106 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º l06
O Orador:-O que falo é de protecção, e não me referi a essa distinção de ramos aviatórios.
O Sr. Quelhas Lima: - Os meios são diversos, a finalidade é sempre a mesma. O mar tem de ser usado à superfície porque ainda não secou, e por isso continua sendo a grande e indispensável via de comunicações. Consequentemente, a luta é -no sentido da defesa das comunicações.
O Orador:-E os submarinos?
O Sr. Quelhas Lima: - O mar pode ser. usado de todas as maneiras em tempo de guerra. A luta pelas comunicações tem de se travar sempre.
No primeiro momento da arrancada todos nós sabemos que de Leste virá uma ofensiva maciça das armas que podem usar e em que o submarino tem muitas possibilidades. O problema que há-de pôr-se por conseguinte ao Ocidente é procurar destruir a capacidade do submarino, empregando todos os esforços no sentido de sustar os seus efeitos no ataque às comunicações marítimas e outros objectivos e se poder depois passar à contra-ofensiva.
Os métodos de combate contra o submarino são os clássicos.
O Orador:-São só os de 1939?
O Sr. Quelhas Lima: - É a barragem de minas, a escolta, a cooperação total e integral entre os barcos e a aviação, que há-de proteger, quer junto à costa, quer nos pontos focais, quer no mar alto, os transportes de toda a ordem, que, mais do que nunca, são necessários à alimentação ou integral abastecimento dos exércitos.
Esta é a luta, o resto é teoria.
O mar à superfície é a grande via de comunicações entre os continentes.
Hoje a guerra é aquilo que diz o nosso Vieira: «Come tudo e tudo é necessário para a alimentar».
O Orador:-Esta minha intervenção teve o mérito de podermos receber o ensinamento de colegas tão competentes como aqueles que ouvimos, mas o problema fundamental para mim é a complementaridade da marinha na estratégia dos nossos dias.
Voltando à extensão dos domínios negativos em proveito dos domínios positivos, os mares e oceanos transformaram-se em vastíssimos mares de ninguém no man´s sea -, em que o avião e o submarino de carga passarão com mais facilidade do que outro transporte marítimo em que da ponte de comando se obstinem, escrutando o horizonte, a ordenar «a estibordo ou a bombordo tanto, governa como vai». As vedetas e os submarinos são considerados como as verdadeiras armas perigosas; assim é que à Itália foi interdita a posse destes tipos de navios e obrigada, esse é o termo, a manter dois couraçados-não íamos dizer, um pouco como desempenhando a função de guarda de um museu naval.
Na minha humilde opinião, não vai bater-se uma potência marítima contra uma continental; poderemos é ter de assistir à luta feroz de duas potências aéreas no mar de ninguém. Defesa nacional entregue a um ministro de «concentração ou de coordenação» V Nas grandes potências é um problema essencialmente técnico, no caso português é uma questão nitidamente política ou de personalidades. Na pré-guerra talvez coordenar; na guerra concentrar. O prestígio e a habilidade política da individualidade que a realizar cria uma legitimidade que de certo modo permitirá dar unidade estratégica necessária. Em mãos inábeis concentrar seria o começo de descoordenar.
Utilmente concentrar ou coordenar é esquecer a formação profissional dos componentes para os entregar numa defesa estratégica nacional muito para além da deformação técnica dos seus elementos. Exército, marinha e aviação, elementos dum todo estratégico, em que os homens que o completam devem esquecer o espírito e a formação corporativa, de olhos postos na nossa bandeira, laço sagrado que une eternamente boas vontades lusitanas. Para nós, que não pertencemos ao clube aristocrático de Yalta, muito fechado, cuja jóia mínima de entrada são cinco milhões de soldados, temos de ter uma estratégia de mobilização muito embricada, muito xadrezada nas nossas possibilidades, nos nossos compromissos, nas nossas alianças e nas neutralidade que se desenharem. A nossa mobilização económica tem de se situar no atlantismo ou no isolacionismo transcontinental, no indsorismo comino nwealthiado e no iberismo, com a conjunção atenta destes elementos- e oportunismo de neutralidade alheias, benévolas, tolerantes e agressivas. Com isto é que temos seriamente de contar para a nossa mobilização.
Com uma economia de transportes sem combustíveis próprios, com uma indústria, que se agigantou, fora das regras de prudente afastamento e dispersão, mais impulsionada por um factor urbano do que pelo estratégico, a infra-estrutura da mobilização tem sérias dificuldades estratégicas de protecção. Sem stockagens individuais, por falta do pequeno aforro, com os colectivos mal preparados, tudo dificulta a mobilização económica, que está por assim dizer inteiramente por fazer, anulando a economia e a livre disposição das forças a sua liberdade de acção e a sua segurança. Propaganda inexistente, digo praticamente inexistente, que sinta o ponto de coagulação nacional, que vigie o cumprimento das leis de simplificação, da criação de um inimigo único, do engrossamento, da desfiguração e da orquestração, como contrapropaganda do adversário, que singularmente possui e conhece essas virtualidade sociológicas de pressão. O Sr. Procurador Delgado «obsoleta» um pouco o Clawsewitz que Lenine refrescou na sua «Tetraka», que as academias soviéticas dialectizam e que fora da «cortina de ferro» os seus comentadores e tradutores lhe emprestam o próprio sentido das suas inclinações.
Pequenos senões do parecer, com a devida vénia: o problema da infra-estrutura, sobretudo quando relacionado com o problema atómico; ausência de referências ao problema monetário-cambial e aos riscos duma desvalorização; o apoucamento do contraste entre a produção socialista, com salários baixos, reduzido o standard do supérfluo no poder aquisitivo da mulher, na comparação entre a rentabilidade e lucro capitalista e o investimento socialista, perfeitamente magnetizado pela necessidade social;* a flutuação económica correspondente às diferenças térmicas da guerra fria. Enunciados de problemas que seria fastidioso, por agora, desenvolver. Para não sermos comunistas temos de ser comunitários. A produtividade americana tem de reduzir o supérfluo feminino para bater um industrialismo soviético que pode ter baixa produção, mas não está captado, um pouco, pelos caprichos de Eva, e está liberto da obsessão do lucro e da rentabilidade.
Dos dois grandes prováveis adversários vencerá aquele que impuser ao outro a forma de guerra que lhe é menos vantajosa; se a América a conseguir fixar como um problema de produção, qualitativa e quantitativa, fugindo duma guerra de efectivos, onde lhe falta a superioridade numérica e onde os seus escrúpulos a manietarão na arte de poder bater os povos contra a sua própria vontade, a vitória necessariamente sorrir-lhe-á.
Não nos esqueçamos que o atlantismo terá de se bater contra um povo que vive em plena planificação, o que