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276 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 69

o Governo o sustente à mesa do orçamento, garantindo-lho um emprego público.
Por mini entendo que não. O que o diploma pode dar é preferência a esse emprego sobre quem não tem diploma. E o que devia dar a quem o possui é mais saber, mais capacidade, mais garantia de triunfar na vida, o que nem sempre acontece.
Com frequência se vê serem batidos em concursos para lugares de inferior categoria pessoas com cursos superiores por candidatos que tem habilitações legais para o lugar, mas não são propriamente intelectuais pelo titulo ...
É que o diploma pode muito bem não passar do "canudo" da linguagem académica de Coimbra, que não dá saber nem habilitações a quem o possui.
Não, acusemos, porém, o Governo da incapacidade do tais candidatos para a vida o para qualquer coisa útil.
Acusemo-los a elos de terem procurado um estado de vida para que não foram nascidos nem fadados e, quando muito, acusemos as escolas de não terem sabido seleccionar vocações o terem consentido em que possuíssem títulos nulos ou incompetentes que os não mereciam:
Apoiados.
Anda -parece-me- intimamente relacionado o problema do desemprego, nos indivíduos com títulos ou exames, ao problema da orientação escolar.
Devia a escola preparar para a vida, dar cultura, formarem-se por ela portugueses mais úteis o mais capazes, seleccionar vocações, para que cada português ocupasse na vida da Nação o lugar em que mais proveitoso seja o seu trabalho e mais útil o seu esforço.
Infelizmente, porém, a escola quase se limita a preparar para o exame, e a inspiração do grande número de portugueses quase se reduz a fazer exame que lhes dê direito a um diploma e por ele a um emprego público.
Em vez de formarmos portugueses apetrechados para a vida, com capacidade para o máximo de rendimento em favor da economia ou. da verdadeira cultura nacional, criamos burocratas ou diplomados que não passam de pedintes de empregos.
Há excepções, numerosas e honrosíssimas, mas a tendência geral é conseguir um diploma, não um diploma que traduza e signifique saber e capacidade, mas dê ingresso no funcionalismo público.
Detido a escola primária até aos cursos superiores, o português que tem um diploma sonha no emprego e faz exame com a mira quase exclusiva de o conseguir.
É esta tendência doentia, agravada pelo horror a tudo que exija esforço e pela Ânsia de tirar da vida o maior proveito à custa do menor trabalho, que leva o rapaz da aldeia que sabe ler, escrever e contar a desejar um lugar na Polícia, na Guarda Republicana, na Guarda Fiscal, a pretender vender, como marçano, arroz numa mercearia antes que ser mentor pelos conhecimentos adquiridos na escola, administrando o seu património agrícola o constituindo o que Le Play chama uma autoridade social no seu meio o no exercício da sua profissão:
Filho e consequência do mesmo erro 6 o desejo o exclusiva preocupação de muitos pais e mães de família de que seus filhos o filhas persistam em frequentar o liceu até vencerem o 5.º ano, não para continuarem a sua carreira literária, para que são uma negação absoluta, mas porque o 5.º ano sempre dá possibilidades a um emprego modesto ou, a um lugar pago pelo Estado.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Muitos destes rapazes o raparigas, sendo quase incapazes, serão amanhã maus funcionários, como foram péssimos estudantes.
Depois de serem peso morto na sua classe, julgam-se, porque sempre conseguiram um título, no direito de serem um peso inerte para o orçamento do Estado e argumentam para o direito à colocação com o titulo literário, que afinal lhes não mudou nem o carácter, nem a cultura, nem a incompetência de que sempre deram prova.
Entre eles há muitos que poderiam ser insignes em actividades profissionais aparentemente de menos brilho, mas de facto mais úteis à Nação e a eles mesmos, por que mais conformes com a sua vocação.
De raparigas que frequentam os liceus e escolas secundárias sei eu, até pela minha experiência de director de um externato académico na vila em que resido, que dariam excelentes desenhistas, modistas com larga clientela' mas as famílias, por orgulho de vida, obstinam-se em dar-lhes uma carreira literária e em lançá-las nas chamadas profissões liberais.
Nos rapazes se verifica o mesmo facto. Andam a atormentar os professores bom número deles que seriam bons comerciantes, excelentes lavradores, magníficos operários fabris.
São, porém, de famílias que os querem doutores e que se queixam ainda de Salazar por ter dificultado o acesso às Universidades aos que não revelam qualidades para se elevarem e, elevando-se, fazerem subir o nível cultural do País, em resultado do curso superior que frequentaram.
O País nada lucra e a comunidade nacional sofro graves prejuízos com os diplomados que o não deviam ser. Aumenta o número dos que um ilustre escritor francês chama declassé, ou seja de pessoas que ocupam um lugar a que não tinham direito pelos seus méritos e qualidades ou, dizendo melhor, por falta de méritos o qualidades.
Conheço terras da província em que estes tais déclassés são a maior desgraça para a vida do meio. Alcandorados por cansa dos títulos a lugares para que não têm competência e onde servem mal ou de que apenas se servem para realização de desmedidas ambições, o que está de acordo com o aforismo de que a ignorância é atrevida, toda a vida local empena na sua expressão de esplendor progressivo devido a esta circunstancia.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E se por essa província fora há muitos sinais de vida velha na vigência do Estado Novo é que tais nulos e atrevidos se não decidem a reconhecer que o são, não obstante os diplomas que ostentam.
Sr. Presidente: o assunto é vasto o reveste-se de uma grande multiplicidade de aspectos. Abordá-los a todos seria prolongar além dos justos termos este debate e não me atrevo a fazê-lo ou a concorrer para isso.
Pretendi tão-somente trazer ao problema em discussão alguns elementos esclarecedores e chamar a atenção desta Assembleia e do Governo para alguns aspectos dele que se me afiguram essenciais.
Do que fica dito é lícito tirar algumas conclusões que reputo constituírem pontos basilares da moção com que há-de concluir este debate:
1.ª A Assembleia Nacional roga ao Governo que, continuando no prosseguimento da política de justiça que caracteriza a Revolução Nacional, dê ao desemprego toda a atenção e cuidadoso estudo, voltando em particular as suas atenções para o desemprego das classes intelectuais;
2.ª Proclama-se o princípio de que o diploma não dá direito ao emprego público, devendo significar mais competência de quem o possui o mais capacidade para triunfar na vida e ser útil à Nação;
3.ª Chama-se a atenção do Governo para a necessidade de fazer da escola seleccionadora de vocações, para que, orientando-se a actividade de cada português para a função e lugar mais de acordo com o seu feitio, tem-