O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

256 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 132

escassez, tornaram-se mais cruciais na vida das multidões europeias e asiáticas; chegou o Inverno, que o poeta Richepin chamou o «assassino dos pobres», e mais se sentiu a falta de alimentos substanciais, de agasalho imprescindível e de abrigo razoável.
A situação de carência tornou-se também mais crua, por diminuírem as esperanças de rápido levantamento ou de obtenção de recursos.
As revoltas e as greves desorganizaram o abastecimento e a produção onde já lavravam as faltas e dificuldades. As controvérsias e percalços monetários acrescentaram a estas ultimais, sombriamente, novas faltas e dificuldades.
(Miséria incrível ainda das vagas das multidões alucinadas - deslocadas, vagamundas, sem pátria, sem lar, sem trabalho, sem futuro, arrebatadas por um tufão e despenhadas sobre ruínas.
Miséria maior dos que penderam a esperança!
Aumentou o medo - tombaram ainda algumas folhas da árvore das ilusões e a verdade mais nua acentuou o receio de muitos homens. Embora as cobardias não tenham prosperado, o medo alastrou, escorreu, e províncias inteiras foram tomadas de pânico.
E aumentou por não reflectir apenas os terrores nocturnos dos contos de Edgard Põe, nem a ansiedade dos parapeitos, mas porque invadiu os lares e estendeu o seu véu sobre famílias inteiras, sobre grupos, sobre partidos. E alcançou mesmo os seus criadores e iniciadores, os novos heróis do medo, que Albert Vandal viu tremendo ao historiar a Revolução Francesa.
E tornou-se mais expressiva, definida e objectiva a liberalidade americana, da qual disse o Presidente do Conselho: «Eu admiro a largueza de espírito, a generosidade, a prontidão com que a América acorre em auxílio da Europa, quer para protecção individual dos necessitados, quer com o fim de dar à economia europeia meios de recuperação».
Sr. Presidente: o triste quadro europeu do após-guerra pinta-se em poucas palavras:
Ninguém tem confiança na paz; o que quer dizer que o dragão da guerra espreita! As armas não foram ensarilhadas ainda.
O Mundo dividido em Oriente e Ocidente e balizado por uma cortina de baionetas eriçadas - de um lado a negação da liberdade económica e da apropriação legítima; do outro a iniciativa e a propriedade!
A nobre Carta do Atlântico devolvida ao redemoinho das águas!
Países que lutam pela independência, enquanto outros já trazem chumbada a gargalheira da sua escravidão!
Teerão, Yalta e Postdam dando lugar a interpretações divergentes!
Não se assinou a paz com o Japão, a Alemanha, a Áustria e a Coreia!
As ideologias chocam-se e seria difícil que alguma força se intitulasse fiel da balança, entre os pratos tão contrários. Quanto mais exercer tal mister!
A recuperação tímida, irregular, lutando com toda a espécie de dificuldades! As minas abandonadas!
E os campos renitentes ou hostis, à medida que as messes se elevam!
A Europa, entregue a si mesma, braceja como o náufrago que se afunda e se for abandonada já está preparada para ver alargar o domínio e a violência dos magnates moscovitas.
Condenada sem remissão pêlos escuros alvissareiros, como poderá a Europa ser o que o é verdadeiramente, soerguer-se, reconstruir a sua posição, lutar pelo seu espírito, perfilar-se ainda e projectar-se como um elemento decisivo do concerto mundial?
Antes de fazer civilização há-de alimentar-se, vestir--se e abrigar-se; antes de fazer política há-de mostrar que não teme.
S. Mateus, S. Marcos e S. Lucas mostram como os soldados constrangeram um homem de Cyrenne para que aguentasse parte do peso do madeiro da cruz. A América do Norte acaba de tirar carta de nobreza, ajudando a Europa empobrecida e amedrontada, mas também foi forçada, por circunstância bem prementes, a tomar uma parte da sua cruz.
Se não exportar, os males da desocupação e da estagnação económica poderão subvertê-la; se não obtiver capacidade compradora no mercado mundial não poderá desenvolver ulteriormente os seus consumos e ganhos.
Assim, ora forçada pêlos factos, ora esclarecida pelas suas razões, a América pode valer aos seus amigos em transe e fá-lo, na trajectória dos próprios interesses, podendo abalançar-se a isso pela sua posição insuperável e gigantesca.
Em alguns traços nítidos conseguirá vincar-se o seu vulto incomensurável de colosso industrial e capitalista.
Poupada às destruições de duas guerras mundial, servida pelo seu génio inventivo, dispondo do primado da técnica, concentrando enorme poder de riqueza, poucos materiais lhe faltando na própria casa, os Estados Unidos, de antigos devedores, passaram a ser o primeiro dos credores.
De 1939 em diante a sua potência industrial cresce de 50 por cento!
O rendimento anual atinge 210 biliões de dólares!
21 biliões deste tomam o rumo da poupança!
25 biliões de dólares-ouro fazem de fundo de tesouraria!
25 biliões de dólares representam ainda os créditos actuais sobre o estrangeiro!
16 biliões resultariam das exportações calculadas para 1947, contrapostos a uma importação de 8 a 9, restando um excedente de 8 a 7!
O mercado interno, pujante e descompassado, não poderá absorver nos tempos mais próximos muito mais - uns 10 por cento!
Assim se levanta o novo colosso no horizonte mundial. E por isso a América do Norte pode fornecer, tomar encomendas, fabricar, alargar produções, pode vender a crédito, financiar os próprios compradores e devedores, pode emprestar e até pode dar tudo: dinheiro, valores, máquinas, víveres, materiais, produtos primários ou técnicos...
Pode mesmo «emprestadar», como dizia o valente Ferreira do Amaral.
Para acudir à mísera e amesquinhada Europa, que fora rainha, sòmente a potência económica, descomunal e desempoeirada dos Estados Unidos - e sòmente a sua capacidade política, solidamente assente em objectividades.
Sr. Presidente: se a primeira razão da sua capacidade de auxílio está na enormidade do seu poder económico, a segunda razão está na cultura da verdade e reconhecimento das suas consequências pêlos actuais dirigentes.
Vários homens públicos prestaram um enorme serviço ao país, e outro, não menos importante, à opinião mundial, esclarecendo, orientando, edificando sobre os actuais problemas, admoestando e definindo com precisão sobre a verdade das situações do Ocidente e do Oriente.
Byrnes, publicando as suas memórias, que em boa hora o Diário de Notícias traduziu; Bullit, escrevendo The great globe itself; Harriman, dando conta dos incidentes da sua carreira; Sumner Wells, editando Where are we headingf; Walter Lippman, escrevendo uma sé-