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21 DE FEVEREIRO DE 1951 331

S. Vicente, quando este fica bastante mais próximo dos centros abastecedores ?
E porque é que, sendo em tais portos o rego mais elevado, muitos barcos ainda os preferem a S. Vicente?
Noutros tempos, quando o combustível usado era o carvão, já a questão havia sido ventilada, afirmando-se que o frete para S. Vicente era mais oneroso porque ali os barcos carvoeiros não encontravam, como em Dacar ou nas Canárias, carga de retorno.
Essa razão, aliás nem sempre justificada, perdeu, porém, todo o valor, visto que os petroleiros, como se sabe, não admitem carga de retorno.
A substituição do carvão pelos combustíveis líquidos só veio, pois, favorecer S. Vicente.
É certo que o prego dos óleos combustíveis é já inferior em S. Vicente, mas a diferença deverá ser forçosamente maior quando, com o porto devidamente apetrechado, a descarga dos combustíveis e o seu fornecimento em quantidade avantajada se puderem fazer tão rapidamente como se fazem naqueles portos concorrentes.
Para tanto não teremos de gastar coisa alguma que se pareça com o que se gastou naqueles portos.
Em 1938 já ascendia a 350 milhões de francos, então valorizados, a importância despendida no porto de Dacar.
Depois, muitos mais milhões se gastaram.
E o mesmo se pode dizer dos portos das Canárias.
Nós, porém, temos um porto amplo e com bons fundos, naturalmente abrigado, e, por isso, não temos necessitado de dragagens e de grandes obras para fazer um porto, que já temos, bastando-nos somente apetrechá-lo com a utensilagem. necessária.
A razão por que muitos barcos preferem Dacar a S. Vicente é que, enquanto naquele porto o combustível lhes pode ser fornecido à razão de 1:000 toneladas por hora, em S. Vicente não conseguem obter mais do que 300.
E o tempo, como se sabe, é dinheiro.
Além dos fornecimentos feitos directamente pelos pipe-lines aos barcos atracados, Dacar tinha em 1988, para fornecimentos ao largo, três lanchas-cisternas de 2:500 toneladas cada e mais cinco de capacidades variando de 500 a 1:450 toneladas.
Em S. Vicente temos apenas quatro lanchas de 400, três de 350 e duas de 150 toneladas.
O mal está em que não nos tem sido fácil fazer compreender que se não trata de construir um porto, mas tão-somente de apetrechar um porto que possuímos com admiráveis condições numa posição invejável e que é um crime conservar no seu estado primitivo sem lho proporcionar o necessário apetrechamento para que desempenhe a função que naturalmente lho está designada.
Trata-se, sem dúvida, de um empreendimento importante e dispendioso, mas que não pode causar receios a um Governo que tem realizado muitos outros de maior envergadura, nem sempre de tão grande projecção na vida nacional.
Trata-se de garantir ao arquipélago de Cabo Verde condições de vida desafogada que até agora, infelizmente, não teve.
Uma produção regular e crescente só será possível em Cabo Verde quando o apetrechamento do porto, atraindo a navegação, lhe garantir uma colocação segura e remuneradora.
Em matéria de economia portuária é princípio indiscutível de que é o desenvolvimento de um porto que promove o desenvolvimento do tráfego.
Assim sucedeu nas Canárias, assim aconteceu em Dacar, onde, como se lê no número do Jornal da la Marine Márchande a ele dedicado, "foi o porto que fez nascer a cidade o foi o mais poderoso estimulante para a valorização do hinterlands.
O engenheiro Latinay, inspector-geral das Obras Públicas da A. 0. F., chega mesmo a afirmar:
"Nenhuma, circunstância de ordem económica impunha Dacar para ali se criar um porto, a tal ponto que um espírito esclarecido como Faidherbe julgou dever duvidar do interesse da sua escolha".
E acrescenta: "Dacar nasceu de um acto de fé, da visão profética que do seu futuro tiveram os promotores da obra que hoje simboliza tão eloquentemente o génio colonizador da França".
Das possibilidades e riquezas inexploradas de Cabo Verde têm falado aqueles que o estudaram: Pedro Alexandrino da Cunha, Travaços Valdês, Lopes de Lima e, nos nossos dias, o general João de Almeida e o engenheiro Bacelar Bebiano; dos estrangeiros, bastará citar os sábios professores alemães Friedlaender e Doelter.
Cabo Verde, porém, tem a triste sorte das pessoas obscuras, cujo nome só logra aparecer nos jornais na secção dos desastres ou na necrologia.
Efectivamente, só se fala de Cabo Verde por ocasião das crises. Passadas estas, cai no esquecimento, vão-se as atenções todas para os territórios ricos, que produzem muito, o para as regiões longínquas, que fascinam pelo seu exotismo, até que, anos volvidos, uma nova crise venha despertar o sentimento nacional e lembrar-lhe que existe, a pouca distância daqui, uma população genuinamente portuguesa, que deseja viver, trabalhar e progredir.
Sr. Presidente: o confronto do porto de S. Vicente com os portos estrangeiros vizinhos não pode ser lisonjeiro para o brio nacional. Urge por termo a esse contraste, que nos não dignifica.
E se, como afirmou o aludido engenheiro francês, Dacar nasceu de um acto de fé, é necessário que se não possa dizer que o porto de S. Vicente morreu da incompreensão e do cepticismo daqueles que tiveram nas mãos o seu destino.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Lima Faleiro: - Sr. Presidente: durante a recente interrupção dos trabalhos parlamentares produziu-se um acontecimento da mais alta transcendência que marca verdadeiramente o limiar de uma nova idade no progresso e desenvolvimento económico do País o que, pela sua enorme projecção aquém e além-fronteiras, bem merece ser celebrado nesta Assembleia Nacional.
Refiro-me inauguração no Castelo do Bode da barragem e da central eléctrica ali construídas, que permitem pôr a funcionar o primeiro escalão do aproveitamento hidroeléctrico do rio Zêzere.
O facto, pelo seu intrínseco valimento o transparente significado político, económico o social, atraia ao magnífico cenário do velho outeiro do Bode, numa luminosa o inesquecível tarde de Janeiro, além do Venerando Chefe do Estado e de Sua Eminência o Senhor Cardeal-Patriarca de Lisboa, o Governo da Nação, algumas das mais altas e representativas figuras da sociedade portuguesa, o povo humilde das imediações e milhares de curiosos e peregrinos, provenientes dos mais diversos e afastados pontos do País.
Eu disse Sr. Presidente, que a inauguração da barragem do Castelo do Bode assinala o início de um novo ciclo na vida da sociedade portuguesa.
Não contém sombra de exagero semelhante afirmação.
Se a solução do problema da electrificação nacional há-de comandar a industrialização do País, o desenvolvimento da nossa riqueza e, consequentemente, a elevação do nível de vida, do nosso povo, é fora de toda a dúvida que acaba de ser dado um passo gigantesco - ia