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14 DE MARÇO DE 1947 858-(9)

cação directa ou indirectamente ligados à elaboração da Carta dos solos de Portugal, nas escalas adoptadas pelo Instituto.
Incumbida especialmente do levantamento cartográfico do País, será sob a chefia desta divisão, por assim dizer central, que fie realizarão os chamados trabalhos de campo.
Para esse efeito, não é de prever que seja alterada de momento, para o estabelecimento das respectivas unidades de comando, a prevista divisão tripartida do País: região Norte, compreendendo todos os terrenos ao norte do rio Douro; região Centro, que compreende os terrenos abrangidos entre, o Douro e o Tejo; região Sul, englobando o resto do País.
É natural, porém, que, uma vez multiplicadas as missões, a necessidade apareça de se efectuar uma divisão regional mais próxima da homogeneidade sob o ponto de vista pedológico e geográfico.
Cada região terá um número variável de missões conforme as disponibilidades em pessoal técnico, facilidade de transportes e outros recursos. O desenvolvimento da actividade cartográfica numa determinada região será também condicionado pela urgência que superiormente houver na realização do estudo.
As missões foram criadas e organizadas pela Ordem de Serviço n.° 113, de 10 de Abril de 1941. Cada missão será encarregada de proceder ao levantamento dos solos ide uma área indicada pelo chefe da região respectiva.
Já estão em funções as missões de Santarém, Bombarral, Sacavém e Beja.
Duas secções terão, por sua vez, um lugar assegurado na divisão de cartografia:
a) A secção de estudos morfológicos, incumbida de investigar todas as (propriedades do solo relacionadas com a morfologia e contribuir para esclarecer o seu processo de formação;
b) A secção de estudos económicos, com o encargo de interpretar as cartas agrológicas, fornecendo o necessário texto explicativo.
2) A divisão de estudos físico-químicos compete examinar as propriedades físicas e químicas ido solo, tanto pelo emprego de métodos {rotineiros como pela investigação de novos métodos.
Já estão sumariamente organizadas as suas cinco secções: a secção de análises físico-químicas; a secção de argila; a secção de matéria orgânica; a secção de química do solo; e a secção de física do solo.
Vejamos ao que se destinam as várias secções designadas.
A secção de análises físico-químicas tem como função realizar todas as análises usualmente requeridas pêlos estudos cartográficos, de forma a não haver atraso nos trabalhos de laboratório em relação aos estudos de campo, particularmente no que se refere à elaboração da Carta dos solos.
A secção de argila, como o nome o indica, terá como objectivo o estudo das propriedades físico-químicas da argila, bem como da sua composição e estrutura. A argila, assim como o humo, são as fracções activas do solo, sede de todas as complexas reacções que aí têm lugar. São também as únicas substâncias até agoira consideradas capazes de reter e ceder os alimentos fundamentais para o desenvolvimento das plantas e, portanto, dos animais. As águas, de resto, são essencialmente variáveis, consoante os solos a que pertencem. Por este motivo, o seu conhecimento é fundamental para a classificação do solo, como para o melhor aproveitamento dos seus recursos. Pouco se sabe das arguas portuguesas.
Na secção de matérias orgânicas será feito o estudo não só daquela fracção designada pelo nome genérico de humo, mas de todos os outros detritos orgânicos. Trata-se também, como dissemos, de substâncias activas do solo, cujo conhecimento é de particular importância, mas de que igualmente pouco se sabe no País.
A secção de química do solo trabalhará de colaboração com outros departamentos da Estação Agronómica Nacional, nomeadamente os de fisiologia vegetal e de química. Ocupar-se-á da revisão dos métodos usados nas análises químicas do solo e outras análises não incluídas nas restantes secções. Realizará também investigações tendentes ao estabelecimento de ensaios expeditos, ou quick-text, que permitem a determinação in loco do fósforo e potássio assimiláveis. Não deixa de ser curioso anotar que actualmente se operou já nalguns países um grau de suficiente industrialização, que permite a certas firmas venderem ao público caixas contendo todos os preparados e acessórios para a determinação no local dessas substâncias, com o que prestam um inestimável serviço aos técnicos encarregados da assistência à lavoura.
Para a secção de física do solo será preciso ainda treinar pessoal para se poder estudar as propriedades físicas do solo relacionadas com a morfologia e a génese, além de todos as outras que, sob o ponto de vista da engenharia civil, costumam estar englobadas num capítulo vulgarmente designado c mecânica dos solos.
3) A divisão de microbiologia do solo interessa particularmente investigar a distribuição da microflora e da microfauna dos nossos grandes grupos de solos. Pode interessar também de futuro determinar a presença de certos micro-organismos nalgumas unidades cartográficas elementares.
Estes estudos, de que pouco se sabe entre nós, são elemento considerável no progresso da pedologia, prevendo-se para a sua realização a colaboração do departamento de fitopatologia, entidade incumbida de especializar o (pessoal nas técnicas de separação e identificação dos microorganismos que constituem a microflora e a microfauna do solo.
4) falta falar da divisão de erosão e conservação }do solo. Já dissemos a este respeito o essencial para se averiguar do que, em benefício público, pode provir de uma adequada organização destes serviços. Na América as suas altas funções defensivas incumbem, como vimos também, a uni instituto de grande relevo. Trata-se, na verdade, ou de evitar perdas substanciais do solo ou de combater as cheias - e no nosso País o» dois males têm sido consideráveis e continuam a fazer-se sentir em escala indevida.
Escreve textualmente num relatório, de que nos temos servido com alto proveito, o engenheiro agrónomo Sr. D. Luís Bramão, que na Estação Agronómica Nacional proficientemente está orientando os estudos do solo: c A Divisão de Erosão e Conservação do Solo, ainda muito na infância, tem iniciado estudos preliminares de erosão em colaboração com a Direcção Geral dos Serviços Florestais. Ainda não foi possível obter os meios mínimos indispensáveis para iniciar estudos que permitam avaliar, dentro de uma certa aproximação, a extensão dos prejuízos totais anualmente provocados pela erosão.
Nas palavras seguintes do relatório do Sr. D. Luís Bramão sente-se a responsabilidade de quem não quer formular programas acima das possibilidades existentes. Mas não há dúvida também de que, além do grau lastimável do nosso atraso, essas palavras se limitam a antever progressos de uma lentidão desesperadora, dado que o serviço se destinará, numa 1.ª fase, cuja duração se desconhece, antes de o combater, a conhecer apenas o mal.