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13 DE DEZEMBRO DE 1950 143

Por mim permito-me opinar que o pior mal que pode suceder a um povo é o desinteresse dos seus cidadãos pelos problemas da governação pública. E esta política de abafar os problemas pode levar a fomentar o estado de «não vale a penas, o não «importequismo», como o designou um dia Maurras, o qual não representa senão a fase prodrómica de desinteresse cívico.
Por isto, podemos ter a certeza de que a quase totalidade das pessoas que leram o discurso do Prof. Silva Marques está convencida de que ninguém lhe ligou importância, de que pregou puramente no deserto, e que dos 400 contos necessários para o expurgo ele não pôde dispor sequer de 400$.
E se assim aconteceu também não se poderá dizer que foi por falta de disponibilidades, porque a simples leitura dos jornais permite julgar que, se fosse necessário, muitas despesas efectuadas desde então em outros sectores da Administração poderiam ter sido substituídas por esta, destinada à eliminação de parasitas.
Sr. Presidente: tal como o director da Biblioteca Nacional, eu creio que não carreguei absolutamente nada as cores do quadro. Limito-me a fazer votos para que o Ministério das Obras Públicas, terminada que seja a série dos estádios e edifícios afins do plano de fomento desportivo nacional, possa mandar fazer ò projecto das novas instalações para a Biblioteca e que, entretanto, sejam concedidos urgentemente a esta os meios de salvar muitas espécies bibliográficas já condenadas a serem carregadas em novos camiões de refugo.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Vaz Monteiro: - Sr. Presidente: em 8 do corrente, dia da Imaculada Conceição, padroeira de Portugal, houve duas cerimónias solenes, sendo uma no ultramar e outra na metrópole, que, pelo seu alto significado, merecem que delas se ocupe esta Assembleia.
Realizou-se na província ultramarina da Guiné a cerimónia religiosa da consagração da igreja-catedral de Bissau e, à mesma hora, rio gabinete do Sr. Ministro das Colónias, procedeu-se à imposição das insígnias de oficial da Ordem do .Império Colonial ao venerando padre José Pinheiro, que muito contribuiu para a construção daquela igreja-catedral.
Para um país colonizador como Portugal, que, conforme muito bem diz o artigo 2.º do Acto Colonial, tem aã função histórica de possuir e colonizar domínios ultramarinos e de civilizar as populações indígenas que neles se compreendem v, as cerimónias da inauguração de uma igreja-catedral era terras do ultramar e da condecoração de um missionário português revestem-se da maior importância para a nossa vida nacional.
É basilar, para se alcançarem os nossos fins colonizadores de civilizar e nacionalizar as populações nativas, recorrer à acção humanitária, moral, religiosa e patriótica das missões católicas portuguesas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - É que para colonizar verdadeiramente à maneira portuguesa temos de dilatar a fé cristã - a religião tradicional dos portugueses. Temos de tratar humanamente os indígenas, considerá-los nossos compatriotas, ensinar-lhes a nossa língua e a nossa religião e adaptá-los, por meios suasórios, aos nossos usos e costumes.
Para alcançarmos o aperfeiçoamento moral e social dos indígenas das nossas províncias ultramarinas muito se deve à acção das missões católicas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A nossa escola tradicional de colonizar sempre teve por primeiro princípio o primeiro mandamento da nossa religião - o amor ao próximo -, e ú assim que nós desde o começo da nossa expansão ultramarina considerámos como seres humanos, como nossos verdadeiros irmãos, todos os indivíduos com quem íamos tomando contacto à medida que se dilatava a Fé e o Império.
Os missionários acompanharam sempre os nossos marinheiros, os nossos militares, durante os períodos dos descobrimentos e da ocupação; e hoje continuam a colaborar igualmente com os nossos colonos, com os nossos funcionários do ultramar.
Ao mesmo tempo que ensinam aos indígenas a pronunciar a palavra Deus, ensinam-lhes também as palavras Pátria e Portugal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A nossa maneira de colonizar não dispensa a colaboração das missões católicas portuguesas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Parecerá estranho, Sr. Presidente, que, sendo a Guiné a mais antiga das nossas províncias ultramarinas, velha de cinco séculos, feitos em 1946, se tenha deixado atrasar na cristianização a tal ponto que, como afirmou o Sr. Ministro das Colónias, «quase metade da população da nossa Guiné adoptou o credo muçulmano já depois de nós estabelecidos naquela província, enquanto que a outra metade continua, na sua grande maioria, feiticista».
E na verdade assim é porque, a bem dizer, «esteve ausente a acção missionária católica na Guiné desde a descoberta até à beira dos nossos dias».
Eis, Sr. Presidente, um grande motivo para mais nos regozijarmos com a inauguração da igreja-catedral de Bissau e com a homenagem prestada a um missionário que se manteve na Guiné perto de trinta e quatro anos, durante os quais uma só vez veio de licença à metrópole.
Portugal é assim encaminhado pelo Estado Novo na senda da sua função histórica de civilizar e nacionalizar as populações nativas do nosso ultramar. E todos nós temos o dever de animar os missionários franciscanos, a quem se entregou a seara da Guiné, para que eles possam realizar naquela província ultramarina uma grande e extraordinária obra de evangelização. É preciso que se trabalhe muito e bem para se reaver algum do tempo que se perdeu enquanto a Guiné esteve livremente exposta à expansão maometana e era muito precária a nossa ocupação.
Quando o padre José Ribeiro chegou à Guiné, em 1908, os régulos ainda desrespeitavam as nossas autoridades. Registavam-se com frequência actos de insubordinação e rebeldia. O gentio dificultava a navegação nos canais e rios e o transporte dos produtos através dos estreitos caminhos dos indígenas era penoso e perigoso.
A população de Bissau ainda necessitava de defender-se dos insubmissos e aguerridos Papéis, tendo de recolher à noite ao abrigo que lhe oferecia a muralha erguida para tal fim entre o quartel da Amura e o cais do Pigiguiti.
As operações militares sucediam-se com bastante frequência.
Em Maio de 1908 a força expedicionária metropolitana, composta de perto de 500 praças europeias, encontrando-se dizimada pelas baixas por doença e depois do combate do alto do Intim em que alguns perderam a vida, e entre, eles o alferes Vítor Duque, regressava extenuada à metrópole.