858-(4) DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 102
2) Os campos de experimentação. - Para apurar as características definitivas da adaptabilidade de cada zona não basta o mero estudo do terreno. Será preciso ensaiar as melhores culturas e rotações, bem como as adubações adequadas. Dai a necessidade de constituir outros tantos campos de experimentação, cujos trabalhos correrão paralelos com os mais e cujos resultados servirão como complemento ou contraprova para fixar os caracteres e possibilidades de cada zona e orientar a sua defesa e aproveitamento.
3) Os trabalhos de laboratório. - Nos laboratórios, que desde logo têm de ser postos a funcionar, se farão, por sua vez, as necessárias análises das terras, estruturalmente ligadas aos restantes estudos pedológicos e de cujas conclusões fica dependendo a elaboração da carta de solos. Adiante voltaremos ao assunto, para verificarmos o cuidado que está merecendo entre nós.
VI
C) A escolha das escalas da carta de solos é o terceiro e último dos problemas técnicos que nos propusemos focar.
Depende a escala que se escolher, evidentemente, do grau de pormenor que se pretende conseguir.
Em regiões de intensa fertilidade será necessária uma pormenorização muito maior do que em zonas montanhosas ou vastas extensões sem tão grande interesse cultural.
A escala, já por nós adoptada, de 1:25000 e correspondente à de uso corrente nas cartas de solo estrangeiras afigura-se como respondendo às necessidades fundamentais do problema. Tem um grau de pormenor suficiente para ter em conta as diferentes variações de terreno.
Para as nossas colónias, por exemplo, tendo em atenção a grandeza do seu território e a extensão de algumas das suas zonas predominantes, já terá de se empregar um escala bastante menos discriminadora. Em. certos trechos de paisagem ribatejana, pelo contrário, poderão complementarmente ainda ser levantadas com proveito cartas mais detalhadas.
Duas palavras sobre o estudo e a cartografia dos solos tropicais, de tão grande alcance para o problema colonial português. Escreve o Prof. Botelho da Costa (Lições de Mesologia Colonial, a Apontamentos», p. 13; para mostrar como haverá que conciliar o necessário rigor científico com a adopção de escalas muito menos pormenorizadas:
«O estudo e cartografia dos solos tropicais têm de basear-se, como em quaisquer outras regiões, no estudo cuidadoso de perfis. A enorme extensão das zonas a estudar e outras circunstâncias tornam, porém, impossível, a não ser para casos especiais e em áreas limitadas, a cartografia por séries. Tem de se recorrer a agrupamentos mais gerais, que poderão muitas vezes ser os «grandes grupos de solos.». A distribuição destes é, porém, muitas vezes tão perturbada pelos factores locais que a mera indicação do tipo zonal considerado como característico da região está muitas vezes longe de satisfazer. A «cartografia por complexos» é então a fórmula preferível, podendo os complexos abranger maior ou menor variedade agrológica, conforme os casos, mas não se dispensando, em qualquer hipótese, o estudo pormenorizado de perfis representativos dos principais tipos de solos encontrados, embora a distribuição exacta destes mão seja indicada».
Estes mapas, ainda que provisórios, constituem elemento de grande valor em relação à escolha de locais para desenvolvimento agrícola. Simplesmente essa escolha nas regiões tropicais será condicionada por circunstâncias mais importantes do que a própria natureza do solo, como as possibilidades de transportes para escoamento económico dos produtos, e, em relação à colonização europeia, pelas condições climáticas. Mas isso não tira o enorme valor das cartas de solo nas regiões tropicais, porque, independentes da ordem de preferência na cronologia das culturas, asseguram em cada caso, e, sem outra, paridade, o seu proveitoso ensinamento.
VII
O transcendente alcance da elaboração de uma carta de solos resulta, facilmente das considerações seguintes:
1) Função de guia da lavoura. - Desde o momento em que uma carta de solas estabelece, em condições de satisfatória segurança, a determinação devidamente delimitada de cada uma das séries, ou sejam as zonas homogéneas de diferenciada aptidão cultural, é evidente que o lavrador ficará sabendo, e nos seus precisos limites, o tratamento adequado a fornecer a cada uma dessas parcelas de terrenos. Sabe, em cada um dos casos, até onde deve ir e onde deve parar e mudar de rumo. Estão assim praticamente suprimidas as causas de erro derivadas do desconhecimento do terreno. Basta, por demais, olhar para uma carta de solos para nos apercebermos do melindre da questão. Uma carta de solos, como já dissemos, tem o aspecto de um mosaico. As pequenas manchas de tons variadíssimos, quer dizer, representativos da variedade dos terrenos, justapõem-se no mais caprichoso dos puzzles. A cada passo, a mesma propriedade reclamará os tratamentos mais diferentes. A leitura da carta de solos elucida o lavrador sobre qual será o tratamento a dar ia caída uma dessas fracções e até onde aplicá-lo. Assim se conseguirá, no seu máximo, a defesa e a produtividade máxima do solo.
Nada justifica, aliás, em presença de um instrumento de tão notória precisão, que a rotina possa invocar quaisquer direitos para obstar a que seja estabelecido um plano racional de cultura, que na carta de solos terá o seu suporte natural. Só assim, com efeito (diz-se num bem elaborado relatório da Estação Agronómica Nacional da autoria do Sr. D. Luís Bramão), será possível resolver os problemas de fomento agrícola, com D fim de abastecer o País e aumentar a sua expansão nos mercados externos. E conclui o mesmo abalizado técnico: «A carta de solos está, pois, para a agricultura como a carta geológica para o fomento mineiro e a carta náutica para a navegação marítima».
2) Vantagem no apuramento das séries. - O apuramento de zonas de características comuns é do maior alcance. Desde que a sua reprodução, mais ou menos, se verifica entre os pontos mais distanciados, automaticamente se fica sabendo, seja aqui ou além, que esse trecho requer um mesmo e determinado tratamento agrícola.
3) Economia de campos de experimentação. - É uma consequência da vantagem precedente. Dada a existência das séries ou zonas de idêntica adaptação cultural, bastará, em regra, estabelecer um só campo de experimentação por cada tipo de zonas do solo. As suas experiências são válidas para qualquer das zonas idênticas.
4) Colaboração internacional. - Se as cartas de solo obedecerem na sua elaboração, como é aconselhável, a uma mesma fórmula internacional, e dado que as mês-
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ceder que o horizonte superficial tenha sido removido por erosão e o solo agrícola seja constituído por um ou vários horizontes, cuja posição natural era subsuperficial. For último, a cultura pode fazer-se em materiais que pedològicamente não se podem considerar, em rigor, como constituindo um solo, como sucede com aluviões -recentemente depositadas».