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802 DIÁRIO DAS SESSÕES -N.º 100

B) Rebanho explorado para leite:

Valor do 78 borregos temporãos, a 30$ .......................... 2.340$00
Valor de 7 borregos serôdios, a 15$ ............................ 105$00
Valor de 200 quilogramas de lã, a 19$........................... 3.800$00
Valor de 4:250 litros de leite (85 o velhas X 16 litros X 40)... 17.000$00
Valor do estrume ............................................. 790$00
_______________
24.035$00

É elucidativo o confronto! Já só disse, durante o presente debate, que «através da produção lanar podemos considerar o aumento ou diminuição da carne e da matéria orgânica o, com esta, da produção agrícola». Felizmente houve o cuidado do omitir o leite neste elenco. Mas eu desejaria que a lavoura proferisse encarar, através da produção do leite, o aumento ou diminuição da carne, da lã e da matéria orgânica. Salvo melhor critério, só deste modo se dá ao principal um lugar que não ó secundário.
Duvido, aliás, que no Sul a um aumento ou diminuição do rebanhos corresponda sempre um aumento ou diminuição da produção agrícola.

O Sr. Melo Machado: - Ora essa! Pois só o grande mal da actual situação da lavoura é a diminuição de matérias orgânicas! Claro está que, aumentando estas com os rebanhos, aumenta também a produção agrícola.

O Orador: - No Norte ó invariavelmente assim. Duvido, torno a dizer, que também no Sul seja sempre assim.
Ao que, até nesta sala, tenho ouvido dizer, se o lavrador julga melhor produção a dos rebanhos do que a do trigo, alarga a área das pastagens (para aumentar os rebanhos), em detrimento da área do cereal, o vice-versa. Claro parece que, diminuindo a área do cereal em proveito do rebanho, não é natural supor que, com o aumento da lã no armazém, aumentará igualmente o trigo no celeiro.
Seja como for, à linha geral do meu pensamento o que importa é isto: ó mais rendosa e mais necessária a exploração dos ovinos em ordem à produção do leite do que da lã.
Entretanto, porém, como efectivamente o hábito de considerar o leite produto de importância fundamental, em vez da lã, ainda não criou raízes em grande parte do Sul; como, por outro lado, convém fazer-se só gradualmente a selecção das raças mais adaptadas em cada região à produção dos elementos verdadeiramente ricos dos ovinos; como até lá o preço da lã exercerá influência na produção da carne de carneiro, que ó a mais acessível a grande parte da população ...

O Sr. Melo Machado: - Agora que não há carne de vaca é que se come carneiro. Depois ninguém lhe pega.

O Orador: -Tire V. Ex.ª a consequência lógica dessa afirmação e, abandonando a tese que tem defendido, será obrigado a aderir à minha. Nos rebanhos explorados com vista à produção do leite, como sucede no Norte, evidentemente que é muito menor a produção da carne.
Pelo contrário, nos rebanhos explorados com vista à produção de lã e carne, como sucede no Sul e figurou o Sr. Deputado Nunes Mexia no seu mapa, o leite quase se não aproveita e a carne, lançada no tal mercado em que não terá grande procura, é muito maior.
Mas, ia ou a concluir, Sr. Presidente, quando o ilustre Deputado Sr. Melo Machado me interrompeu, que, pêlos fundamentos expostos, a lã nacional não devia ser deixada inteiramente entregue ao livre jogo da concorrência.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Há que protegê-la, menos pela própria lã do que pelo incremento a dar à produção do leite, da carne o do estrume.
Mas protecção vigilante, e não paralisante, isto é: que não obste à selecção das raças melhor produtoras, em cada região, dos elementos mais ricos da exploração ovinícola; que não afrouxo o estímulo da lavoura pelo progressivo melhoramento da sua técnica lanar; que não leve a demasiada redução na área cerealífera (visto só no Norte, torno a repetir, o aumento do ovelhas significar rigorosamente aumento de sementeiras); que não impeça a regular importação de lãs estrangeiras (não apenas por falta de quantidade, mas também por falta de qualidade das lãs nacionais); que, finalmente, tenha em rigorosa conta os benefícios do consumidor.
Ao Governo e demais entidades competentes cabe estudar esta justa medida de protecção - porventura através de compensações saídas das taxas e sobretaxas em uso (sem embargo de se desagravarem), pois me consta existirem já bastantes milhares de contos provenientes delas.
Volto a repetir: protecção, mas protecção moderada. Porque nem só a lã nacional é nossa. Nacional é também o seu principal consumidor, que o será cada um de nós.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem !
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Bagorro de Sequeira: -Sr. Presidente: depois da longa, e pormenorizada discussão feita u volta do importante problema das lãs, que o aviso prévio do ilustre Deputado Dr. Figueiroa Rego veio pôr em destaque, e a que outros Srs. Deputados deram grande desenvolvimento, tratando-o com o maior detalhe nos seus mais diversos aspectos, pouco tenho u dizer sobre o assunto, porque na verdade tudo ou quase tudo foi já dito para u sua compreensão e julgamento público, e porque me não sinto preparado para o discutir muito lia especialidade, em virtude de viver lia longos anos afastado do meio agrário e industrial da metrópole, não conhecendo por consequência suficientemente o valor dos factores que influem e determinam o condicionamento económico das respectivas explorações, por forma a poder avaliar da sua justa e verdadeira posição na luta de interesses que está, implicitamente, no fundo da questão que se debate.
Limitarei por isso as minhas considerações a um rápido e superficial exame das realidades mais objectivas, relativamente ao problema lanar metropolitano, sob os pontos de vista agrário e industrial, para nele enquadrar a possível e desejável contribuição que as colónias, mais especificadamente a colónia de Angola, lhe podem trazer mais cedo ou mais tarde paru uma solução económica do conjunto a favor da verdadeira política nacional da lã, que é indispensável fazer, pondo em actividade produtiva todas as possibilidades e recursos de todo o território, de todos os sectores - técnico, agrário, comercial e industrial- ainda não utilizados.
Guiarei estas minhas considerações mais pelas opiniões dos técnicos, que mais e melhor têm estudado o assunto na ordem geral e com vista às soluções globais, do que pelas opiniões dos lavradores e industriais, para me libertar de interpretações parcelares e limitadas ao campo dos respectivos interesses, e principalmente por me parecer que qualquer solução frontal e definitiva do problema das lãs só pode ser encontrada quando