tempos, porém, foi-se alargando o desbravamento das terras, até então só aproveitadas para apascentar os rebanhos. Diminuídas as pastagens, diminuíram também os rebanhos.
Em compensação, noutros continentes, onde a terra valia menos e onde ainda hoje vale menos, foram-se instalando rebanhos novos, que, para efeitos das lãs, depressa começaram a competir com os ainda existentes na Europa - e a competir vantajosamente, atentos os diminutos gastos da sua exploração. Além há terra a mais e gente o menos; aqui continua a haver gente a mais e terra a menos.
Assim, na Itália, o número de ovinos de 1930 era praticamente igual ao de 1881. Recuou meio século. E, em relação a 1908 (portanto num curto período de vinte e dois anos), baixou 20,61 por cento.
Na França a baixa é constante. De 32 milhões de cabeças em 1840, desceu para 9.570:000 em 1934. Diminuição de 70,09 por cento.
Na Alemanha, de 25 milhões em 1870, passou a 3.500:000 em 1934. Em pouco mais de meio século (sessenta e quatro anos) houve uma redução de 86 por cento.
Na Inglaterra, em três quartos de século, os efectivos diminuíram 25 por cento. De 40 milhões em 1861, desceram para 30 milhões em 1934.
Ao invés: na África do Sul houve um aumento de 52,66 por cento em duas dúzias de anos (21 milhões em 1910 e 32 milhões em 1934).
Do mesmo modo, e ainda mais acentuadamente, na Austrália, cujos efectivos era: em 1800, 6:100; em 1860, 20.200:000; em 1900, 70.000:000; em 1929, 105.900:000.
País em que a terra quase não tem valor, de 1800 a 1900 (um século) a subida foi de 1.063:934,42 por cento. E nove anos depois verificou-se novo aumento de 51,28 por cento, o que significa, em relação aos cento e dez anos, um aumento de 1.719:736,06 por cento.
Todavia, esta emigração da Europa não foi tão acentuada em Portugal, que, como já anotou o ilustre Deputado Sr. Dr. Figueiroa Rego, em 1930 ocupava o 2.° e o 4.° lugares da estatística europeia dos ovinos, «consoante se considerem os índices geográfico e demográfico».

O Sr. Nunes Mexia:-A vaca consome 3,5 por cento do seu peso vivo em matéria seca e a ovelha cerca de 5 por cento. Consequentemente, a vaca é um animal de tipo industrial e a ovelha não.
Nos países como o nosso, em que o clima não favorece a industrialização da agricultura, a ovelha é um animal de que a lavoura se socorre para povoar os campos existentes em zonas que, pela sua excessiva secura, não proporcionam pastos e produtos susceptíveis da referida industrialização.

O Orador: - Mas a que propósito vêm essas considerações, alheias à minha demonstração? Quer V. Ex.ª dizer que é por simples questões de chuva que diminuíram os rebanhos de ovelhas na Europa? Acaso chove menos durante o largo período de um século do que not século anterior?! Porque a secura ou humidade é, nos países que citei, hoje a mesma que era há dezenas de anos atrás. E, sem embargo, os rebanhos aqui diminuíram consideravelmente e além subiram ainda mais consideravelmente.

O Sr. Nunes Mexia: - A resposta é simples. Em certos países foi possível ir promovendo a industrialização da exploração, enquanto que noutros há que manter ainda as anteriores características.

O Orador: - Mas porque foi precisa a industrialização do gado ? Porque há gente a mais e terra a menos.

O Sr. Nunes Mexia:-Eu esclareço V. Ex.ª De outra forma a criação da ovelha deveria baixar dentro da tese de V. Ex.ª, quando o que se verifica é que ela tende cada vez mais a distribuir-se segundo os índices pluviométricos e na razão inversa destes.

O Orador: - Volto à minha tese. Que sucederia na Austrália se, contra o verificado na Europa, não tivesse terra a mais e gente a menos?
Creio, Sr. Presidente, como ia dizendo, que a excepção verificada em Portugal, ao menos no sentido de inferior percentagem de diminuição dos efectivos ovinícolas, é menos um índice de atraso ou sinal de pobreza do que feliz resultado das lições da nossa própria experiência económica. De um modo geral, sobretudo no Centro e no Norte, a dureza das necessidades levou a procurar outros métodos de exploração dos ovinos, adaptados às novas condições agropecuárias. A ovelha não chegou a retirar-se completamente da agricultura; associou-se-lhe, numa associação necessária.
Sendo, porém, assim, teremos de concluir pela semelhança perfeita entre o problema das lãs e o problema do trigo, como se tem pretendido inculcar?

O Sr. Figueiroa Rego: -O ilustre orador põe a igualdade em absurdo !

O Orador: - Não ponho tal! Digo que é absurdo pôr-se a igualdade, desmentida pêlos factos. Questão de palavras, dirá V. Ex.ª Mas eu só entendo os problemas se entender as p alavas com que mós expõem.

O Sr. Nunes Mexia:-V. Ex.ª, Sr. Deputado Soares da Fonseca, quanto ao trigo, considera também o valor das palhas dos restolhos e das moinhas?

O Orador: - Não sei que valor deverá atribuir-se às palhas. E também não sei se ele é considerado quando se põe a igualdade que venho comentando, porque são V. Ex.ªs e não eu quem põem a tese do problema da lã igual ao do trigo. Entendam o segundo termo da igualdade como quiserem; em nada com isso ficará afectada a minha tese.
A ideia da semelhança entre o problema da lã e o problema do trigo parece colher seduções. E, todavia, creio que não passa de uma falsa ideia clara.
Basta, para o demonstrar, esta simples consideração: a lã não é o único rendimento da ovelha, que fornece também o leite, a carne, o estrume e a (pele; não é o único, nem sequer o principal.
A lã, felizmente, é separável da ovelha. Mas o problema da lá não pode separar-se; é também, felizmente, do problema da ovelha. E o rendimento todo do animal que importa considerar para o efeito.
Portanto, a equiparar-se com o problema do trigo, só equiparação houvesse, seria o problema da ovelha no seu conjunto e nunca, isoladamente, o problema da lã.
A não ser que também aqui se trate de mera questão de palavras e que onde eu tenho ouvido falar em lã, a este propósito, posso entender ovelha! Mas, em tal caso, talvez também, possa entender ovelha quando me falam simplesmente de lã! Por este andar, variando o sentido das palavras com o sabor das conveniências pessoais, nunca mais nos entenderíamos . . .
Lã não é sinónimo de ovelha. O rendimento da lã, volto a repetir, não é nem o único nem sequer o principal rendimento da ovelha.
Isto me basta para rejeitar a tese simplista da semelhança entre o problema da lã e o do trigo.