O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

20 DE DEZEMBRO DE 1901 87

que disse o Sr. Deputado Jacinto Ferreira, não há uma posição definida para certa qualidade de jornalistas. Dizia S. Ex.ª que não se poderiam integrar no Sindicato Nacional dos Jornalistas, por exemplo, os jornalistas desportivos e os jornalistas da província sem alterar aquela tradição?
Ora a verdade é esta: se existisse há mais tempo um sindicato nos termos do actual Sindicato dos Jornalistas, os homens mais ilustres da história da imprensa portuguesa não poderiam ser considerados jornalistas. Não seria jornalista um Rodrigues Sampaio ou um Mariano de Carvalho; não seria jornalista um Emídio Navarro, nem um Barbosa Colen, nem um Moreira de Almeida. Não seriam jornalistas, numa palavra, os maiores homens que honraram o jornalismo em Portugal.
O estatuto do Sindicato Nacional dos Jornalistas, tal como está, corresponde à diminuição duma profissão que teve realmente no nosso país os seus lauréis e que foi exercida por algumas das mais altas figuras portuguesas do século XIX para cá.
Como se pode admitir uma coisa destas?
Porque não poderia ser considerado jornalista o Dr. Alfredo Pimenta? Ou o Dr. Brito Camacho?

O Sr. Jacinto Ferreira: - O Dr. Alfredo Pimenta sempre escreveu que não era jornalista e que nunca queria ser considerado como tal.

O Orador: - Mas não há dúvida de que o foi. E Aníbal Soares, e tantos outros, para não falar senão nos mortos, que devem ser lembrados como gloriosas figuras do jornalismo português.

O Sr. Jacinto Ferreira: - Esses nunca foram jornalistas, mas sim precursores do jornalismo.

O Sr. Carlos Borges: - Foram jornalistas, e dos maiores.

O Orador: - Existe neste país um Sindicato Nacional dos Professores do Ensino Particular, que tem várias secções.
Porque não há-de também o Sindicato Nacional dos Jornalistas ter as secções que permitam incluir nelas todos quantos exercem a profissão de jornalista, e a exerçam com dignidade, embora não em jornais diários?
O jornalismo quotidiano é um, o jornalismo de semanário outro e o das províncias tem sido, muitas vezes, espelho da dignidade jornalística portuguesa.
Como é que se pode considerar que Artur Eivar, que foi incontestavelmente um dos maiores, mais vigorosos, mais cultos jornalistas do seu tempo, não tenha direito a que o seu nome figure na história da imprensa em Portugal só porque o foi principalmente na imprensa da província? Que direito há de se riscar dela o seu nome? Ou o de Homem Cristo, o extraordinário director e quase único redactor do Povo de Aveiro ?
Quero dizer daqui ao Sr. Ministro das Corporações que é indispensável que se tome realmente a peito a definição exacta e verdadeira do jornalismo e a sua reorganização em Portugal, para que se não possa dizer que quem mais dignifica tantas vexes o jornalismo em Portugal e dele vive já não pode sor considerado jornalista.
O Sr. Jacinto Ferreira: - Mas as considerações de V. Ex.ª e o que disse é que tudo isso era possível desde que fosse deliberado pela assembleia geral do Sindicato Nacional dos Jornalistas.

O Orador: - Quando se trata de resolver problemas que são de interesse de uma classe contra os interesses de outras não é às assembleias gerais que compete decidir, porque elas defendem naturalmente os seus interesses apenas, ainda que sejam os mais egoístas, mas sim ao Governo, pelo respectivo departamento.

O Sr. Carlos Moreira: - V. Ex.ª quer deixar com isso que as classes não tem voz activa?

O Sr. Jacinto Ferreira: - Essa teoria é contrária à tradição nacional.
Não há tradição sindical entre nós. E, se existem divergências entre as classes, é ao Estado que compete decidir, impondo a justiça e a harmonia.

O Sr. Mário de Figueiredo: - O que não pode é consentir-se que a profissão organize o próprio monopólio.

O Sr. Jacinto Ferreira: - O que também não pode ser é que a profissão constitua matéria deficiente.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Mas quem é que disse que ela constituia isso?

O Orador: - Sr. Presidente: depois deste diálogo, que parece esclarecedor, e tendo marcado a minha posição perante as considerações do Sr. Dr. Jacinto Ferreira, nada mais acrescentarei.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Vaz Monteiro:- Sr. Presidente: no dia 15 do corrente foi inaugurado o circuito radiotelefónico entre a metrópole e as províncias ultramarinas de Angola, S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde, por intermédio da Companhia Portuguesa Rádio Marconi.
A cerimónia inaugural foi realizada no Palácio de Belém e revestiu-se da solenidade que a importância do acto requeria, tendo a presença de S. Ex.ª o Senhor Presidente da República, dos Srs. Ministros do Ultramar e das Comunicações e de outras individualidades.
Este acontecimento de se terem estabelecido comunicações radiotelefónicas entre a metrópole e aquelas províncias de Angola, S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde é motivo para nos regozijarmos, visto que veio- suprir uma falta que muito se fazia sentir, e, assim, contribuirá também para o estreitamento das relações, que nós queremos que seja cada vez maior, entre os portugueses de aquém e de além-mar.
Mas, além do começo de execução do importante serviço radiotelefónico, passaram a entrar em vigor entre a metrópole e o ultramar e as províncias ultramarinas entre si e o estrangeiro as novas taxas resultantes do acordo adicional ao convénio entre o Estado e a Rádio Marconi que foi recentemente celebrado, de harmonia com o Decreto n.º 38:4157, de 19 de Novembro findo.
As taxas das comunicações radiotelegráficas, cujo serviço já estava a cargo da Marconi, foram sensivelmente diminuídas.
Por se terem alcançado estes benefícios públicos do abaixamento das taxas telegráficas e do estabelecimento das comunicações telefónicas entre a metrópole e o ultramar eu desejo manifestar agradecimento ao Governo, especialmente aos Srs. Ministros do Ultramar e das Comunicações, e ao mesmo tempo felicitar as populações beneficiadas dos territórios ultramarinos.
Porém, Sr. Presidente, eu devo dizer mais uma palavra relativamente à província da Guiné e ainda por motivo das comunicações radiotelefónicas.
Aquela província ultramarina não se tem poupado a satisfazer todos os encargos necessários para se realizar