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146 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 61

O Orador: - V. Ex.ª disse aqui:

Um dos grandes mandou construir na serralharia da Colónia, para uso próprio -efectivamente não a traz ao ganho -, uma grade de discos. Esta grade custava no mercado 24 contos e veio-lhe a ficar por 12.
Ora, Sr. Presidente, eu não sei de que mais me hei-de admirar, se da consciência, se do talento industrial, capaz de numa simples oficina de serralharia, construir uma peça única mais barata 50 por cento do que em qualquer outra parte, porventura em outras condições mais favoráveis. E andamos todos nós, o Governo e a Associação Industrial Portuguesa, preocupados com este problema sério e grave da possibilidade de industrializar o nosso país. Poder-se-ia aproveitar o talento excepcional que existe na Colónia Penal de Alcoentre.

O Sr. Botelho Moniz: - O pior é o recrutamento da mão-de-obra.

O Orador: - A concorrência à iniciativa particular, feita pela Colónia Penal de Alcoentre à indústria particular, foi por mim aqui referida, sem que essa afirmação fosse de qualquer modo enganosa.

O Sr. Abrantes Tavares: - Mas eu confirmei essa concorrência.

O Orador: - Mas o que há a mais ainda na irritação do Sr. Deputado Abrantes Tavares? Há, Sr. Presidente, uma debulhadora, que, segundo a minha afirmação, circula no concelho da Azambuja, trabalhando mais barato para arranjar freguesia, e cirandou aqui no discurso do meu antagonista para arranjar ambiente. Pois também posso afirmar a VV. Ex.ªs que ninguém frisou este aspecto industrial da debulhadora; fui eu a quem ela impressionou particularmente, e vou já dizer porquê.
É que para a ir procurar não é preciso ir até aos altos muros da cadeia de Alcoentre - digo altos muros sem saber se digo bem, pois nunca os vi, mas talvez sejam mais baixos do que eu suponho, porque de lá fogem constantemente delinquentes graves, que vêm cá para fora pôr em perigo a vida e os haveres dos cidadãos pacíficos e honestos.

O Sr. Abrantes Tavares: - As fugas de uma colónia agrícola são inevitáveis, mas não são nada para que V. Ex.ª esteja ai a fazer frases. Essas fugas só demonstram da parte dos guardas prisionais uma louvável inibição no exercício do cargo, pois se eximem em atirar a matar quando essas fugas se registam.

O Orador: - Isso só demonstra, Sr. Deputado, que esse sistema presidiário é tão belo que os desgraçados que são honrados estão sujeitos a assaltos a toda a hora e até a ser mortos, como aconteceu já na Fábrica de Cimento de Alhandra.

O Sr. Abrantes Tavares: - V. Ex.ª sabe que os evadidos das prisões não tardam muito tempo em ser recapturados.

O Orador: - Eu constato o facto: todos os dias fogem presidiários da colónia.

O Sr. Abrantes Tavares: - Isso é um exagero. Eu convido V. Ex.ª a demonstrar que todos os meses -já não digo todos os dias - fogem presidiários da Colónia de Alcoentre. E, note V. Ex.ª, eu alargo o prazo para todos os meses...

O Orador: - É muito simples fazer a prova.

O Sr. Presidente: - Peço ao Sr. Deputado Melo Machado para continuar as suas considerações.

O Orador: - Dizia eu que para as demais indústrias era necessário o acto deliberado do os procurar dentro da colónia, que, segundo suponho, ainda não tem caixeiros viajantes.
Não tardará, porém, que venham a casa de cada um ladrões ou assassinos oferecer os produtos da colónia.

O Sr. Abrantes Tavares: - Não posso responder a V. Ex.ª aqui de baixo. Responder-lhe-ei aí de cima.

O Orador: - Mas para a debulhadora o caso era diferente.
Ela vinha para fora dos muros, aliciante na baixa dos preços, ter com o freguês para o solicitar. E foi só isso que me impressionou.
De resto, ele foi aqui apresentado como uma coisa muito simples.
Devo dizer a VV. Ex.ªs que a coisa não é tão simples como se disse.
No concelho da Azambuja há só os seguintes industriais: nada menos de 10 de cerâmica; há lagares de azeite, nada menos de 18; fornos de cal, nada menos de 5; alambiques bagaceiros, nada menos de 11; debulhadoras, nada menos de 13.
O caso não era tão restrito como V. Ex.ª pôs.
Sr. Presidente: demonstrado que nada do que eu aqui disse foi contestado - por consequência não fui enganado, nem torpemente nem de outra maneira qualquer -, que é que resta desta discussão? É que, de facto, isto é um problema, S. Ex.ª o afirmou, acrescentando que não sabia como se havia de resolver.

O Sr. Abrantes Tavares: - Não sou só eu. Se fosse só eu não havia mal nenhum. É V. Ex.ª e todos os que dele se ocupam.

O Orador: - Num problema sério desta gravidade vale a pena meditar um pouco.
E, se se reconhece de boa vontade que é absolutamente indispensável procurar a regeneração dos delinquentes através do trabalho remunerado, não posso deixar de afirmar a VV. Ex.ªs que entre os assassinos e ladrões e as pessoas de bem eu estou ao lado destas.
Sr. Presidente: o que é que resta da fala do meu antagonista? Suponho que já toquei todos os pontos. Mas resta ainda da fala de S. Ex.ª o parto e o dedo no nariz.
Quanto ao parto, Sr. Presidente, foi ele de S. Ex.ª laborioso e rebuscado. Quanto ao dedo no nariz, suponho que é gesto que não diz bem com a austeridade desta tribuna nem com a importância do assunto que me permiti trazer à consideração de VV. Ex.ªs
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Abrantes Tavares: - Com a tribuna estou de acordo, com a questão que aí me levou é que não.

O Sr. Carlos Mantero Belard: - Sr. Presidente: é a primeira vez que falo nesta sessão legislativa.
Por isso começarei por palavras de respeito por V. Ex.ª e de admiração pela dignidade com que V. Ex.ª ocupa o alto cargo de Presidente da Assembleia Nacional, pelo seu grande saber e elevada distinção de espírito.
A VV. Ex.ªs, Srs. Deputados, as minhas cordiais saudações.