5 DE FEVEREIRO DE 1948 257
rie memorável de artigos, e o próprio romancista Steinbeck, relatando as suas apreciações e notas, destruíram muitos preconceitos e ilusões e repuseram sobre o seu pedestal a verdade sociológica e histórica. Influenciaram e advertiram profundamente o povo americano e 05 milhões de leitores espalhados pelo Mundo.
Tendo visitado os pontos cardeais da vida internacional, trilhando as rotas mais misteriosas, conhecendo os homens públicos e pesando-os pelo seu tipo ideal, observando e reflectindo, mas transmitindo, varreram muita ideia falsa e muito prejuízo perigoso.
Apontaram a verdade e, fazendo-o, souberam destacá-la das contrafacções que a adulteram.
Por outro lado, alguns homens que ganharam a guerra, outros do estado maior, dos quais se requerem as aptidões mais várias e os serviços mais diversos, foram investidos nas situações de dirigentes da política exterior norte-americana.
Esses homens, como os outros, puderam nos seus postos usar da clareza deslumbradora, que se despe de circunlóquios para enfrentar a perversão da verdade e os erros.
Quando em 5 de Junho passado, na magnífica Universidade de Harvard, Marshall expõe a sua ideia de auxílio à 'Europa em transe - o seu programa contra a miséria -, embora vestido da roupagem de simples assistência, ele é também o homem de boa vontade de que falam as Escrituras, que deve a totalidade dos seus conhecimentos e experiência com lealdade ao seu país.
Os que sofrem privações recorram ao Tesouro americano!
O caos, a fome e o desespero ameaçam 270 milhões de europeus, por acaso constituindo o sistema nervoso central do Mundo, e o exemplo da Alemanha não se pode repetir.
Se tais males económicos se converterem em confusão política e horror social, os próprios americanos, que são herdeiros em linha recta da civilização ocidental e crista, poderão baquear e os riscos e perigos hão-de escurecer durante séculos a evolução das massas humanas.
O que depois se passou, a iniciativa tomada pêlos Governos Inglês e Francês, as reacções e obstáculos, a Conferência dos 16, as discussões em Washington estão frescas de tinta...
Adiante, que não vale a pena lembrá-las!
Sr. Presidente: a mecânica do programa americano abrange modalidades complexas, em conformidade com a categoria e precisões dos países auxiliados e o carácter próprio do socorro a eles diferido.
Certos países, como a Grécia, ficarão contemplados com doações e créditos especiais.
Outros, como a Fiança, poderão receber um auxílio provisório para além do rateio do ouro apreendido aos alemães.
Outros, considerados os deficits previstos nos quatro anos de auxílio, serão favorecidos com esperas, dilações, aquisições a crédito e até reforços dos próprios meios.
Virão auxílios em combustíveis, víveres de toda a espécie, ferro e aço, máquinas, apetrechamento mineiro, camiões, equipamento eléctrico, sucata de metais, madeiras, algodão e até forragens para a pecuária austríaca e tabaco para os fumadores...mais necessitados.
Quinhentos navios americanos serão transferidos, ou seja duzentos vendidos e trezentos emprestados, por algum tempo - um desastre, clamava um nosso colega, Deputado pela Califórnia!
Ao todo, calculado inicialmente, um esforço da ordem de 6:800 milhões de dólares, que, iniciado em Janeiro e até 30 de Junho de 1952, ver-se-iam mais de duplicados.
Sr. Presidente: têm sido formuladas interpretações acanhadas sobre o programa de auxílio pelos homens públicos, escritores e jornalistas, diminuindo assim os termos e a amplitude do esforço a despender e beneficiar.
Já foi visto como um simples fundo de socorro destinado a aquecer a bolsa e a desentorpecer os membros ide algumas nações caminheiras e embaraçadas pelas fadigas. A multiplicidade do auxílio e a posição tão diversa dos beneficiários não se compadecem com uma noção tão simplificada!
Foi entendido também como um instrumento precioso de instante combate à pobreza e à fome.
Mas o plano que se desenha excede estes limites acanhadas.
Evitar a miséria, a fome e o desemprego. Fornecer à Europa minguada e decrépita os meios de se levantar e restabelecer. Programar para quatro anos os reconstituintes próprios à expansão das suas forças económicas. Contar com a cooperação e o esforço solidário do Ocidente europeu. Reconstruir as correntes e pontos nevrálgicos do comércio mundial. Restaurar as trocas plurilaterais sobre as economias erguidas. Dar à indústria e à agricultura as maiores possibilidades de laboração e resultados - amplia, excede, ultrapassa, deixa a perder de vista aquelas moções tão acanhadas.
Não se trata de vencer as aflições do momento, nem de fortalecer apenas um organismo combalido, nem de prestar seguranças inalteráveis contra a fome e a pobreza; trata-se de dar novo alento, de alargar a antiga vitalidade, de distribuir com equidade os recursos mundiais, de manter o comércio em nível alto, de derramar e facultar pão e conforto - de reconstituir a Europa, para reconstruir o Mundo.
A ária agora é outra.
O dinheiro também pode ser interpretado em termos de poder e de força. Pelo seu prestígio, pela sua obra e graça, o dinheiro é bem mais do que poder de compra.
Os financeiros de Wall Street preparam-se para dirigir a política mundial. Tudo irá obedecer aos seus discretos, mas retesados, cordelinhos. A escravidão plutocrática avançará sobre o Mundo.
Não se disse já que foram eles que engendraram e criaram a Rússia Vermelha, com quem, a despeito de calotes vários, mantêm afectuoso contacto?
Não se assegurou que, dispondo de dólares e regando ouro, se conservam frescas e adoçadas as anais surpreendentes afeições?
O Ministro da Agricultura americano não anunciou aos lavradores americanos grandes benefícios?
O próprio Marshall não prometeu aos comerciantes um lucro a certo prazo da data?
Este último, porém, afirmou categoricamente perante a Comissão dos Negócios Estrangeiros que seu programa constituía...«um fardo pesado para os contribuintes. Mas os sacrifícios permitir-lhes-ão desfrutar amanhã paz e segurança»...
Os contribuintes foram avisados de que lhes seriam exigidos novos sacrifícios.
Disse-se que não poderiam, por mercê do esforço despendido, persistir na política habitual de amortizações.
Pediu-se a renúncia voluntária ou uma maior percentagem do racionamento em alguns produtos. Certas exportações e fornecimentos - o de barcos, por exemplo - foram assinalados e criticados como desfalcando o património americano e beneficiando incòmodamente os seus rivais e concorrentes no mesmo campo mercantil.
Convidou-se o povo norte-americano a economizar víveres e madeiras e a alargar a produção de cereais.
Bloquearam-se os preços por cima, no sentido de evitar que pelas altas sucessivas o produtor e o contribuinte