92 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 115
marcar-se os condicionamentos que hão de regular as aquisições e definir o seu papel distribuidor à população civil, de modo que a esta chegue sempre o possível e nas quantidades fixadas.
No de transportes procura-se aproveitai- todos os meios e coordená-los, de modo a fazê-los marchar para pôr os homens e as coisas nos lugares próprios ao seu destino e á sua acção «com oportunidade e em todo o tempo:
Merecem os transportares o maior cuidado, porque influenciam decisivamente o labor económico e o labor militar que as desenvolve das retaguardas ás frentes de batalha.
Em tudo se verifica a preponderância que o factor económico tem na condução da guerra, sendo ele idos meios não militares o que mais influência exerce nas decisões e marcha dias operações militares e o que anais preocupa o Governo em períodos "de emergência, podendo mesmo dizer-se que o papel de mm governo de guerra é "essencialmente em papel económico.
Em compensação, os governos sentem-se aliviados de algumas preocupações que os afligem em tempo de paz, originadas no económico.
O desemprego e a luta pela melhoria das condições de vida e pelo menor esforço são as mais evidentes.
O desemprego desaparece durante a guerra, apesar de um certo número de actividades económicas terem cessado, ou atrofiado, para não se sacrificarem as indispensáveis.
As massas, que lutavam por melhorias económicas com o fim de elevarem o nível de vida e diminuírem o número de horas de trabalho, aceitam severas restrições e o aumento de esforço, colocando em primeiro lugar a honra e o prestígio da Nação.
Em tempo de paz não se encontrou ainda uma razão emotiva que leve as massas, sem reserva mental ou coacção, u estes sacrifícios, para permitir o pleno emprego dos homens. Este desandar, até certo ponto incompreensível, do sentir humano, entre o reclamar do pão e o reclamar do canhão, é mais brusco e desconcertante em certos países onde imperam doutrinas dissolventes. Contudo, os dirigentes de uma economia de guerra não devem deixar de estar atentos para que o moral não seja atingido com exageros condenáveis, procurando sempre anteceder as medidas que levem ao apertar mais um furo ao cinto com a necessária propaganda justificativa.
. Não basta, porém, dispor de homens e de material com maior ou menor abundância; é indispensável saber explorá-los e pô-los em condições de acudir às necessidades da guerra sem enfraquecer os alicerces materiais e morais da Nação.
O contacto que a proposta de lei estabelece no Conselho Superior da Mobilização Civil entre o mundo militar e o anuindo civil para o planeamento da defesa nacional é propício ao estudo e solução dos. assuntos políticos, militares e económicos que ela suscita.
Ao espírito dos militares surgirá mais claro o equilíbrio que deve manter-se entre as operações de guerra e os recursos económicos e conveniências políticas.
Ao espírito dos civis surgirão mais evidentes as particularidades que condicionam as operações militares para se executarem com êxito.
Deste ajustar de pensamentos e no atentar da evolução do progresso das ciências fornecendo novos meios sairá bem formada a concepção da defesa nacional para servir melhor as forças militares no que carecem para viver e combater em todos os lugares e circunstâncias e as necessidades da população com as restrições que a economia de guerra lhe impõe.
A defesa nacional, no seu aspecto económico, não limita as suas previsões à mobilização total de recursos paru os pôr ao serviço da Nação ameaçada; também
solicita, a actuação das forças militares para exercerem acção defensiva e ofensiva sobre objectivos económicos.
O enfraquecimento e destruição do equipamento económico de um país contam-se nas primeiras preocupações do desencadear de uma guerra, o que obriga a planear a defesa dos centros industriais, meios de comunicação e bases de reabastecimento e, logicamente, a preparar as medidas ofensivas destinadas a destruir iguais objectivos do inimigo.
Durante a última guerra, junto das grandes unidades e dos teatros de operações, foram instalados especialistas da economia e criados mesmo departamentos do, Estado encarregados exclusivamente do serviço de informação para conduzir a guerra económica. Este serviço deve estar também organizado desde o tempo de paz e permanentemente actualizado, de maneira que em todo o tempo se possa saber dos recursos naturais de cada nação, produção agrícola e industrial e sua localização e ainda as. dependências de importação, para se avaliar do seu potencial bélico e actuar sobre ele com os meios militares.
A ilustrar o valor da guerra económica temos u derrota alemã no último conflito internacional.
A Alemanha ao lançar-se na luta tinha os mais perfeitos planos de mobilização económica. Planos postos em execução mesmo antes do desencadear das operações militares. Pois, apesar disso, o seu valioso poder militar foi ferido de morte com a guerra à sua economia, no atingir dos centros industriais e vias de comunicação, destruindo instalações, perturbando a produção e dificultando o reabastecimento de matérias-primas e outros produtos indispensáveis à vida das forças armadas e ao labor das suas oficinas. Assim se compreende a luta fero desenvolvida no ataque e defesa das instalações das indústrias de guerra e das linhas de comunicações pela aviação e submarinos.
Hitler, numa das suas cartas u Mussolini, dizia:
O malogro final da nossa vitoriosa ofensiva na Líbia contra os ingleses foi na realidade devido à impossibilidade de resolver o problema dos transportes da Itália ou de Creta para Tobruk e Marsa Matruk. Conquistas militares ou ganhos conseguidos pelos nossos adversários estão por isso dependentes da capacidade destes em manterem as suas linhas de comunicação. A ameaça contra os abastecimentos há-de conduzir mais tarde ou mais cedo a uma catástrofe.
E a previsão foi certa, mas para os seus.
Da história das duas últimas guerras mundiais também devemos tirar outros ensinamentos para o planear do económico. Este tem de ser rodeado de precauções administrativas e fiscalizadoras que contrariem eficazmente o ambiente de prodigalidade que se gerar com a guerra.
Ganhar a guerra por qualquer preço, porque o inimigo tudo pagará, foi pensamento que acarretou pesadas dificuldades e tristes desilusões aos vencedores. Nas duas grandes guerras os vencidos passaram a constituir pesados encargos e motivos de prementes preocupações para os vencedores.
Não menos importante é o planear da desmobilização e readaptação da economia de guerra à vida normal.
Por isso se deve ir prevendo e providenciando no decorrer dos conflitos, de modo que, ao surgir o fim das hostilidades, a paz se possa iniciar com um curto período de transição, num ambiente de equilíbrio, para não provocar a desordem e a ruína da vida económica.
Estes simples comentários e enunciar de dados) a propósito dum grande ângulo desta proposta ide lei, forçado com brilho, objectividade e oportunidade no parecer da Câmara Corporativa, e que provocou a minha atenção