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15 DE MARÇO DE 1947 871

O Sr. Albano de Magalhães: - Desejo simplesmente contrapor à afirmação do Sr.- Proença Duarte de que a produção dos anos anteriores foi escassa o que eu aqui afirmei, que é exactamente o inverso. A colheita dos anos de 1943, 1944 e 1945 foi extraordinariamente abundante.

O Orador: - A afirmação do Sr. Proença Duarte vem confirmar que não foi só no Douro que houve escassez de produção.
E natural que essas vinhas, se o tempo lhes correr bem, voltem a dar produções maiores.

O Sr. Proença Duarte: - Isso não pode ser, porque elas estão velhas.

O Orador: - Permita-me dizer-lhe que não foi só a muita idade que originou essa baixa de produção, mas também a seca a que aqui se referiu o Sr. Deputado Sebastião Ramires.

O Sr. Albano de Magalhães:- No entanto, apesar de velhas, produziram em 1943 e 1944 11 milhões de litros em cada ano e em 1945 mais de 10 milhões.

O Orador: - As vinhas que estiveram durante anos seguidos a sofrer os efeitos da seca precisavam de ser objecto de tratamento especial, mas os lavradores não têm podido dar a essas vinhas a adubação especial de que elas careciam.

O Sr. Carlos Borges : - Com as inundações do Ribatejo, disse-me há pouco um representante da Casa do Ribatejo que a produção está prejudicada, e não há defesa suficiente para isso.

O Orador: - Se V. Ex.ª me dá licença, a esse respeito direi que, se se considerarem esses terrenos como merecedores de serem especialmente destinados à plantação de vinhas, a produção vinícola aumentará enormemente.
Se nós, como parece ser desejado por V. Ex.ª e por outros Srs. Deputados, facilitássemos as plantações de cepas nesses terrenos, como eles, pelo visto, estão sujeitos a num ano como este darem pouco e no ano seguinte muito - porque são terrenos capazes de dar enormes produções - , iríamos também arranjar uma nova cansa de grandes oscilações da produção vinícola nacional, de ano para ano.
Mas, dizia eu, numerosas vinhas de encosta que no Douro, e possivelmente noutras regiões, ficaram muito abaladas por efeito de uma série de anos de seca e que no ano passado, em que o tempo lhes correu melhor, deveriam dar produções mais vizinhas do que é normal, não as deram porque não puderam receber aqueles tratamentos de que elas careciam, primeiro, por aos seus proprietários não ter sido concedida autorização para adquirirem os adubos azotados de que necessitavam, e, em segundo lugar, porque muitos deles não tinham dinheiro suficiente para comprar tais adubos e dispensar aquelas vinhas os outros cuidados aconselháveis, pois, tendo obtido, durante anos seguidos, produções muito reduzidas, não estavam financeiramente em condições favoráveis.
Mas é de contar que esses lavradores venham a poder, pouco a pouco, tratar bem dessas vinhas. É de contar, portanto, que tais vinhas voltem a dar produções mais razoáveis. Portanto, se as outras que não sofreram os efeitos da seca continuarem a dar produções como as que deram ultimamente e se estas voltarem a produzir como antigamente, é preciso contar com produções para futuro muito maiores que a que houve no ano passado.
Depois, alude-se muito à idade avançada da maior parte das vinhas.
Mas é preciso considerar que, naturalmente, os lavradores, assim que puderem, farão a reconstituição dessas vinhas.
E, se essa reconstituição for autorizada, é preciso ter muito cuidado com a maneira como se vai dar autorização para plantações novas, para evitar que tenhamos, então, um mar de vinho.
Portanto admito, e até acho bem, que se do autorização para plantar novas ' vinhas ; mas, repito, entendo que devemos ser cautelosos, para não termos novas crises de excesso de produção, crises essas que ou considero como muito prováveis.
E não pensemos que tais crises se evitam facilmente pela exportação.
Podemos ter esperança numa melhoria de exportações, mas não temos garantia nenhuma a tal respeito.
Já aqui foi afirmado que, se nalguns países se fez redução de plantação, noutros se praticou exactamente o contrário.
Nalgumas nações novas, chamemos-lhe assim, onde as zonas de plantação de vinha eram de pouca importância, tomaram-se medidas no sentido de que num futuro próximo elas possam vir a ter uma importância grande.
É claro que não se improviza facilmente uma nova cultura numa nação que não estava habituada a dedicar-se a culturas semelhantes.
Mas, começando por pouco, rapidamente se pode ir ao muito e é possível que algumas nações que têm sido importadoras passem a bastar-se a si mesmas quanto a vinhos comuns e que outras até venham a transformar-se em exportadoras.
Haja em vista o exemplo do Chile e até o da própria Rússia. Quanto a esta, embora se não saiba ao certo o que lá se passa, por virtude da sua chamada c cortina de ferro», mas, a avaliar por notícias que de vez em quando chegam, a sua produção de vinhos é já considerável e permite-lhe preparar-se para fazer concorrência a países velhos produtores.

O Sr. Cincinato da Costa: - No entanto, julgo que V. Ex.ª pensa como eu, que não devemos abandonar de tal modo a cultura da vinha que tenhamos de futuro de hipotecar o nosso património a outras nações.
Se a memória me não atraiçoa, devemos ter em Portugal 345:000 hectares de vinha. Em 40 anos, que é a vida normal de uma videira, deveríamos dividir 345:000 por 40, desde que sejam de pó franco, e naturalmente ir plantando cada ano um número que podemos admitir andar à volta de 8:000 hectares.
Se V. Ex.ª considerasse o caso, e são muitos em Portugal, de vinhas com porta-enxertos, a duração seria de 35 anos e chegaríamos a perto de 10:000 hectares por ano. Deveria ser essa a reconstituição anual a fazer para não perdermos ou desfalcarmos o nosso património vinícola.
E veja V. Ex.ª o que se faz há dez anos para cá. Plantaram-se nos dez anos pouco mais de 10:000 hectares, ou seja, números redondos, 1:000 hectares por ano. Temos, portanto, uma redução de cerca de 8:000 a 9:000 hectares, o que reputo um grave erro.
De resto, é preciso não esquecermos que também quase todo o Norte de .África está filoxerado e que está atravessando, portanto, uma crise tão dura como nós atravessámos no final do século passado.
O Orador: - Talvez que a produção em muitas vinhas se passe a fazer mais intensivamente do que até agora.

O Sr. Cinclnato da Costa: - Inteligente será se formos andando à frente dos outros.