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18 DE MARÇO DE 1947 879

estar no uso da palavra para prestar nesta sala a minha homenagem à memória de um grande morto. Refiro-me ao Prof. Aires Kopke. Faço-o como cientista, como português e como Deputado do ultramar!
As minhas responsabilidades de parasitologista não me permitem rever neste momento, a dois dias apenas da sua morte, a sua obra com aquela minúcia e concatenação lógica que seria mister para a desvendar com o devido relevo a olhos de nacionais e estrangeiros. Forque Aires Kopke transpôs as fronteiras nacionais para ter amplo ingresso nos domínios da medicina internacional.
Filho da escola pasteuriana, que recruta entre nós cultores brilhantes e devotados como Câmara Pestana, Carlos França e os irmãos Bettencourt, Aires Kopke abraça o campo da medicina colonial, que desvenda ao Mundo mundos novos sob a égide de Patrick Manson o Ronald Ross, dos malariologistas italianos e do grande Laveran.
Estou a vê-lo no seu modesto gabinete na Junqueira, ensinando os seus alunos com uma tenacidade de lutador que não desanima, com um método e disciplina científicos que constituíram o grande segredo do seu triunfo. Tenho o orgulho de ter sido seu discípulo. E em mim, como em muitos mais, o ensino de Aires Kopke conseguiu infundir, mais do que a sua ciência, o rigor da sua técnica e a sede da investigação científica, que tem dado à patologia e à parasitologia páginas novas para benefício do Mundo e, notavelmente, das populações coloniais e que foram inspiradas em trabalhos de médicos portugueses discípulos do mestre Aires Kopke.
O reflexo que esse ensino teve desde logo na gestão da política ultramarina fica acima de todo o elogio. Ele realizou plenamente a visão que bem mais tarde sonharam Gallieni em Madagáscar e o marechal Lyautey em Marrocos. E esse trabalho foi levado a cabo num modesto gabinete da Escola de Medicina Tropical, na Junqueira !
Aires Kopke viveu a vida dos sábios da antiguidade: formou escola, plantou a semente da investigação científica na alma dos seus alunos, escreveu livros que mereceram o aplauso dos seus confrades dos mais notáveis em patologia tropical e criou muitos filhos, porque os seus filhos somos todos nós, os médicos coloniais, que cantaremos perante nacionais e estrangeiros a vida de ciência, de labor e de virtude que caracterizaram o grande mestre que foi Aires Kopke.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Madeira Pinto: - Na sessão desta Assembleia de 6 de Fevereiro do ano passado tive ensejo de solicitar a atenção do Governo para a crise que já então atravessava a indústria do sal marinho, mais antiga no continente português cio que a própria nacionalidade, e para a instante necessidade cie promover a sua organização económica, naturalmente em moldes corporativos, como, aliás, era e é desejo dos que a ela se dedicam.
A indústria do sal marinho viveu sempre, tem de viver, da exportação, natural saída para o excedente do consumo nacional. Mormente a partir da última guerra fecharam-se-lhe os mercados externos e a desorganização da economia mundial não tem permitido o seu restabelecimento na medida desejada.
Em 1944 mais de metade da produção salineira do País ficou nas eiras das marinhas. A essa existência juntou-se a colheita de 1945, e esta mesma não pôde ser toda recolhida, em muitos centros produtores, por falta de lugar onde armazenar o sal, sabido como é que não é normalmente conservado, de safra a safra, em serras ou moitões ao ar livre, que se cobrem de palha--carga ou de junca para o livrar das chuvas.
Perante o clamor dos interessados, em meados de 1945 o Governo mandou proceder ao estudo do problema. O presidente da Comissão Reguladora dos Produtos Químicos e Farmacêuticos percorreu todos os salgados do País; tomou conhecimento das condições de funcionamento da indústria salineira, dos capitais nela investidos, do volume da produção, da população operária que dela vive, dos encargos, dos preços correntes da mercadoria.
Convocou-se depois uma reunião magna dos produtores do sal marinho e -coisa muito de registar- verificou-se que todos estavam de acordo e que todos desejavam se promovesse, no mais curto prazo possível, a organização da indústria, bastas vezes reclamada.
Contra o que era de esperar, porém, as legítimas aspirações dos salineiros não foram satisfeitas; nenhumas medidas se tomaram superiormente que conduzissem à organização da indústria, tão desejada e tão necessária para a defesa dos interesses comuns e da própria economia nacional. Sobreveio o desanimo, aumentou a desorientação.
E logo certos organismos ligados à organização corporativa - um do sector das mercearias, outro do sector do bacalhau- se aproveitaram do estado de depressão dos salineiros para agravar as suas dificuldades. Abandonando o sistema de compras directas aos seus antigos e normais fornecedores, valendo-se do verdadeiro espado de necessidade dos produtores de sal, derivaram para o sistema de abastecimento por concurso público.
Perante a ânsia da colocação do produto, que a situação facilmente explicava, os preços desceram para nível de ruína.
De novo os produtores de sal apelaram para o Governo para que se acudisse à crise, para que se travasse a desorientação, para que se fixassem os preços. E ainda desta vez não foram atendidos. Tudo continuou como dantes.
E, porque muitas vezes um mal não vem só, eis que ao entrar o ano corrente, nova inquietação veio afligir os industriais de sal marinho. Não bastava que a exportação continuasse praticamente parada, que a organização do respectivo sector continuasse descurada, que a desorientação continuasse a imperar, que os prejuízos seguissem em progressão crescente. Não bastava. A agravar estes males, outro se divisa já, que traz os interessados presos da mais viva inquietação.
Dela me faço porta-voz nesta Assembleia, porque estão em jogo, não só os interesses da economia nacional, mas também os de um grande centro produtor e exportador de sal - o do distrito de Setúbal -, cujo círculo eleitoral tenho a honra de representar nesta Câmara.
Que se passa então? Em princípios de Janeiro último a Direcção Geral de Minas e Serviços Geológicos, do Ministério da Economia, tornou público, por éditos, que certa empresa industrial havia requerido a concessão de nada menos do que doze minas de sal-gema: três na freguesia de Parceiros, do concelho de Leiria; seis na freguesia de S. Pedro, do concelho de Óbidos, e três na freguesia da Tornada, do concelho das Caldas da Rainha.
Em Portugal nunca se exploraram depósitos de sal-gema; todo o sal é obtido por evaporação, ao ar livre, de massas aquosas provindas do mar.
O sal-gema, sal de rocha ou sal de mina, encontra-se em terrenos sedimentares, formando por vezes jazigos de grande volume, e provém quase sempre da evaporação de grandes massas de água salgada que em re-