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21 DE DEZEMBRO DE 1951 101

O Orador: - Mas a data do decreto que criou o distrito de Setúbal, além de representar para os naturais daquele distrito uma saudade e ser a expressão de um valor, constitui também o reconhecer a uma política o alto sentido de querer e de fazer justiça.
É-me muito grato recordar que este acto foi praticado pelo Governo Nacional nascido do pensamento que levantou a Nação em 28 de Maio de 1926. Vinha a ser pedido lia tantos anos por todos os que viviam naquelas terras estremenhas de além-Tejo, reclamado da tribuna parlamentar, solicitado pela imprensa na sua generosa tarefa de voz do povo, baseado e justificado por reais e fortes razões iniludíveis, e só a actual situação política ouviu este clamor e prontamente fez justiça. Era então já a manca de um rumo, o sinete de uma política que os anos haviam de confirmar e consagrar- satisfação permanente e constante dos anseios justos do povo.
Julgo, Sr. Presidente, que, como Deputado que me orgulho de ter sido eleito por aquele distrito, me cabe recordar aqui os vinte e cinco anos da criação do distrito de Setúbal -as suas bodas de prata-, tão alto valor teve o facto como valorização da terra portuguesa. E julgo também que não erro ao dizer que exprimo o sentimento de todos, ao terminar estas minhas palavras, enviando aos homens simples que vivem, sofrem e labutam nas vastas terras daquele distrito o nosso voto sincero e amigo de saudação e de carinho pelo muito que têm sabido trabalhar ao serviço da Pátria comum, ao serviço de Portugal.
Tenho dito.»

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Melo Machado: - Sr. Presidente: pedi a V. Ex.ª a palavra para me referir ao abastecimento e ao preço do sulfato de cobre. Entre as matérias-primas que maior procura têm no Mundo está certamente o cobre; não é este facto de admirar se atentarmos, por exemplo, no formidável desenvolvimento que em todo o mundo tem a aplicação da electricidade.
Apenas esta explicação justificaria o aumento constante e progressivo do cobre. Acresce que este metal tem aplicação crescente em toda a indústria e uma importância particular para a agricultura, e, dentro dela, sobretudo para a viticultura.
A viticultura precisa de sulfato de cobre para tratar as doenças criptogâmicas, e a sua importância na economia do País é de tal monta que, na verdade, este problema merece algumas palavras de consideração.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No momento conturbado que vivemos a procura do cobre tem-se intensificado imenso, principalmente desde que se começou a prever a iminência de novo conflito armado; desde que começou a corrida aos armamentos, o cobre tornou-se uma matéria preciosa e cada vez mais rara.
Não há que estranhar, pois, a subida do seu preço nestes últimos anos. Assim, em 1948,1949 e 1950 o preço médio do cobre andava à roda de 12$50, com pequenas oscilações.
Simplesmente, em Junho de 1951 o preço médio do cobre estava já em 17$77 e em Dezembro de 1951, quer dizer, no momento actual, está a 32$76, preço médio.
Como VV. Ex.ªs verificam, houve uma subida vertiginosa e verdadeiramente assustadora.
Para a viticultura ter ou não ter sulfato de cobre é uma preocupação a um tempo de natureza material e moral, material porque não será possível haver vinho sem haver o sulfato e moral porque o pobre do viticultor, quando sabe, desconfia ou receia não ter sulfato para tratar as suas vinhas, vive momentos verdadeiramente angustiosos.
Ainda me recordo que no tempo da guerra, quando no meu grémio da lavoura se recebia a décima parte da quantidade do sulfato que era precisa, se juntavam imediatamente no largo fronteiro muitas centenas de pessoas que tinham vindo, chamadas por uma telegrafia que ainda não pude compreender, pressurosas, para ver se lhes cabiam alguma migalhas de sulfato de cobre. A aflição de toda aquela multidão justificava-se absolutamente, porque todos sabemos que alguns minutos bastam para se perder todo o trabalho de um ano, visto que em geral os ataques do míldio vêm geralmente quando já se efectuaram todas as grandes despesas do amanho das vinhas. Em alguns minutos se destroem as mais risonhas esperanças que estavam à vista por um ataque fulminante do míldio.
Ainda ontem a Companhia União Fabril comunicou que o preço do sulfato, que no ano passado foi de 7$, é para este ano de 12$.
É evidente que a subida de preço é uma má notícia para a viticultura, mas resta saber se havia alguma possibilidade de que a notícia e o preço anunciado fossem outros.
Como foi possível este preço? Na composição deste preço entra algum sulfato de cobre que sobejou do ano passado porque em determinada altura cessou de ser vendido. E as vendas cessaram porque, prevendo-se uma alta, se quis obstar à corrida que os viticultores estavam a fazer para se prevenirem com sulfato de cobre mais barato.
Havia, portanto, sulfato de cobre do ano passado, que sobrou, e vieram de Angola 1:500 toneladas, ao preço de 25$ por quilograma, tendo-se comprado no Chile 2:000 toneladas de chapa de cobre, ao preço de 38$38! O resultado da combinação de todos estes preços daria, porventura, um preço superior a 14$; todavia o sulfato vai vender-se a 12$.
Quero ainda dizer a VV. Ex.ªs quanto custa o sulfato de cobre nos outros países vitícolas; posso informar que em França custa 195 francos, ou seja 15&60, ao câmbio actual. Em Espanha há dois preços: no mercado livre custa 16 pesetas, no mercado condicionado 10 pesetas, mas não façam VV. Ex.ªs a conta ao câmbio de $57 a peseta. Para o espanhol a peseta tem o valor que o Governo lhe dá, ou seja 2$50..
Em Itália o preço é de 168 liras, e este, Sr. Presidente, é que eu não sei traduzir, pela simples razão de que, tendo ido a uma tabela de câmbios, verifiquei que, tanto no preço oficial como no preço livre, havia apenas um risco. Não sei portanto qual é o preço.

Uma voz: - É meio tostão!

O Orador: - Para os italianos há-de valer alguma coisa, mas não me admira que o preço em Itália possa ser mais baixo.
A E. C. A. forneceu à Itália cobre ao preço oficial de Nova Iorque, enquanto nós nada recebemos daquele organismo.
Também há, Sr. Presidente, ofertas de sulfato de cobre. Todavia não podem ser julgadas seguras. VV. Ex.ªs sabem que nestes assuntos de especulação há sempre quem ofereça o produto sem garantia, entretanto, de entrega e em quantidades tão insignificantes que não poderiam influir nos preços.
Essas ofertas são as seguintes, consoante a sua origem: americana 11$56, belga 12$56, alemã 14$64 e inglesa 11$21. Porém, Sr. Presidente, não interessava,