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468 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 133

que encontrou por fazer, é lícito ambicionar que o anseio angolano de irrigar as terras sequiosas do Sul da província a breve tempo será satisfeito.
Tanto o ultramar como o País inteiro esperam ansiosos, mas confiados no Governo do Estado Novo.
Desde que o nosso ilustre colega engenheiro Araújo Correia, com toda a sua autoridade de economista e financeiro que todos lhe reconhecemos, nos aponta o caminho a seguir no ultramar sobre as obras hidroagrícolas e hidroeléctricas no seu magnífico livro Estudos de Economia Aplicada - O Problema Económico Nacional, desde que o actual Subsecretário de Estado do Ultramar, engenheiro Trigo de Morais, proferiu a sua notável conferência no Instituto Superior Técnico, esquematizando pormenorizadamente aquelas obras com a sua alta competência, de que tem dado sobejas provas em tantas obras realizadas no País, e depois de Salazar ter manifestado a sua concordância com aquilo que há anos se considerou a «loucura da água», poderemos estar certos de que o aproveitamento da água se fará também no ultramar.
Não julguem VV. Ex.ªs, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que eu aponto aquela concordância de S. Ex.ª o Presidente do Conselho sem ter fundamento, ao supor que o Chefe do Governo apoia as obras hidráulicas como base de fomento.
Ao serem inauguradas pelo Chefe do Estado marechal Carmona, que neste momento lembro com respeito e a maior saudade, as obras da Barragem Salazar, na ribeira de Santa Catarina, próximo de Alcácer do Sal, a maior barragem do tipo de enrocamento construída na Europa, S. Ex.ª o Presidente do Conselho, ao agradecer o preito de homenagem que então lhe foi prestado, afirmou:

Coube a esta geração ter sentido as necessidades do seu tempo e sabido trabalhar as grandes obras de rega.

as Salazar tem apoiado e impulsionado aquelas obras tanto na metrópole como no ultramar.
Para demonstrar que assim é, referindo-me apenas ao ultramar e especialmente às grandes províncias de Angola e Moçambique, perguntarei:
Não se está a construir em Angola a barragem das Mabubas, no rio Daude, para fornecer energia eléctrica à cidade de Luanda?
Não se está a construir a barragem do Biópio, no rio Catumbela, para abastecimento de energia ao Lobito e a Benguela?
Não foi entregue recentemente o estudo completo da queda de Matala, no rio Cunene, para aproveitamento hidroeléctrico e hidroagrícola?
Não foi já posta em hasta pública a obra hidroagrícola do açude-ponte e canais sobre o rio Limpopo?
Não estão adiantados os estudos, em Moçambique, que activamente se estão a realizar para se construir a albufeira de Movene?
Creio ter assim justificado a minha afirmação do interesse de Salazar (pelas obras hidráulicas do ultramar.
E depois de concluídas estas obras então se poderá realizar uma colonização branca intensa e substancial. E pelo passo apressado com que vejo caminhão* o. realização das obras em Angola e Moçambique não me custa acreditar que em tempo não muito longínquo se possam instalar grandes núcleos de colonos agrícolas em resultado do aproveitamento das águas dos rios Cunene e Limpopo.
Também a resolução do problema da água e das pastagens para o gado bovino do Sul de Angola se me afigura que se seguirá à obra de Matala.
Ao longo da vala Mucope, situada entre os rios Cunene e Caculovar, há boas terras de pascigo, onde se poderá alimentar um milhão de bovinos durante o ano inteiro sem necessidade de os afastar para distantes paragens na época da estiagem, parca o gado não ser dizimado pela sede e pela fome.
Com o aproveitamento da água por meio de obras de hidráulica agrícola e hidráulica pastoril ficaria assim resolvido um grande problema do Sul de Angola.
A política da água é de capital importância para a vida económica e social do ultramar e é indispensável para uma colonização europeia em grande escala.
O Subsecretário de Estado do Ultramar, Sr. Engenheiro Trigo de Morais, disse-nos na já referida conferência que se poderão fixar e prosperar 75:000 famílias em Angola e Moçambique em terrenos beneficiados por obras de aproveitamento hidroagrícola e hidroeléctrico.
O Governo do Estado Novo assim o tem entendido, e por esta orientação que está a ser seguida sente-se o aplauso geral que a Nação lhe tributa.
Relativamente às bases V e VI, que atrás deixei expostas, farei apenas ligeiras considerações para me não alongar demasiadamente.
Impõe-se uma reorganização dos serviços agrícolas, florestais e pecuários com dotações suficientes e com engenheiros civis especializados em hidráulica, agrónomos, silvicultores e veterinários, todos com bastante prática, para que se possa enfrentar com êxito a colonização agrícola de milhares de famílias de trabalhadores rurais, seareiros, rendeiros ou pequenos porprietários agricultores.
Julgo necessário criar escolas práticas agro-pecuárias como a de Chivinguiro, para criar o gosto pela agricultura à mocidade do ultramar, que não sabe como há-de orientar-se na vida à procura de ocupação.
Mas convirá advertir que estas escolas deverão ter feição inteiramente (prática. E para evitar as fugas que a experiência constantemente nos aponta não se deverão equiparar ao liceu as habilitações destas escolas práticas.
No dia em que se estabelecer a equiparação certo terá que os alunos de tais escolas irão procurar emprego nas cidades, com menosprezo pelo mato e pela agricultura.
Mas já é tempo de reatar as minhas considerações acerca dos sistemas de colonização livrei e dirigida.
Antes, porém, quero frisar uma vez mais que, quer se adopte um ou outro sistema, a colonização maciça só é eficaz uma vez realizadas as obras hidráulicas.
Esta é uma verdade insofismável, incontroversa.
Ora essas obras, pelo menos nalgumas regiões, estão já a realizar-se. Em breve será necessário encontrar a solução do problema respeitante ao método de colonização.
Parece-me prudente iniciarmos já o estudo deste momentoso problema, no intuito de se formularem princípios doutrinários. Deste modo, quando chegar o momento, que visiono para breve, de se tomar uma decisão há já ideias assentes, firmes, escoradas em estudos conscienciosos.
Qual deverá ser então o sistema a adoptar?
Deveremos optar pela colonização livre ou pela dirigida?
Este é um problema vasto, profundo e melindroso e com tantas facetas a encarar que levaria muito tempo a fazer a sua apreciação.
No entanto ouso fazer algumas considerações, com o único propósito de movimentar o assunto e dele dar uma pálida ideia à Assembleia Nacional.
A colonização livre tem em seu abono a tradição. Os seus efeitos são lentos, mas seguros.