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29 DE ABRIL DE 1948 599

nistro das Obras Públicas em 1946. Essa exposição visa o seguinte assunto:
Quando se construiu o caminho de ferro do Algarve o seu traçado afastou-se do concelho de Loulé por uma economia de quilómetros e talvez até porque o acidentado do terreno dificultava a passagem do caminho de ferro naquela direcção. Este desvio constitui grave injustiça para a população daquele concelho, porque afecta de maneira considerável a sua economia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Esta questão vem já de há muito tempo. Desde longa data que os louletanos têm lutado por que ela seja reparada. E já em 1890 o conselheiro Marcai Pacheco conseguiu do Governo de então um estudo complementar para rectificação da referida linha férrea...
Infelizmente os porfiados esforços da população da vila de Loulé, tanto nessa época remota como mais recentemente, em vida do Ministro Duarte Pacheco, malograram-se em consequência do falecimento prematuro de qualquer1 destes dois filhos ilustres da vila de Loulé.
Nem por isso deixa de estar de pé a necessidade de remediar tal estado de coisas, sendo certo que Loulé é o principal centro agrícola do Algarve e movimenta aproximadamente 40:000 toneladas de mercadorias e produtos.
Não se trata de uma questão de interesse restrito e local. Trata-se mais de uma questão de interesse geral que afecta grandemente a economia da província. Em 1890 estudou-se a construção de uma variante destinada a levar o caminho de ferro junto da. vila de Loulé. Mais tarde, em 1926, fez-se novo estudo, e ali se projectou uma variante que ligasse a estação de Boliqueime a Almancil e que satisfizesse inteiramente as legítimas aspirações da laboriosa população daquela vila.
Este estudo encontra-se ainda pendente, apesar de a Direcção Geral de Caminhos de Ferro ter por ele a maior simpatia.
Dado o interesse que o Sr. Ministro das Obras Públicas, tem demonstrado em todas as obras de interesse regional, eu solicito a atenção de S. Ex.ª para a resolução deste problema, convencido de que muito contribuirá para maior prestígio do Estado Novo e do Governo em terras algarvias.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Henrique Galvão: - Sr. Presidente: raras vezes se fala de Angola e especialmente, quando as falas reflectem intenções mesureiras, que não se repita o já velho lugar comum: a Angola, a mais portuguesa de todas as colónias portuguesas... ".
E Angola corresponde na verdade à frase feita.
É preciso, porém, não esquecer que, se Angola é de facto a mais portuguesa das colónias portuguesas -e sem que isso signifique que são menos prontos e fiéis os sentimentos portugueses de outras colónias -, tal expressão se constituiu e marcou especialmente pela intervenção que desde sempre tiveram na vida e ocupação da colónia a gente humilde, os pequenos colonos, os eternos portadores, em todos os continentes, das marcas inconfundíveis que a expansão portuguesa, deixou um pouco em todo o Mundo.
O Sr. Presidente: - Vejo-me obrigado a interromper a sessão por uns momentos.

Eram 16 horas e 55 minutos.

O Sr. Presidente:-Está reaberta a sessão.

Eram 16 horas e 10 minutos.

O Sr. Presidente: - Continua no uso da palavra o Sr. Deputado Henrique Galvão.

O Sr. Henrique Galvão: -Continuando, Sr. Presidente:
Angola é a colónia - a única colónia portuguesa - em que os pequenos colonos, prolongando usos, costumes e virtudes portuguesas dos lares de origem, alcançaram criar uma feição típica nacional inconfundível.
Em toda a África negra só a gente boer, através de actividades rurais e sentimentos terrenhos de colonos humildes, logrou, como a gente de Angola, criar uma expressão própria, nacional e inconfundível, em sobreposição aos próprios elementos africanos autóctones.
Em resumo: Angola é a mais portuguesa de todas as colónias portuguesas porque é aquela que mais deve, em quantidade e qualidade de trabalho, em persistência e devoção, em continuidade e enraizamento, em expansão e apego ao carácter nacional, à gente humilde, dessa que em todos os tempos tem sido o elemento mais puro e vigoroso da raça.
Não se poderia dizer o mesmo ... se os colonos fossem bacharéis.
Pois bem, Sr. Presidente: esta boa gente, que é da melhor de Angola, a .ponto de ser a mais representativa do seu carácter e das suas glórias, e que é da melhor do Império, encontra-se pouco mais ou menos que abandonada. E por vezes, onde não pode dizer-se abandonada, perseguida por agentes burocratizados de protecção, mais nocivos que o abandono puro e simples.
Sempre recordada e lisonjeada quando as oportunidades recomendam discurso e o seu esforço serve de amparo à política - logo se esquece e se abandona às suas dificuldades.
Não dispoe, nem pela influência política, nem pela capacidade financeira, nem pela categoria social - forças e razões superiores de força da época mundial desaustinada em que vivemos-, de vozes bastante altas e sonoras para se fazerem ouvir. Dispõe das suas virtudes humildes e realizadoras, da sua teimosia heróica e do seu portuguesismo sem mácula - e esses são valores cuja cotação desce dia a dia.
As açucareiras coloniais, cuja prosperidade financeira excede talvez os limites do razoável, num país colonial onde o açúcar é quase um luxo, reclamam audaciosamente um novo aumento de preço do género e preparam-se decerto para demonstrar que sem esse aumento Portugal e as colónias estarão perdidos. Não sei se serão atendidas - estou convencido que não, pois o Sr. Ministro das Colónias não é homem que se comova com a gritaria de potentados -, mas serão atentamente ouvidas, serão atentamente consideradas as suas razões.
Os pequenos colonos, que apenas pretendem ser atendidos em pequenos problemas, cujas soluções razoáveis não interessam menos à economia da colónia e do País do que a eles próprios, não conseguem, normalmente, ser ouvidos. Só assim se explica que tantos anos tenham decorrido sem que os assuntos em que reclamam lograssem alcançar a consideração que merecem.
E afinal que pretendem?
Na verdade, apenas o cumprimento do que muitas vezes lhes tem sido prometido e manifestado como intenções imediatas de muitos governos. Acerca do que solicitam nunca se lhes disse: " não pode ser ", "não têm razão", "é injusto". Ao contrário, tem-se proclamado: "têm razão", "é justo", "vamos fazer".
O tempo passa, as coisas não se alteram e os colonos só não desistem nem desanimam porque são ainda daqueles com cujos braços se construiu o Império.