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19 DE JANEIRO DE 1951 281

tado da índia, Macau e Timor - é, por assim dizer, como que um acto de justiça do Governo da metrópole.
É que todas as colónias se sentem envaidecidas pelas provas de amizade e de saudosismo da Mãe-Pátria.
Se as nossas colónias do continente africano receberam, por mais de uma vez, a visita de três ilustres Ministros - os insignes estadistas Drs. Armindo Monteiro, Marcelo Caetano e Vieira Machado -, porque não poderão as colónias do Oriente ter também a glória de receber a visita do actual titular da pasta das Colónias?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas há mais:
As colónias da África tiveram também o ensejo felicíssimo de receber o abraço espiritual do País por intermédio do primeiro magistrado da Nação, o venerando Chefe do Estado, Marechal Óscar de Fragoso Carmona, e, no tempo da Monarquia, a visita do infante D. Luís Filipe.
Sr. Presidente: tive sempre o empenho, desde o primeiro dia que usei da palavra nesta Câmara, de trazer Macau para Portugal e de levar Portugal para Macau. Propus-me fazer uma série de discursos, que já iniciei, para descrever as belezas de Macau e o valor dos seus filhos.
Sei agora que é provável a ida do Sr. Ministro das Colónias a Macau, e, assim, eu ouso sugerir que vá também àquelas longínquas paragens uma comissão parlamentar, porque nada melhor do que isso para conhecer Macau. Aproveitar-se-ia talvez a viagem para essa comissão ir também à índia e a Timor - é facílimo ir de Macau a Timor.
Os membros dessa comissão diriam depois aqui, aos nossos irmãos metropolitanos o que é Macau e falariam do progresso fenomenal que o Extremo Oriente alcançou.
VV. Ex.ªs não imaginam quantos portugueses contribuíram para o desenvolvimento do Oriente. Desde Singapura até Tóquio não há uma casa comercial onde não esteja empregado um português. Desde Singapura até Tóquio os portugueses ocupam lugares de confiança p proeminência dentro de empresas poderosas, contribuindo grandemente com a sua inteligência, a sua habilidade e a sua honestidade para o progresso das terras do Extremo Oriente.
Os portugueses de Macau são descendentes daqueles valorosos pioneiros que levaram para aquele extremo oriental do Mando o nome de Portugal.
Desejo, pois, Sr. Presidente, que os meus irmãos da metrópole vão ao Extremo Oriente admirar o seu progresso e a sua beleza e depois testemunhar aqui o que são os portugueses de Macau, espalhados pelas principais cidades do Sul da Ásia, abandonados pela Mãe-Pátria ao seu destino há mais de dois séculos, depois da fundação de Macau, mas que, não obstante; foram vencendo e vinculando o nome de Portugal naquelas paragens.
É só isto que eu solicito, Sr. Presidente, que V. Ex.ª poderá pedir ao Sr. Presidente do Conselho, no sentido da ideia que lhe acabo de expor,
Macau tem hotéis luxuosos, grandes arranha-céus, belas estradas e há limpeza em toda a cidade. É uma glória de Portugal!
As minhas palavras não chegam para explicar o que aquilo é, e que muitos desconhecem, pois só um exame in loco o pode mostrar.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente:- Continua em discussão o aviso prévio do Sr. Deputado Jacinto Ferreira sobre a situação de grande número de recém-formados que não conseguem obter colocação compatível com a categoria social a que ascenderam.
Tem a palavra o Sr. Deputado Pinto Barriga.

O Sr. Pinto Barriga: - Sr. Presidente: pode estranhar esta Assembleia que eu deixasse passar sem reparo as alusões políticas que o Sr. Deputado Jacinto Ferreira fez na sua magnífica exposição de ontem, onde não soube o que havia de admirar mais, se a generosidade dos propósitos, se a galhardia corajosa das suas afirmações ou se a profundidade dos seus conceitos de administração. Ouvi-o como português, mas o Sr. Deputado durante alguns segundos fez bom lembrar que era monárquico...
O problema que desenhou no seu aviso prévio é candente e ultrapassa o círculo estreito do seu enunciado, para, com o seu desenvolvimento oral, atingir não só o desemprego dos diplomados, mas avultar o problema do proletariado intelectual, mesmo da proletarização das elites, e instaurar um autêntico processo de revisão aos métodos de ensino, sobretudo universitário - mas fazendo inteira e merecida justiça ao ilustre titular da pasta; pareceu-me, além disso, querer demonstrar que na sociedade contemporânea a noção de elite corresponde e esbarra com uma tríplice dificuldade: recrutamento, formação e utilização. Mereceram-lho também interesse o problema da promoção da mulher o as questões referentes a acumulação e inerências, bem como a livre possibilidade de acesso ao ensino e aos cargos do Estado.
Não abandonou a estrada real da verdade - como o ilustre Deputado ficou visivelmente satisfeito de empregar o adjectivo "real", mas tenho de lhe dar, desde já, uma desilusão no uso deste vocábulo rodoviário; tomei-o no seu pleno. e actual significado nacional. Sinto sinceramente que, no fundo da sua doutrina, veja como solução a limitação, de frequência, solução esta que só joga largamente no tempo, o que pareça também aprovar o camou-flage desta solução que são os exames de maturidade.
O filtro das reprovações joga também, retardando o diminuindo o número das formaturas, mas os que chegam á vida atrasadamente diplomados, não se preparam melhor, só perderam tempo, que socialmente lhes faz falta, a eles e à Nação.
Um regime de massas, de massas universitárias, exige uma adaptação orgânica e de programas. O acesso do 4.º estado ao diploma perturbou a mecânica da formação educativa universitária.
Erradamente ensina-se para "tenores e primas-donas", esquecendo-se que a maioria estudantina é um largo "corpo coral".
Sem ambiente familiar com cultura, sem lazeres, porque, na maior parte das vezes, tem de trabalhar para poder viver, o estudante prepara-se exclusivamente para os exames, para saber as sebentas, e não para ler, no velho sentido, que lhe emprestava a Renascença, de pensar e criar por uma longa meditação; desumanizou-se o ensino e as formaturas representaram para os diplomados uma simples chave, mesmo uma gazua para a vida. Imperfeitos técnicos que se dedicaram a meras teorias, voltando espáduas para "a realidade; imperfeitos teóricos, porque não ascenderam à cultura geral, são detentores de um saber acanhado de especialistas.
Os homens da minha geração, quando entravam na vida prática, venciam e dominavam os práticos da fileira pela sua cultura; os de hoje apresentam-se apenas como