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328 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 71

talvez sem fatigar a Câmara, porque tem sempre interesso o conhecimento da vida e modo de ser dos homens que excederam a craveira, normal, contar com pormenores o que foi a sua actividade de sábio e de professor, os seus métodos do trabalho, a sua posição de alto prestígio nos meios cultos do seu tempo, a sua acção como chefe da escola matemática portuguesa, com larga projecção dentro o fora das Universidades, e o prazer com que aconselhava os estudiosos o lhes indicava pontos interessantes a tratar, incitando-os à investigação, apontando-lhes as belezas do cada assunto, franqueando-lhes as páginas do seu Jornal das Ciências Matemáticas e dos Anais da Academia Politécnica do Porto, tudo feito com extraordinária simplicidade o modéstia e com uma permanente e comunicativa alegria no trabalho.
Não o farei, porque não é este o lugar para isso apropriado.
Tomou já a Academia das Ciências a iniciativa de promover uma sessão destinada a consagrar a memória do que foi seu sócio de mérito.
Vai mais uma vez honrá-lo, em sessão pública, a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, à qual durante tantos anos, Gomes Teixeira deu o brilho excepcional do seu nome.
Vai também homenageá-lo a Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, onde se formou e doutorou e onde começou a sua vida de professor.
Hoje o meu propósito é apenas salientar quanto a Nação deve à sua memória. Nesse período de apagada tristeza da vida portuguesa, em que Portugal era olhado lá de fora como um pobre país em decadência, só os grandes espíritos que então viveram entre nós mostravam ao Mundo que no seio da gente portuguesa não estavam extintas as qualidades ancestrais que a tornaram grande no passado.
Teve Portugal a fortuna de, nessa época, ao lado de valorosas espadas que encheram de datas triunfais a história do nosso ultramar, lhe não faltarem grandes escritores, poetas, artistas e homens de ciência.
E quando, nas numerosas academias estrangeiras que porfiavam em o receber e premiar ou nos congressos internacionais em que tomou parte, apareciam trabalhos de Gomes Teixeira, o mundo culto deixava de sorrir e curvava-se reverente ante o prestígio intelectual do sábio português. Este é o grande penhor da dívida da Nação para com a sua memória.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E a Nação reconheceu essa dívida, prestando-lhe, ainda durante a vida, homenagens de excepcional apreço.
O seu busto de mármore e de bronze, obra do grande mestre Teixeira Lopes, foi erigido nas nossas Universidades e numa praça da sua terra.
No ano de 1900, em seguida aos triunfos que Gomes Teixeira acabava de colher na Academia Espanhola, que premiou e mandou publicar importantes memórias suas, fez a nossa Câmara dos Pares, em sessão memorável, a consagração do seu nome, como grande figura nacional.
Em Março de 1902 publicou o Diário do Governo uma portaria em que o Governo Português mandava fazer uma edição completa das suas obras, a qual veio a ser concluída em sete grandes volumes.
Não têm conta, a par disso, as altas distinções que em vida recebeu do estrangeiro e que seria impossível recordar neste momento.
O meu intuito foi somente registar a data que passou e curvar-me perante a memória de Gomes Teixeira, o que faço com o mais profundo respeito e a mais comovida saudado. Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Caetano Beirão: - Sr. Presidente: depois do nobilíssimo apelo formulado nesta Assembleia há cerca de um ano pelo ilustre Deputado João Cerveira Pinto para que se faça justiça à memória de el-rei D. Carlos, consagrando-se-lhe condigno monumento numa das praças públicas do Lisboa, a imprensa de vários matizes e de várias regiões do País, e até do Brasil, aplaudiu calorosamente a iniciativa, o que deve ter sido muito grato ao espírito do proponente e estou certo de que a todos os corações portugueses bem formados.
Há pouco tempo, o Sr. Dr. Rui de Andrade, Deputado a esta Câmara na legislatura transacta, em editorial de A Voz, solidarizava-se com a ideia, propondo que ao realizá-la se lhe dê a maior grandiosidade; e ainda hoje o Sr. Joaquim Leitão, que foi digno secretário desta Assembleia, a ela se refere desenvolvida monte, em artigo cheio de bom senso e entusiasmo.
Estas circunstâncias e o facto de se efectuar hoje a primeira sessão depois do quadragésimo terceiro aniversário do assassínio vil do grande rei-precursor e do desventurado príncipe D. Luís Filipe - cujas comemorações foram significativamente concorridas nas principais cidades do País - levaram-me a pedir a palavra a V. Ex.ª para me ocupar também do assunto.
Ao rever-se agora a distância, objectivamente, a figura do rei D. Carlos há que reconhecer que ele foi não só um dos maiores chefes de Estado da sua época, mas um dos grandes soberanos da Casa de Bragança. A tão caluniada Casa de Bragança!
Mas basta invocar quatro nomes para que a «lenda negra» se desfaça: D. João IV, D. João V, D. Miguel e D. Carlos; os dois grandes reis vencedores e os dois grandes reis vencidos.
O primeiro, vencedor pelas armas e pela diplomacia na campanha da Restauração. O segundo, vencedor na paz, cuja obra magnífica foi ainda, há pouco brilhantemente evocada por dois membros desta Assembleia: o Prof. Lopes de Almeida e o Dr. João Ameal.
D. Miguel, o defensor da genuína tradição portuguesa contra a intromissão das ideias e a ingerência estrangeiras. O grande rei que o povo português compreendeu e amou e que caiu esmagado pela «cortina de ferro» de há cento e vinte anos.
E o rei D. Carlos, vencido porque pretendeu também reagir contra os desmandos dum sistema importado, que nunca pôde nem poderia aclimatar-se em Portugal.
Depois das lutas sangrentas e das crises constantes dos primeiros anos do sistema liberal, o constitucionalismo encontrou uma certa estabilidade durante o remado de D. Luís, com o rotativismo à inglesa. Mas funcionava mal - como o reconheceu Júlio de Vilhena. Continha em si próprio o germe da sua destruição. E o reinado de D. Carlos é inaugurado com tristes presságios. O rei, apesar de muito novo, tem energia, talento, e procura vencê-los.
São as tentativas da chamada «vida nova», que caracterizam a acção pessoal do soberano naquele triste desmanchar de feira.
É o Ministério Dias Ferreira, com Oliveira Martins, são as conversas de D. Carlos com Fuschini, é a ditadura de Hintze Ribeiro de 1895 e é, finalmente, a luta do rei, a descoberto, com a chamada de João Franco ao Poder.
O dilema apresentava-se nítido, iniludível: dum lado, todo o artificialismo da engrenagem constitucional, que,