858-(6) DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 102
7) Drenagem e rega (ou correcção dos solos halomórficos que existam).
8) índices de produtividade (percentagens da produção-padrão, segundo a técnica regional miais vulgar e segundo a melhor técnica corrente).
9) Morfologia e génese dos solos.
10) Sumário (breve descrição da área e sua agricultura, utilização dos solos e (razões que a determinam, indicação geral do carácter dos solos, descrição breve dos perfis dos solos e suas relações com. a agricultura, nomes dos principais solos, suas características e suas influências na agricultura).
Há trinta anos que a Inglaterra realiza sólidos progressos no capítulo, interrompidos pela guerra e já retomados depois.
Lê-se, por sinal, num (recente relatório inglês estas palavras, onde o humour britânico veio dar realce a uma afirmação corajosa: «O facto de estarmos mais pobres só é razão para que gastemos mais dinheiro nas nossas cartas de solo; mais precisamos delas».
A França, por sua vez, adquiriu uma experiência notória nó assunto. Antes de se inclinar para o método americano, as sua próprias hesitações sobre o método a seguir ilustraram, com a proverbial clareza do país, os particulares de cada um dos processos tentados.
A Alemanha, depois de uma diligente prática interior, deu à matéria uma prova singular do seu interesse externo: mal invadiu a Polónia, a elaboração imediata de uma carta de solos figurou entre as suas primeiras realizações. Nada se podia perder. . .
IX
Portugal tem um lugar que o não deslustra na história das primeiras tentativas para a elaboração de uma carta de solos.
Basta cotejar as datas.
O primeiro trabalho de cartografia que vemos citado é o de Veselovski, publicado em 1851. Serviu de base à colonização de largas zonas e teve tal êxito que foi editado quatro vezes, a última das quais já por Dokutchaiev, em 1870, ou seja pelo fundador da ciência da pedologia. Quer dizer: esta quarta edição coincide com o verdadeiro início dos estudos cartográfico-pedológicos.
Só em 1899, isto é, trinta anos depois, Milton Whitney começou os seus trabalhos na América; a bem dizer, ainda foram precisos mais alguns anos - já debutara o século presente quando os Estados Unidos atingiram o nível das realizações europeias.
E interessante referir neste momento que em Portugal se começou a fazer cartografia dos solos dezassete anos antes da América. Em 1882, com efeito, Pedro Vítor da Costa Sequeira, presidente do conselho de agricultura do distrito de Beja, conseguiu iniciar estudos cartográficos de solos no nosso País, encarregando para esse efeito o capitão de infantaria Gerardo Augusto Pery da sua realização.
Três particularidades são de notar com relação a esta iniciativa portuguesa de grande tomo:
1.ª O distrito de Beja precedeu, como dissemos, de dezassete anos os estudos cartográficos dos Estados Unidos. De resto, só depois a América atingiu o nível dos nossos trabalhos;
2.ª A inovação encontrou o melhor apoio nos lavradores cultos do distrito de Beja, sinal evidente de uma louvável compreensão, dado que as cartas de solos não tinham ainda a aboná-las - longe disso - a irradiação que depois tiveram;
3.ª Os estudos feitos há mais de sessenta anos ainda vão constituir elemento informativo de valor, quando a nova Carta de solos atingir as regiões onde eles se efectuaram.
Esses velhos trabalhos realizaram-se essencialmente cem o objectivo da estatística agrícola, mas vê-se bem que o seu ilustre iniciador teve consciência plena da magnitude do empreendimento. Assim se infere da seguinte passagem de um dos seus relatórios:
Tenho ainda fundada esperança que, mais tarde ou mais cedo, o Governo de S. Majestade organizará este serviço em condições mais gerais, estendendo-o a todo o País, dotando-o com os meios necessários para ele se executar com rapidez e destinando-lhe o pessoal habilitado que exige: engenheiros de minas, agrónomos e corógrafos, que distribuam entre si as diversas partes de que ele se compõe.
Em 1891 publicou-se um diploma pelo Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, onde outrora estava a Direcção Geral de Agricultura, que tem o seu lugar nesta resenha. Criaram-se então, já com carácter nacional, os estudos agrológicos. Verdade seja que o objectivo era limitado: acudir aos terríveis estragos da filoxera. Foi, aliás, um momento aflitivo. Uma das nossas maiores riquezas de exportação - o vinho - diminuía a passos agigantados. Era necessário encarar a solução do emprego dos porta-enxertos americanos, resistentes, visto que os outros remédios se tinham mostrado ou excessivamente dispendiosos ou inoperantes. Os estudos agrológicos teriam por fim servir de base aos trabalhos de adaptação dos cavalos americanos, de forma que a sua introdução se realizasse, com a maior segurança, no mais curto espaço de tempo; a agricultura, em boa verdade, não podia sujeitar-se a improvisações sem critério definido.
Para os serviços organizados de novo outrou um grande número de agrónomos e químicos sabedores, sob a chefia de Hamiro Larcher Marçal.
Resolvido, porém, o problema da filoxera, os estudos agrológicos perderam, a bem. dizer, entre nós o fio desta sua primeira e honrosa tradição.
Durou o eclipse, pode dizer-se, todo o primeiro quartel deste século. Mediou, com efeito, largo tempo antes que a Repartição de Estudos Fisiográficos da extinta Estação Agrária Central iniciasse os estudos agrológicos do Ribatejo e de Colares, da autoria do Prof. Eduardo Mendes Frazão e do engenheiro agrónomo Diogo Folque Possolo.
Teve manifesto alcance esta meritória renovação. Além do valor dos estudos produzidos, acordou outras iniciativas, e desde então pode dizer-se que a ideia da carta de solos está em marcha.
Dois dos nossos serviços mais progressivos estão recorrendo, com efeito, em escala já apreciável aos estudos de cartografia do solo.
O primeiro desses serviços é a Junta Autónoma das Obras de Hidráulica Agrícola. Os reconhecimentos agrológicos efectuados pela Junta têm por objectivo definir a aptidão para o regadio dos solos das zonas estudadas. Sobre a carta agrológica distinguem-se por meio de orlas de diferentes cores as áreas correspondentes às diversas classes de aptidão para o regadio, constituindo-se assim a carta de aptidão para o regadio.
A definição de aptidão para o regadio é feita, seguindo nas suas linhas gerais o sistema americano (Bureau of Reclamation of the U. S., Department of the Interior), isto é, considerando-se quatro classe», correspondentes aos seguintes graus de adaptação: 1.° bom; 2.° regular, 8.° duvidoso, 4.° mau, e fazendo-se a classificação pela conjugação dos valores atribuídos a cada uma das seguintes determinantes: carácter do solo, condições topográficas (declive) e condições de drenagem; para este