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528 DIARIO DAS SESSÕES N.º 137

Este simples e prático recorte da história real da vida portuguesa permite-me apenas chegar a estabelecer, dando um rápido salto de história, esta conclusão, aparentemente infantil, quase ingénua: a geografia física, política e económica de Portugal impôs - se de continente, metrópole insular e territórios ultramarinos, aos quais me apraz chamar hoje e sempre pátrias portuguesas de além-mar.
Esta verdade geográfica, que constitui o imperativo inamovível da soberania, da independência de Portugal, impõe e condiciona em plano de primeira grandeza toda a forja das acções e do pensamento público, e até particular, no complexo dos problemas internos e externos da Nação.

Se o mau deu a vitória à nação portuguesa sobre si própria, não poderá ser jamais considerado, em nenhum tempo, como elemento (natural masjestático e imponente, interpondo-se como fatalidade arreliadora para, separar ou desunir as nossas terras, mas como agente salvador e abençoado para unir os Portugueses de todos os quadrantes e essencialmente aqueles que nas várias modalidades públicas - colonos, devassadores da selva, e simples bandeirantes- trabalham e lutam nas pátrias portuguesas de além-mar.

As estradas do mar abertas pelos Portugueses são o único veículo a utilizar, exceptuando, claro, a revolucionária conquista do espaço aéreo, agente natural susceptível de promover unia nova concepção na vida dos povos, para fundir num só cadinho, amalgamar num mesmo sentido e anseio de viver, promover em torno duma só bandeira o liame forte dos interesses vitais dos Portugueses espalhados por todos os cantos da Terra, e assim criar e desenvolver a expressão imperecível da verdadeira lusitanidade e ao mesmo tempo mantê-la como valor real e ponderável na comunidade universal dos povos.

E então que será necessário fazer para ir ao encontro das realidades da nossa geografia política e económica ?

Como para caminhar através do mar navegar este só consente navios ou engenhos flutuantes similares, e como os homens ainda não estão autorizados a transplantar os continentes nem a secar os grandes mares e ainda bem!- necessário se torna que nos acomodemos como outrora e aceitemos a majestade da natureza e a omnipotência de Deus, e assim cumprir as suas altíssimas e irrevogáveis criações e determinações.

E o que é que vemos concretamente?

Ainda um pouco de história:

Com o dealbar do século XIX dois factos essenciais vieram acelerar verticalmente a quebra que vinha de mais em mais a manifestar-se nas actividades marítimas portuguesas.

Por um lado, as invasões napoleónicas, com o seu ulterior cortejo de querelas e dissenções políticas internas, deslocam o centro de gravidade da nossa vida marítima, e, por outro, o advento da máquina a vapor, por impreparação ou inconveniente adaptação técnica, provoca o seu aniquilamento.

Eu não sei se se verifica com este desastre o regresso dos Portugueses ao vício da terra; o que se extrai dos factos é o colapso da política ao mar.
E mais adiante disse:

Se se fosse a admitir como ponto assente ou regra aceite o princípio renunciador de que não vale
a pena lutar para desenvolver no consciente da Nação a necessidade de uma frota mercante nacional, obedecendo às regras modernas e necessárias de exploração comercial económica, porque é possível evitar o sacrifício, as canseiras e o trabalho para a obter, e desta forma entregar quase completamente às marinhas estrangeiras os labores do nosso comércio, pergunta-se: haverá de facto muitas indústrias em terra nossa de que as nações ricas de matérias-primas não nos possam oferecer em condições vantajosas os produtos manufacturados que correspondem ao objectivo dessas indústrias?

Onde se ia parar com tal concepção ?

Parece-me, Sr. Presidente e STB. Deputados, que há que arrancar com prudência, com zelo e forte determinação para criar no consciente público e particular consciente na Nação a necessidade de promover a restauração, o desenvolvimento da frota mercante nacional no quadro parcelar das actividades do mar, da política do mar.

Terminei dizendo:

Em suma, a política do mar não se opõe ao santo vício da terra, antes se completam e entrelaçam como a maior verdade que a história da nossa terra impõe e exalta.
(Do Diário das Sessões de 2 de Abril de 1943).

Era aquele tempo, Sr. Presidente e Srs. Deputados, em que o abastecimento do País estava quase exclusivamente entregue aos nossos «patuleias», que puxavam, com o sacrifício valoroso dos seus homens até aos «gomes» das suas possibilidades.

Era ainda aquele tempo em que aqui e além começavam a aparecer manchas, embora reduzidas, de clorose nos corpos e correspondente astenia nas almas.
Afinal, Sr. Presidente e Srs. Deputados, pequena paga diante da magistral, redentora neutralidade, tão pre-destinadamente concebida e defendida.

Em sessão de 14 de Março de 1946 da Assembleia Nacional, aquando do clamoroso debate resultante de um aviso prévio sobre marinha mercante, após a publicação do já celebrado despacho n.º 100 do ilustre e terrivelmente silencioso titular da pasta da Marinha, mas que parece agora começar a virar de querena nesse respeitável! modo de ser, esquematizando o programa da reconstituição da frota de comércio, tive oportunidade de retomar com vivacidade, vigor e até algum azedume aquela mesma ordem de considerações, dominado então exclusivamente pelo sentimento de que mão era tempo de apurarmos excessivamente pormenores ou .preciosismos1 administrativos, pois o tempo e a experiência iriam corrigindo este ou aquele ponto, imperfeições ou factos imprevisíveis, quando estávamos encarando uma autêntica e majestosa revolução nos nossos destinos, metendo-nos ao rumo da vitória.

Não toco mais veste momento emocional vivido na Assembleia, por motivos facilmente compreensíveis».

O vitorioso, chamemo-lhe triunfal, lançamento da política do mar, pela criação dessa frota de comércio moderna a pesca segue-se-lhe na esteira, com o mesmo ritmo renovador, sacudindo-a de um mortal colapso que desde longa data vinha sofrendo, embora com tentativas esforçadas aqui e além, para desaparecerem a seguir, sem rasto de continuidade, só veio encontrar significado real, estrondoso êxito, no momento político actual, onde se agiganta de forma dominadora, como príncipe na. sabedoria, o Chefe ,do Governo.
Vozes: - Muito bem!