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29 DE ABRIL DE 1948 603

as classes rurais, na sua grande maioria, e os desocupados: a enorme, a esmagadora consistência demográfica deste País!
Como se tem feito frente ao problema?
Como se tem obviado em grande número de concelhos a tais dificuldades?
Agora todo o louvor é devido.
A bondade portuguesa apresenta aqui novo título de glória. Nunca parti do princípio de que a caridade cristã pudesse levar tão longe as rosas doa seus milagres nem que a obra da assistência social florescesse já com tão cálida exuberância.
O que li nos resultados do inquérito comove, elucida, doutrina e mostra que em muitos casos o problema foi localmente solucionado pela intervenção assistencial.
Estão à cabeça as Misericórdias, honra lhes seja.
Seguem-se os hospitais, sanatórios e dispensários.
intervieram depois as Casas do Povo, as Casas dos Pescadores, as caixas sindicais, o que é um título de glória para a obra social do Estado Novo.
Vieram também as Conferências de 8. Vicente de Paulo, as outras instituições de caridade, as associações de socorros mútuos, as comissões de assistência.
Há concelhos do Alentejo onde as Misericórdias e Casas do Povo resolveram o problema dos remédios incomportáveis. Concelhos como Barcelos, Guarda, Vila Franca e Mafra - não se fala no Porto - gastaram centenas e centenas de contos com as receitas dos enfraquecidos de saúde e de recursos.
Mas obviar às dificuldades não é resolver.
O problema permanece.
Se a Misericórdia também paga caro as especialidades, ela é ferida duas vezes pelo esforço que faz e pelo que lhe não deixam fazer, obviando com a sua acção benfazeja a exigências extra.
Por isso a Associação de Socorros Mútuos dos Artistas de Bragança teve de recomendar aos médicos que receitassem pelos receituários antigos, porque as quotas não suportavam o encargo das especialidades.
Por isso a Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Santarém, presidida distintamente pelo Dr. Carlos Borges, teve de convocar o corpo clínico do seu hospital e pedir-lhe que não receitasse especialidades farmacêuticas e regressasse aos medicamentos manipulados na sua farmácia privativa, os quais ficam espantosamente mais baratos.
E o corpo clínico assim procedeu, com vantagem para as finanças institucionais e sem prejuízo para os doentes.

O Sr. Carlos Borges: - Os médicos não recebiam dinheiro pêlos seus serviços, apesar de trabalharem dedicadamente, e a Misericórdia nunca deixou de recolher qualquer doente que batia à sua porta para ser recolhido.

O Sr. Alberto Cruz: - O mesmo se fazia em Braga.

O Sr. Carlos Borges: - Foi preciso que os médicos recorressem aos produtos manipulados nas farmácias.

O Orador: - Por isso, muito criteriosa e precavidamente, mediante despacho ministerial de 31 de Julho de 1943, em 1944 se organizou o "Formulário de medicamentos" para as associações mutualistas, editado pelo Grémio Nacional das Farmácias.
Sr. Presidente: as informações recebidas confirmam a existência de crise em muitos estabelecimentos de venda a retalho.
Essa crise reveste, pelo menos, dois aspectos: os doentes e suas famílias vêem-se embaraçados para adquirir remédios caros; as especialidades de curta duração ou de ocasional escoamento engasgam os armários e acarretam prejuízos.
No inquérito fazem-se referências a débitos que atribulam a vida dos farmacêuticos. Muitos não compram porque singelamente não. podem pagar. Muitos compram mas não pagam. Algumas farmácias fecharam (Torres Novas). Outras viram-se forçadas a vender apenas a contado. Como não há possibilidade de armazenar centenas ou milhares de especialidades - o familiar do doente rola da província ou da farmácia excêntrica para os grandes e imponentes estabelecimentos da Baixa, que me dizem suplantar os de Nova Iorque e que verifico excederem os de Paris e de Londres.
A demonstração da carestia dos nossos medicamentos pode fazer-se pelo confronto com o produto similar estrangeiro. Em Espanha e França são as especialidades menos aparatosas e mais baratas, pagando-se bem, é certo, a embalagem em vidro e o cartão substituindo agora as tradicionais caixas de folha.
Afirma o delegado de saúde de Montalegre: e Faz-se larga aquisição de medicamentos em Espanha, onde são mais baratos".
O asno passado no Nordeste os medicamentos passavam nos concelhos fronteiriços, iam ao Porto, voltavam sobrecarregados e podiam ainda concorrer, por preço mais baixo, com as especialidades nacionais.
Mesmo com pesetas caras e todos os direitos pagos, os produtos espanhóis vinham concorrer com vantagem internamente.
A industrialização, que é uma lei histórica do nosso tempo, conduziu ao abuso das especialidades e não pode demonstrar-se com vantagem de preço para o acesso ao mercado farmacêutico. O consumidor pode ter sido bem servido, mas não foi servido mais barato.
Especialidades a esmo, a granel, especialização de verdadeiras bagatelas, que em número suplantam a lista dos telefones, eis ao que conduziu a industrialização em excesso.
Banalidades, não! exclama um professor de farmácia.
O Grémio dos Industriais afirmou que no final de 1946 havia 2:142 especialidades nacionais no seu ficheiro. Mas a Comissão Reguladora corrige e contrapõe: eram, até 1941, 5:088; e, a partir de 1941, mais 1:319. Ao todo 6:407.
Em tempos o presidente da Comissão Reguladora admitiu que o número fosse inferior a 8:000 e afirmou-se na imprensa diária que orçavam por 10:000, contando com os medicamentos especializados isentos de imposto, os quais escapam à enumeração.
As unidades seladas nacionais, que em 1940 eram 2.391:898, estavam em 1946 nuns 8.780:447.
Subiam na escala do milhão por ano.
As unidades seladas estrangeiras passavam de 2.475:513, em 1940, para 4.673:665, em 1946.
Um negócio da China!
Quer dizer: as especialidades inundavam e avassalavam tudo. Deixavam a perder de vista os acréscimos da população, as epidemias, as melhorias de assistência médica. Uma indústria formidável que, com um bocadinho de jeito, havia de nadar em prosperidade, mesmo que não se declarasse e ostentasse muito ambiciosa.
E no meio desta crescença medrava a especialização a torto e a direito.
Já se afirmou que 90 por cento das especialidades farmacêuticas nada .possuem de especial.
Já se afirmou que mesmo com um silo ao lado as farmácias não chegam (para esta imensidade.
Já se afirmou que há especialidades que parecem verdadeiras vergonhas.
Já se fez ressaltar que não há médico que disponha de memória ou cerebração para arcar com esta astronomia de céu de verão.