O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

84 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 115

Isto são condições muito raras em crenoterapia.
Tanto pelas suas riquezas' naturais como pela sua situação geográfica excepcional, as Furnas podem ser o bastião avançado das hidrópoles europeias.
Mas há mais apreciações de peso para provar que não dou espaço à fantasia nem corpo ao exagero:
Nas Furnas, no centro de uma antiga cratera, jorram, lado a lado, dezasseis nascentes inteira-mente diferentes, pela origem e pela natureza: umas frias, outras termais ou hipertermais; estas sulfurosas, aquelas cloretadas sódicas ou alcalinas, umas correndo em delgado fio silencioso, outras borbulhando e espalhando-se em torrente tumultuosa. Não será esta a clara demonstração da teoria de Armand Gautier sobre a origem plutónica das águas termais, que, das profundezas do Globo sobem por falhas, vizinhas umas das outras, mas distintas, até ao ponto de emergência V (Dr. Mace de Lépinay, secretário-geral da Sociedade de Hidrologia de Paris).
Se a beleza do lugar e a doçura do clima são incomparáveis, as águas termais e hipertermais ou simplesmente minerais, que se escapam das inúmeras fendas do solo, constituem um recurso terapêutico de primeira ordem.
Esta estação, pela variedade e riqueza das suas nascentes e pelas suas vantagens excepcionais, terá rapidamente o desenvolvimento que merece (Dr. Rayneau, de Clermont-Ferrand).
O foco de emergência das águas das Furnas constitui um fenómeno geológico absolutamente excepcional.
Não me recordo, no decurso das minhas numerosas viagens de estudos hidrológicos, de ter encontrado semelhante variedade de nascentes concentradas numa tão reduzida superfície. Todas as nascentes que jorram na cratera formam uma gama incomparável de águas, tanto para uso externo, como para uso interno, e lamas vulcânicas semelhantes às que se encontram em Pistyani (J. Fo-restier, de Aix-les-Bains).
O que a Natureza reparte parcimoniosamente pelos outros países do Mundo foi dado com prodigalidade às Furnas, que não constituem uma estação, mas uma policlínica termal (Dr. Antony Bes-set, de Chfitelguyon).
Deliciosamente situadas num lugar maravilhoso de majestade e de calma, as Furnas oferecem, concentradas em pequeno espaço, a mais rica, a mais diversa e talvez, pode dizer-se, a mais completa gama de nascentes naturais mineromedicinais (Dr. Pierre Courbemale, professor da Faculdade de Medicina de Lille).
Visitei as estações termais de Inglaterra, Itália, Checoslováquia e Hungria, com a Sociedade Internacional de Hidrologia Médica, e foi nas Furnas que pela primeira vez encontrei águas contendo, em proporção ponderável, um metal tão raro como o titânio.
Felizes os doentes que vêm tratar-se nesta cratera, junto .do foco misterioso deste alquimista que nas entranhas da nossa mãe Gea prepara, em segredo, estas águas e gases termais. (Dr. A. Mon-geot, membro do conselho da Sociedade Internacional de Hidrologia Médica).
Palavras sinceras -no comentário do falecido professor do Instituto de Hidrologia Dr. Armando Narciso - de alguns dos mais cotados hidrologistas da França, para os micaelenses ficarem sabendo, mais uma vez, que são donos de um tesouro imenso, que se torna necessário aproveitar.
E toda esta riqueza, Sr. Presidente, repartida por três zonas hidrológicas dominadas por crateras vulcânicas arrefecidas pelas águas quietas de três lagoas formosas.
As grandes dádivas do Céu nunca se mostram por completo aos homens.
Quem será capaz de desvendar o jogo dessas forças que trabalham noite e dia nas entranhas da ilha de S. Miguel, o milagre que se espalha à superfície, representado em «caldeiras», resfolegadouros seguros do lume recalcado e em nascentes, produto admirável de alquimia sobrenatural?
Quem será capaz de descobrir estes segredos e quem, pensando fazê-lo, não hesitará antes de os revolver e profanar ?
Pois, Sr. Presidente, a estas horas andam por lá dois estrangeiros estudando o chão, à cata dos gases que existem dentro dele, para o aproveitamento químico e de energia térmica.
Quem comissionou estes cientistas para irem a S. Miguel macular a beleza da terra com o projecto em marcha de chaminés enormes a erguer próximo ou em cima das a caldeiras B, que constituem um dos maiores e mais curiosos argumentos turísticos da ilha?
Quem sonhou isto, quem concebeu semelhante plano e passou, com ele, da teoria à realidade começada?
Quem autorizou este primeiro passo?
Dizem-me que dois micaelenses são a alma e o nervo material do cometimento, do atentado contra o património insubstituível, dado às mãos cheias pela Providência generosa.
Atentado, sim, porque os Açores são de formação vulcânica relativamente recente e todo o sistema de distribuição e equilíbrio das manifestações ainda vivas no subsolo pode alterar-se de forma irremediável e perigosa.
Atentado incompreensível, afirmo, porque as erupções, propriamente no arquipélago, contam-se desde 1444 até 1811, passando por 1638 e 1682 quanto ao vulcão das Sete Cidades, 1563 e 1652 quanto ao vulcão de Água . de Pau e 1630 quanto ao vulcão da Lagoa Seca, na ilha de S. Miguel, 1562, 1718 e 1720, na ilha do Pico, 1580 e 1808, na ilha de S. Jorge, 1672 e 1761, respectivamente, nas ilhas do Faial e Terceira, e o quadro das erupções submarinas regista as datas de 1638, 1682, 1720, 1757, 1811, 1867 e 1907, o que demonstra que a actividade vulcânica não acabou; dorme e acorda de vez em quando.
Atentado incompreensível, repito, porque, deferidos os seus propósitos, iria arruinar a riqueza hidromineral de S. Miguel, misturando e perdendo as suas nascentes mineromedicinais, que, na opinião de grandes hidrologistas, podem fazer com que as Furnas sejam o bastião avançado das hidrópoles europeias.
Não, não acredito, não quero acreditar que estejam metidos nisto dois micaelenses.
É o príncipe italiano Piero Ginori-Conti que, segundo estou informado e os próprios jornais noticiam, está presentemente, acompanhado de um engenheiro, também italiano, em S. Miguel, nas termas das Furnas e noutras regiões da ilha, a estudar, como já disse, as emanações das sulfataras.
O príncipe Conti é autor de diversas publicações sobre o aproveitamento geotérmico de Larderello, na Toscana. Mas aí as perfurações fizeram-se através de camadas geológicas de grande espessura, sedimentadas ao longo dos séculos, e em S. Miguel o aparelho vulcâ-