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130 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 122

Porque a verdade é esta: reduzam-se as 50:090 casas de retalho, criem-se-lhes embaraços, quem sofre é o público, pois o alcoólico, esse, procurará sempre a bebida onde e na ocasião em que ela esteja à venda. De resto, nas circunstâncias actuais, e se existe receio que o abuso do vinho possa provocar desordens, as autoridades sabem onde estão as tabernas e têm a auxiliá-las o próprio retalhista, que não deseja ver a sua casa fechada. De outra forma, a observarem-se os inconvenientes apontados, estes passariam, sem possibilidade de fiscalização, para as adegas dos lavradores.

O Sr. Cancela de Abreu: - V. Ex.ª dá-me licença? Pior do que as tabernas são os cabarets, e os bars, que ainda por cima vendem bebidas estrangeiras.

O Orador: - Nós muitas vezes começamos por fazer restrições ao povo e depois ... todos nós nos calamos.
Para mim julgo mais perigosa para a saúde moral e física da raça a embriaguez de puritanismo, que traga uma contribuição de miséria colectiva, do que a embriaguez alcoólica, que pode e deve ser tratada por meio de processos específicos.
Sr. Presidente: se o vinho dá pão, dá trabalho, dá saúde, dá alegria ao povo português, porque é que devemos ser ingratos para com ele?
Calculem VV. Ex.ªs que, segundo o testemunho do nosso ilustre colega Prof. Cincinato da Costa, se chegou a pôr num compêndio oficialmente aprovado para as escolas primárias que o uso do vinho causa grandes prejuízos à saúde.
Parece-nos ser tempo de, neste País vinhateiro, definitivamente o resgatarmos da posição de triste vítima em que alguns teimam em lançá-lo. Nós temos de ser justos e, se não tivermos coragem de ser justos, sejamos ao menos práticos.
Possuidores de admirável património constituído pelas nossas massas víneas, que correm Mundo para seu deleite e nosso orgulho e riqueza, como se poderia compreender que nesta Casa, que representa o País, as virtudes dessa bebida fossem maculadas?
Tenho a certeza de que não o faremos. Não o faremos por nós, por aqueles que antes de nós criaram a riqueza vinícola nacional, por aqueles que depois de nós terão direito a usufruí-la.
Mas há mais. Não nos podemos esquecer que pertencemos às gerações que fizeram a Revolução e que, por isso, estamos ligados a uma das suas mais belas obras; trata-se da organização corporativa da vinicultura, considerada hoje no estrangeiro como a mais perfeita e eficiente organização realizada no mundo vinícola. E acontece encontrassem-se nesta Assembleia, como seus pares, alguns dos seus pioneiros e continuadores. Refiro-me ao engenheiro Sebastião Ramires, Dr. Rafael Duque, Prof. Cincinato da Costa, Conde de Penha Garcia e Luís Teotónio Pereira. Tudo se fez por motivos económicos e soerias, mas também porque se tinha uma razão moral.
Não será certamente esta Assembleia que irá, condenando o consumo do vinho, estirar ao País e à Revolução a razão moral que lhe permitiu estruturar a vida económica e social da vinicultura portuguesa.
O edifício já vai alto, os caboucos estão firmemente enraizados no solo, o travejamento é forte, mas o momento é grave, porque vemos adensarem-se sobre as nossas cabeças algumas nuvens negras que merecem todas as atenções e que ainda hoje foram referidas pelo nosso colega Dr. Bustorff da Silva.
Haverá que construir a seu lado novos elementos que permitam o tratamento clínico dos alcoólicos? Lancem-se mãos à obra, mas não se corra atrás de miragens, porque então o flagelo não será o alcoolismo, mas sim a crise vinícola.
Tenho dito..

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.
A próxima sessão será na terça-feira 13, tendo por ordem do dia a continuação deste debate e a apreciação do texto aprovado pela Comissão de Legislação e Redacção sobre a proposta de lei de protecção ao cinema nacional.
Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 15 minutos.

Sr s. Deputados que entraram durante a sessão:

Álvaro Eugénio Neves da Fontoura.
Diogo Pacheco de Amorim.
João Ameal.
Jorge Botelho Moniz.
José Alçada Guimarães.
José Dias de Araújo Correia.
José Luís da Silva Dias.
Manuel Colares Pereira.
D. Maria Luísa de Saldanha da Gama van Zeller.
Paulo Cancela de Abreu.
Ricardo Malhou Durão.

Sr s. Deputados que faltaram à sessão:

Albano Camilo de Almeida Pereira Dias de Magalhães.
Álvaro Henriques Perestrelo de Favila Vieira.
António Augusto Esteves Mendes Correia.
António Carlos Borges.
António Maria do Couto Zagalo Júnior.
Armando Cândido de Medeiros.
Artur Augusto Figueiroa Rego.
Artur Proença Duarte.
Artur Rodrigues Marques de Carvalho.
Augusto César Cerqueira Gomes.
Belchior Cardoso da Costa.
Camilo de Morais Bernardes Pereira.
Carlos de Azevedo Mendes.
Eurico Pires de Morais Carrapatoso.
Fernão Coueeiro da Costa.
Frederico Bagorro de Sequeira.
Gaspar Inácio Ferreira.
Henrique de Almeida.
Herculano Amorim Ferreira.
Horário José de Sá Viana Rebelo.
Jacinto Bicudo de Medeiros.
João Antunes Guimarães.
João Carlos de Sá Alves.
João Cerveira Pinto.
Joaquim de Moura Relvas.
Jorge Viterbo Ferreira.
José Gualberto de Sá Carneiro.
José Pereira dos Santos Cabral.
Luís da Cunha Gonçalves.
Luís Lopes Vieira de Castro.
Luís Pastor de Macedo.
Manuel Beja Corte-Real.
Manuel de Magalhães Pessoa.
Manuel Marques Teixeira.
Mário Lampreia de Gusmão Madeira.
Pedro de Chaves Cymbron Borges de Sousa.